"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Liberdade em Sartre (Parte 14/14)


O Individualismo, que ao valorizar o indivíduo gerou alguns desvios por absolutizá-lo. Também, a crença no progresso e no desenvolvimento tecnológico, pois não se pode admitir a idéia de progresso em relação aos seres humanos, já que com isso os antepassados seriam sempre considerados como menos que os hodiernos. A tecnologia deve ser analisada no contexto de interesses que perpassam as relações sociais. É sempre bom perguntar-se: se é bom, o é para quem?
É com essa preocupação e entendendo a questão ética no contexto mais amplo, que Boaventura alerta para o fato de que o paradigma científico moderno precisa ser superado, e que o mesmo habita nossas crenças, pois pensamos a ética, a economia, a ecologia, a religião e a própria filosofia na perspectiva desse paradigma.
Boaventura ressalta que “(...) o princípio da responsabilidade a instituir não pode assentar em seqüências lineares, pois vivemos numa época em que é cada vez mais difícil determinar quem são os agentes, quais as ações e quais as conseqüências”. (SANTOS, 2001, p. 111)
Quando fala em seqüências lineares, Boaventura atenta para o fato de que de acordo com o paradigma moderno as relações de causa-efeito, convencionaram um pensar linear que também é preciso ser superado. Para constatar isso, basta assistir um filme ou novela de televisão e observar a seqüência linear com a qual são elaborados. E quando fogem do padrão linear, geralmente é comum achá-los sem graça e desinteressantes.
O princípio da responsabilidade, que propõe Santos, deve pautar-se “(...) na preocupação ou cuidado que nos coloca no centro de tudo o que acontece e nos torna responsáveis pelo outro, seja ele um ser humano, um grupo social, a natureza, etc., esse outro inscreve-se simultaneamente na nossa contemporaneidade e no futuro cuja possibilidade de existência temos de garantir no presente”. (SANTOS, 2001, p. 112)
Ao falar de princípio de responsabilidade, pressupõe-se o cuidado que é preciso que se tenha com o outro. Isto pelo fato de que tal preocupação não está ainda presente em nossas crenças, pois, devido ao individualismo e ao próprio antropocentrismo, educa-se para o pensar de forma egoísta e imediatista, o que impede o preocupar-se com o outro e, sobretudo, com o que esteja além de si mesmo: o tempo e o meio.
É preciso ter claro que a análise que faz Boaventura Souza Santos do paradigma científico moderno e da necessidade de superá-lo aponta para um novo paradigma. Assim como o paradigma moderno trás consigo não apenas uma concepção de ciência, mas de homem, conhecimento, sociedade, moral, etc. Porém é algo que se constrói a partir de ações concretas dos homens, que como pressupõe Sartre, fazem a si mesmo, com o desafio de não haver valores a priori e o peso de responderem por suas ações, diante das quais lhes pesam responsabilidade.

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