"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

China Imperial (Parte 03/04)

Ilustração de Yim Wing Chun

Na ausência de obrigações feudais surge, na China imperial, controlada pela dinastia Manchu, a questão de se saber como a classe de proprietários fundiários conseguia obrigar os camponeses a trabalharem na terra. De acordo com estudiosos do período, o trabalho dos camponeses era baseado em contratos de arrendamento de tipo capitalista. Evidentemente, havia variações regionais, mas pode-se dizer que na maioria das zonas agrícolas o proprietário fundiário fornecia a terra e os camponeses, a mão-de-obra.
Sabe-se que, por volta de 1810, cerca de 80% das terras cultivadas na China estavam em poder da classe dos grandes senhores fundiários e o restante, 20%, pertencia aos camponeses. A colheita era dividida entre ambos e ao que tudo indica a troca em espécie prevalecia até mesmo nos pagamentos de impostos devidos ao imperador.

Superpopulação de camponeses

A existência de uma superpopulação de camponeses interessava diretamente aos senhores proprietários fundiários, pois facilitava o arrendamento das terras através de um maior grau de extração de excedente econômico. Ou seja, num contexto social de superpopulação, a competição entre os camponeses diante da necessidade de prover o próprio sustento levava-os a trabalhar nas terras por níveis cada vez mais baixos de remuneração (neste caso, a porção de alimento produzido).
As pressões da grande massa de camponeses sobre as terras cultiváveis aumentaram consideravelmente no final do século 18 e se agravaram nas décadas seguintes, transformando-se num fator importante a contribuir para minar a estrutura social.

Urbanização e industrialização

A urbanização e a industrialização ocorreram tardiamente na China. O sistema imperial, em particular a burocracia administrativa, impediu o quanto pôde a modernização do país, evitando a adoção da agricultura comercial, o surgimento de uma burguesia comercial e núcleos urbanos autônomos capazes de contrapor-se aos grandes proprietários fundiários (como ocorreu na Europa Ocidental na última fase do feudalismo).
Avanços na urbanização e industrialização começaram a ganhar fôlego no final do século 18 diante de dois processos concomitantes: a decadência da máquina administrativa imperial e as pressões externas provenientes das nações européias ocidentais, que tinham interesses militares e comerciais na China.
O domínio tradicional da classe culta de funcionários-intelectuais declinou nas zonas costeiras, permitindo assim o surgimento de núcleos urbanos e o aparecimento de uma burguesia comercial nativa que se opôs às pretensões de centralização do poder político sob o sistema imperial.

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