"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O Helenismo (Parte 02/07)


RELIGIÃO, FILOSOFIA E CIÊNCIA - (Páginas 145-147.)

O helenismo foi marcado pelo desaparecimento das fronteiras entre os diferentes países e culturas. Anteriormente, gregos, romanos, egípcios, babilônios, sírios e persas tinham adorado seus deuses dentro dos limites de suas próprias religiões. Agora, todas essas diferentes culturas foram misturadas num caldeirão, por assim dizer, de concepções religiosas, filosóficas e científicas.
Talvez não seja exagero dizer que a praça do mercado municipal foi substituída pela arena mundial. Antes desta época, também se ouvia nas praças uma confusão de vozes oferecendo ora diferentes mercadorias, ora diferentes pensamentos e idéias. A novidade agora era que as praças dos mercados estavam cheias de mercadorias e idéias do mundo inteiro. E esta “confusão de vozes” acontecia agora em diferentes línguas.
Já dissemos que a cosmovisão dos gregos tinha ultrapassado em muito as fronteiras da antiga Grécia. Com o tempo, porém, muitas divindades orientais também passaram a ser adoradas em toda a região do Mediterrâneo. Surgiram várias religiões novas, que tomavam emprestadas de diferentes culturas antigas suas concepções religiosas. Falamos aqui de uma mistura de religiões, ou de um sincretismo religioso.
Anteriormente a isto, as pessoas tinham experimentado um sentimento de afinidade muito forte com seu próprio povo e com sua própria cidade-Estado. À medida que tais fronteiras e linhas divisórias foram sendo paulatinamente apagadas, elas passaram a experimentar uma sensação de dúvida e de incerteza em relação à sua filosofia de vida. O final da Antigüidade foi marcado predominantemente por dúvidas religiosas, dissolução cultural e pessimismo. Dizia-se que o mundo “tinha envelhecido”.
As novas religiões surgidas durante o helenismo tinham em comum o fato de pretenderem ensinar a seus fiéis como obter salvação para a morte. Muitos desses ensinamentos eram mantidos em segredo. Mediante a iniciação em determinados círculos secretos e mediante o cumprimento de certos rituais, o homem podia ter esperança na imortalidade da alma e numa vida eterna. Nesse sentido, certa iniciação na verdadeira natureza do universo podia ser tão importante para a salvação da alma quanto os rituais religiosos.
De modo geral, podemos dizer que a filosofia do helenismo não teve nada de muito original. Não apareceu outro Platão, nem outro Aristóteles. Mas os três grandes filósofos de Atenas se transformaram em fonte de inspiração para diferentes correntes filosóficas, que vou tentar resumir a seguir.
Também a ciência do helenismo foi marcada pela mistura de diferentes experiências culturais. Nesse particular, a cidade de Alexandria, no Egito, desempenhava um papel-chave como ponto de encontro entre o Oriente e o Ocidente. Enquanto Atenas, com as escolas filosóficas deixadas por Platão e Aristóteles, continuou sendo a capital da filosofia, Alexandria transformou-se na metrópole da ciência. Com sua grande biblioteca, esta cidade passou a ser o centro da matemática, astronomia, biologia e medicina.
A cultura helênica pode muito bem ser comparada com o mundo de hoje. O século XX também é marcado por uma comunidade internacional cada vez mais aberta. À semelhança do que ocorreu no mundo helênico, também em nossa época este fato tem gerado grandes transformações na religião e nas visões de mundo. Do mesmo modo como podíamos encontrar em Roma, no início do calendário cristão, concepções religiosas gregas, egípcias e orientais, também agora, no final do século XX, podemos encontrar em todas as cidades européias de porte médio concepções religiosas oriundas de todas as partes do mundo.
Outro dado interessante é o fato de, em nossa época, vermos como a mescla de religiões novas e antigas, filosofia e ciência pode criar as bases para novas ofertas no “mercado de visões de mundo”.
Grande parte deste “conhecimento novo” é, na verdade, herança de um pensamento antigo, cujas raízes remontam ao helenismo, entre outros períodos.
Como já dissemos, a filosofia do helenismo continuou a investigar os problemas levantados por Sócrates, Platão e Aristóteles. O ponto comum entre eles era o desejo de responder às perguntas sobre qual seria a melhor maneira de o homem viver e morrer. Assim, a ética também foi colocada na ordem do dia e se transformou no mais importante projeto filosófico da nova comunidade internacional. A questão era saber em que consistia a verdadeira felicidade e como ela podia ser alcançada.
Vamos estudar brevemente quatro dessas correntes filosóficas.

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