"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

A Democracia em Questão (Parte 07/14)


Sobre Marx e o Marxismo

Marx, ao perceber que já contava com alguns seguidores de tendências dogmáticas, que começavam a cristalizar e divinizar o seu pensamento e fazer da sua filosofia uma espécie de religião, portanto, pouco afeitos à dialética, ironizou ao seu melhor estilo, que se aquelas pessoas eram marxistas, então ele próprio não era marxista.

Mas afinal, o que é o marxismo? É comum observarmos utilizações indiscriminadas do termo marxismo, de forma que tais utilizações, intencionais ou não, edificantes ou pejorativas, acabam tornando-se fontes de preconceitos, mitos e confusões que criam dificuldades adicionais e comprometedoras no estudo da obra de Marx. Contra esse contexto, o filósofo francês Michel Henry escreveu, com ironia, sobre a necessidade de uma leitura revolucionária de Marx, no sentido da superação da ignorância de sua obra e em busca de realidades perdidas, chegando a afirmar que “o marxismo é o conjunto dos contra-sensos sobre Marx” (HENRY, M. 1976, p. 9).

Para evitarmos confusões acerca do termo marxismo, vamos compreender um pouco da sua amplitude e complexidade:

Entendeu-se por “marxismo”:

(I) O pensamento de Marx, seja tomado em seu conjunto, ou sob o aspecto de sua evolução total, ou visando principalmente alguma de suas “fases”. Este pensamento inclui um método, uma série de pressupostos, um conjunto de idéias de tipos muito diversos e numerosas regras de aplicação, tanto teóricas como práticas;

(II) Um grupo de doutrinas filosóficas, sociais, econômicas, políticas, etc. fundadas numa interpretação do marxismo e tendendo à sua sistematização. Este grupo de doutrinas tomou forma definida em Engels e foi transformado por Lênin, dando origem mais tarde ao chamado “marxismo ortodoxo”;

(III) Uma variadíssima série de interpretações, procedentes de diversas épocas e formadas segundo tradições, temperamentos, circunstâncias históricas distintos etc. Podem ser incluídas neste item as interpretações de Marx que não se cristalizaram na forma mais ou menos monolítica que o marxismo adotou depois de Lênin na União Soviética; as interpretações de Marx que proliferaram uma vez rompido o marxismo ortodoxo antes citado; as que receberam o nome de “marxismo ocidental”; a prática do marxismo no pensamento de Mao-Tsé-Tung; as tentativas de revivificação do marxismo com base no retorno às fontes etc. Em alguns casos foram denominados “marxismo” os métodos, doutrinas e ideais políticos adotados em vários países e por numerosos grupos na época da luta contra o imperialismo e o colonialismo, tendo-se inclusive dado o nome de “marxismo” a todo programa político revolucionário. Evidentemente, recorreu-se ao marxismo de modo tão indiscriminado que com freqüência o termo ‘marxismo’ perdeu seu significado. Entretanto, não há dúvida de que o marxismo é um rio caudaloso, ao mesmo tempo ideológico e prático, capaz de diversificar-se de forma considerável e de suscitar constantes renascimentos e revivificações. Dicionário de Filosofia Ferrater Mora, tomo III. pág. 1879 -1880.

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