"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Liberdade em Sartre (Parte 12/14)

Uma das diferenças entre o humanismo apregoado pelo existencialismo está no fato de que há uma universalidade humana que é uma construção do próprio homem, contrária a afirmação de uma essência humana já que a mesma entende-se como algo dado, pronto e sempre o mesmo.

Segundo Sartre, “(...) dizer que nós inventamos os valores não significa outra coisa senão que a vida não tem sentido a priori. Antes de alguém viver, a vida, em si mesma, não é nada; é quem a vive que deve dar-lhe um sentido; e o valor nada mais é do que esse sentido escolhido. Por constatar-se, assim, que é possível criar uma comunidade humana. (Sartre, 1987, p. 21)

Por não haver valores estabelecidos, o homem pode inventá-los, e, ao fazê-lo, atribui sentido à própria vida. O humanismo do qual fala o existencialismo é o que permite que os homens por meio da invenção de valores criem a comunidade humana. Deve-se destacar o fato de que não há um modelo ou meta pré-determinada, mas se dá por meio da própria ação dos homens. É com essa preocupação que Sartre afirma que:

(...) não podemos admitir que um homem possa julgar o homem. O existencialismo dispensa-o de todo e qualquer juízo desse tipo: o existencialismo não colocará nunca o homem como meta, pois ele está sempre por fazer. E não devemos acreditar que existe uma humanidade à qual possamos nos devotar, tal como fez Auguste Comte. O culto da humanidade conduz a um humanismo fechado sobre si mesmo, como o de Comte, e, temos de admití-lo, ao fascismo. Este é um humanismo que recusamos. (SARTRE, 1987, p. 21)

A afirmação sartreana: “(...) o homem é liberdade”, depara-se com o humanismo proposto pelo existencialismo que entende que o homem não pode ser colocado como meta. É por isso, que mesmo havendo a meta, para os demais humanismos, Sartre a rejeita pelo fato de entender que é por meio de sua ação – engajamento, o homem torna-se homem.
Nesse sentido, o existencialismo aponta para um novo humanismo.
Também por entender que o homem não é uma meta, é impossível, para Sartre, admitir que o homem possa julgar o homem. Quando recusou o Prêmio Nobel de Literatura, o fez por entender que ninguém poderia valorar, ou seja, julgar a sua obra. Para o existencialismo o humanismo está dado na realização da própria vida, onde por meio das escolhas e diante das circunstâncias e condições o homem realiza sua existência através da liberdade.

Adiamento

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse dito frases que só agora, no meio-sono, elaboro –
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria indiscutivelmente levado a ser outro também.
(PESSOA, 1994, p. 371)


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