"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O desafio do Islã - a origem (Parte 02/07)

Alá (Allah) em árabe

A origem - De acordo com a tradição árabe, que agrega ao nome do indivíduo os nomes do pai, do avô, do bisavô e da tribo, o profeta do Islã chamava-se Abulqassim Muhammad ibn Abdallah ibn Abdul Muttalib ibn Hashim al Quraysh. Seu nome próprio, Muhammad, significa "o Extremamente Louvado". Uma corruptela dessa palavra resultou na forma aportuguesada Maomé. Nascido em Meca, a mais politeísta das antigas cidades árabes, ele resgatou e aprofundou a tradição monoteísta do judaísmo e do cristianismo. Analfabeto, transmitiu o Corão, um livro que é considerado a palavra de Deus. Criado em uma sociedade tribal, sem unidade política, lançou as bases de uma civilização que se estendeu da Península Ibérica às fronteiras da China e mudou os rumos da história humana.
Os historiadores muçulmanos divergem quanto à data exata de seu nascimento. Recorrendo até mesmo a argumentos astrológicos, uns propõem o dia 22 e outros 25 de abril de 571 d.C. Muhammad era descendente em linha direta do grande Qusayy, chefe da tribo dos Quraysh, responsável pela sedentarização da população de Meca, ao ordenar que seus comandados edificassem casas, em lugar de tendas, ao redor da Caaba. Seu avô, Abdul Muttalib, foi outro líder notável, guardião do Santuário e encarregado de recepcionar os peregrinos que acorriam à cidade. O nascimento do menino ocorreu dois meses depois da morte de seu pai, Abdallah. A mãe, Âmina, amamentou-o nos primeiros meses de vida. Depois, como era hábito na tribo dos Quraysh, ele foi entregue aos cuidados de uma ama, para ser criado em uma aldeia do deserto, longe do burburinho da cidade. Halima era o nome dessa ama e Muhammad permaneceu em sua companhia até os cinco anos de idade. Mais tarde, atribuiu seu excepcional domínio da língua árabe a essa estadia no deserto, onde os beduínos cultivavam a pureza do idioma. Voltou para casa poucos meses antes de sua mãe morrer.
Órfão de pai e mãe e tendo perdido também o avô, Muhammad foi criado por um tio paterno, Abu Talib, homem pobre, porém afetuoso. Para ajudar nas despesas, começou a trabalhar muito cedo, dedicando-se ao pastoreio de animais. Imprópria para a agricultura, devido à aridez do solo, e sem um artesanato expressivo, Meca destacava-se como centro comercial. Duas caravanas partiam anualmente da cidade: uma para a Síria, no verão, e outra para o Iêmen, no inverno. Abu Talib participava desse negócio e, com 12 anos, Muhammad o acompanhou em uma viagem à Síria. Ocorreu, então, um fato marcante em sua biografia. Na cidade síria de Busra (não confundir com Basra, no Iraque), o menino encontrou-se com o monge cristão Bahira, que reconheceu nele o dom da profecia. Orientalistas cristãos atribuem a Bahira e ao ambiente cultural sírio a influência que levou Muhammad ao monoteísmo. Essa hipótese é contestada, porém, pelos historiadores muçulmanos.
Apesar de seu espírito contemplativo, Muhammad pouco se diferenciou, na juventude, de seus contemporâneos. Seguindo a tradição familiar, adotou a profissão de comerciante. Os biógrafos destacam sua honestidade nos negócios e a fidelidade que demonstrava à palavra empenhada. Em um contexto tribal orgulhoso, no qual os ânimos ferviam pelo menor motivo e uma pequena briga logo se transformava em guerra, ele parece ter-se caracterizado pelo equilíbrio e pela moderação. Um fato altamente significativo foi seu casamento com Khadija. Duas vezes viúva e mãe de vários filhos, Khadija bint Khuwailid bint Assad bint Abdul Uzza bint Qusayy era uma mercadora muito rica e respeitada. Tinha cerca de 40 anos quando desposou Muhammad. E ele, apenas 25. Apesar do patriarcalismo da sociedade árabe, essa mulher exerceu enorme influência em sua vida. Foi confidente, conselheira e, anos mais tarde, sua primeira discípula. Entregou-lhe o comando de todos os seus negócios e proporcionou-lhe o conforto material que lhe permitiu dedicar-se mais intensamente às questões espirituais.
Muhammad e Khadija permaneceram juntos durante 25 anos e, enquanto ela viveu, ele não teve outra esposa. Depois de sua morte, desposou 10 mulheres e teve numerosas concubinas. A bela e inteligente Aisha - que ao se casar com o profeta era ainda uma menina, às voltas com seus brinquedos - foi a mais influente e parece ter desempenhado um papel decisivo no estabelecimento dos costumes muçulmanos. De sua união com Khadija, nasceram-lhe sete filhos: três meninos, que morreram na infância, e quatro meninas, três das quais faleceram no tempo em que ele ainda vivia. Fátima, a única sobrevivente, foi a filha por meio da qual se estabeleceu sua descendência, já que um outro filho que teve em idade avançada, fruto de seu casamento com Maria, a Copta, também morreu antes de completar dois anos.
Segundo a descrição feita por Ali, primo, genro e um dos sucessores do profeta, Muhammad era, em sua maturidade, um homem de estatura mediana, bonito de rosto, com cabelos muito pretos que lhe chegavam aos ombros, barba espessa, sobrancelhas grossas e pestanas longas. Seus grandes olhos negros contrastavam com a pele clara e ressaltavam ainda mais sua aparência contemplativa.

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