"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

A Democracia em Questão (Parte 01/14)

Que política pode resultar de uma sociedade que se fundamenta no individualismo egoísta e possessivo?

Salvador Dali. Metamorfose de Narciso, 1937.
Óleo sobre tela - 50,8 X 78,3 cm.
Tate Gallery, Londres.

Comecemos com uma constatação: as sociedades com regimes democráticos são exceções na história da humanidade. Por mais que sejamos suficientemente tolerantes quanto ao conceito de democracia, é preciso reconhecer que da sua invenção, por volta do século V a.C. em Atenas, até o século XIX, é possível contar nos dedos os períodos e os lugares onde ela existiu.
 
Por outro lado, é necessário reconhecer que a partir do século XX a democracia propagou-se em escala mundial, e são vistos com muita estranheza os países com práticas políticas e regimes de governo não democráticos.

Em contrapartida, não se pode deixar de considerar um aspecto fundamental para a nossa investigação: o que entendemos e aceitamos como democracia hoje pouco tem a ver com a democracia inventada e praticada pelos atenienses da Antigüidade.

Nosso objetivo é examinar alguns aspectos que acreditamos ser essenciais nas principais concepções modernas e contemporâneas de democracia (concepção liberal; a crítica de Marx e a concepção republicana), assumindo como pressuposto o fato de que a concepção liberal é hegemônica em nossos dias.

Mas, por que o individualismo pode ser um problema para a constituição de uma sociedade democrática? Não seria, o individualismo, a grande marca da modernidade? Não seria pela via da absoluta autonomia do indivíduo que poderíamos alcançar a liberdade política?

Para responder estas questões, é necessário colocar a democracia contemporânea sob análise e, nesse exercício de pensamento, tornar possível a construção de outros sentidos que possam superar aqueles que o senso comum nos oferece de imediato, geralmente derivados da aceitação tácita de uma democracia meramente formal ou mesmo de uma espécie de niilismo político, ambos caracterizados como sucedâneos fraudulentos do ideal democrático.

Texto produzido por Jairo Marçal para a Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

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