"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O desafio do Islã – a doutrina e o legado muçulmano (Parte 02/06)


Os Cinco Pilares da Fé

Cinco preceitos norteiam o comportamento religioso muçulmano:
- Shahadah (Declaração da Fé);
- Salat (Prece Ritual);
- Zakat (Caridade);
- Sawm (Jejum);
- Hajj (Peregrinação a Meca).

Observemos melhor cada um deles:

Shahadah (Declaração da Fé) - Afirmação fundamental do Islã, a Shahadah compõe-se de duas frases curtas: "Não há deus senão Deus. Muhammad é o mensageiro de Deus". Qualquer indivíduo que a repita por três vezes, com sinceridade, diante de testemunhas, pode ser considerado muçulmano. Como ocorre com outras fórmulas religiosas, sua aparente simplicidade encobre, porém, múltiplas camadas de significado. Em uma leitura superficial, a primeira frase ("Não há deus senão Deus") resume-se à negação do politeísmo (os deuses) e à afirmação do monoteísmo (Deus). Mas os sufis, os grandes místicos muçulmanos, atribuem-lhe conotações muito mais profundas. De seu ponto de vista, ela poderia ser lida como "Não há ser senão o Ser" ou "Não há realidade senão a Realidade". Isso equivaleria a dizer que não apenas existe um só Deus, mas que só Deus existe. E que todo o universo, com sua incrível multiplicidade de entes, repousa sobre uma unidade fundamental, pois é uma teofania ou manifestação divina.

Salat (Prece Ritual) - Os muçulmanos sunitas rezam cinco vezes por dia: antes do nascer do sol; ao meio-dia; no final da tarde; após o pôr do sol; e entre o pôr do sol e a meia-noite. Os muçulmanos xiitas adotam uma forma mais compacta, condensando as cinco preces em três. Tanto em um caso como no outro, porém, as preces são consideradas as atividades mais importantes do dia, conferindo-lhe ritmo e sentido. É o momento em que cada indivíduo deve buscar íntimo contato com Deus e com as outras pessoas que rezam na mesma hora. Abluções purificadores precedem a oração e uma complexa movimentação corporal acompanha cada uma de suas etapas. Porém o mais importante é a sinceridade, que se manifesta na perfeita sintonia entre pensamento, sentimento, palavra e ação. O fiel deve rezar como se estivesse na presença de Deus: não para obter benefícios pessoais, mas tão somente para glorificar seu Criador.

Zakat (Caridade) - O Zakat é a doação que se deve fazer de uma parte da riqueza pessoal. Destinada a beneficiar os pobres, a doação é uma prática compulsória e sistemática. A taxa estabelecida para valores em dinheiro, ouro, prata e itens comerciais é de 2,5% ao ano. Há outras porcentagens para produtos agropecuários e minerais. Com a óbvia finalidade de atenuar as desigualdades sociais e a moderar o excessivo apego humano às riquezas materiais, a caridade possui, além disso, um profundo significado espiritual, lembrando ao indivíduo que toda a riqueza vem de Deus e a ele retorna. E que, sendo todos os seres humanos intrinsecamente iguais, se a vontade divina determinou que desempenhássemos no drama da vida o papel de ricos, é nosso dever ajudar aqueles que foram escolhidos para representar o papel de pobres.

Sawm (Jejum) - O jejum muçulmano estende-se por todo o mês lunar de Ramadan, o nono do calendário islâmico. Nesse período do ano, dedicado à intensificação da conexão espiritual, todo muçulmano adulto deve, desde o nascer até o pôr do sol, abster-se de consumir alimentos ou bebidas de qualquer espécie; fumar, mesmo que passivamente; ter relações sexuais. As crianças menores de 12 anos, as mulheres grávidas ou menstruadas, os doentes e os muito idosos são liberados dessa obrigação. Destinada a fortalecer a auto-disciplina, a abstinência engloba também os maus pensamentos e as más ações. Após o pôr do sol, findo o período do jejum, uma substanciosa refeição oferece a oportunidade para a confraternização familiar ou social.

Hajj (Peregrinação) - O quinto preceito do Islã estabelece que todo muçulmano adulto e fisicamente hábil deve, na medida de suas possibilidades, realizar ao menos uma peregrinação à Meca durante a vida. O Hajj já era uma prática religiosa na Arábia pré-islâmica e a tribo do profeta Muhammad - notadamente seu remoto ancestral Qusayy e seu avô Abdul Muttalib - estava profundamente comprometida com a guarda do Santuário. Como ocorre em outras tradições religiosas, a peregrinação aos lugares santos é entendida no islamismo como uma oportunidade de radical mudança de vida e profunda renovação espiritual.

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