"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Aristóteles (Parte 06/09)


A ESCADA DA NATUREZA - (Páginas 129-131.)

No seu projeto de “colocar ordem” na vida, Aristóteles chama a atenção primeiramente para o fato de que tudo o que ocorre na natureza pode ser dividido em dois grupos principais. De um lado, temos as coisas inanimadas tais como pedras, gotas de água e torrões de terra. Essas coisas não encerram em si uma potencialidade de transformação. Segundo Aristóteles, elas só podem se transformar sob a ação de agentes externos. De outro lado, temos as criaturas vivas, que possuem dentro de si uma potencialidade de transformação.
Para Aristóteles, a natureza progride paulatinamente das coisas inanimadas para as criaturas vivas. Ao reino das coisas inanimadas segue-se primeiramente o reino das plantas, que, “em relação ao reino das coisas inanimadas, parece quase animado, e em relação ao reino dos animais parece quase inanimado”. Finalmente, Aristóteles divide o reino das criaturas vivas em dois subgrupos, o dos animais e o do homem.
Não podemos deixar de reconhecer que esta divisão, apesar da nítida insegurança em relação às plantas, é clara e simples. Há uma grande diferença entre as coisas vivas e as não vivas. Também entre as plantas e os animais existe uma enorme diferença; por exemplo, entre uma rosa e um cavalo. E também quero dizer que há uma grande diferença entre um cavalo e um homem. Mas onde estão exatamente essas diferenças? Será que você é capaz de me responder?
Infelizmente não tenho tempo de esperar que você escreva a sua resposta e a coloque num envelope cor-de-rosa junto com um torrão de açúcar [P. 75: “No momento seguinte, um enorme cão labrador entrou no esconderijo vindo do lado da floresta. Na boca ele trazia um grande envelope amarelo, que deixou cair aos pés de Sofia. (…) Aquele era o mensageiro! Sofia respirou aliviada. Por isso é que as bordas dos envelopes estavam sempre úmidas. Por isso, também, é que os envelopes tinham aquelas marcas. Marcas de dentes, agora ela sabia. Como ela não tinha pensado nisso antes? Agora sim fazia sentido a orientação que o filósofo lhe dera de colocar no envelope um docinho ou um torrão de açúcar quando quisesse mandar uma carta para ele.”]. Por isso prefiro responder eu mesmo e agora. Quando Aristóteles divide os fenômenos da natureza em diferentes grupos, ele parte das características das coisas; melhor dizendo, daquilo que elas são capazes ou daquilo que elas fazem.
Tudo o que vive (plantas, animais e pessoas) tem a capacidade de se alimentar, crescer e se multiplicar. Os animais e os homens têm, além disso, a capacidade de perceber o mundo que os cerca e de se locomover na natureza. E todas as pessoas têm, somada a tudo isto, a capacidade de pensar – ou melhor, a capacidade de ordenar suas impressões sensoriais em diferentes grupos e classes.
Desta forma, não existem na natureza divisões realmente estanques. Podemos perceber uma transição gradual de vegetais simples para plantas mais complexas, de animais simples para animais mais complexos. Bem no alto desta “escada” está o homem, que, para Aristóteles, vive a plenitude da vida da natureza. O homem cresce e se alimenta como as plantas, tem sentimentos e capacidade de locomoção como os animais, mas possui além de tudo isto uma característica muito especial, que só ele tem: a capacidade de pensar racionalmente.
Por isso, Sofia, o homem possui uma centelha da razão divina. Isso mesmo… eu disse “divina”. Em algumas passagens, Aristóteles explica que deve haver um Deus que colocou em marcha todos os movimentos da natureza. E, assim, Deus passa a assumir o cume absoluto da escada da natureza.
Para Aristóteles, os movimentos das estrelas e dos planetas comandavam os movimentos aqui na Terra. Mas devia haver alguma coisa que fazia os corpos celestes se movimentarem. Esta coisa Aristóteles chamava de o primeiro impulsor, ou Deus. Este primeiro impulsor não se movimenta, mas é a causa primordial de todos os movimentos dos corpos celestes e, por conseqüência, dos movimentos na natureza.

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