"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O Helenismo (Parte 06/07)

Plotino, filósofo neoplatônico

O NEOPLATONISMO - (Páginas 151-153.)

Vimos que os cínicos, os estóicos e os epicureus tiveram como ponto de partida os ensinamentos de Sócrates. Além dele, podemos constatar também uma influência dos pré-socráticos Demócrito e Heráclito. Mas a mais importante corrente filosófica do final da Antigüidade foi inspirada em Platão. E por isso ela é chamada de neoplatonismo.
O neoplatônico mais importante foi Plotino (c. 205-270), que estudou filosofia em Alexandria e mais tarde mudou-se para Roma. É interessante notar que ele veio de Alexandria, a cidade que já havia alguns séculos era o grande ponto de encontro entre a filosofia grega e a mística oriental. Plotino trouxe para Roma uma doutrina da salvação que viria a se tornar séria concorrente do cristianismo vigente naquela época. Mas o neoplatonismo também viria a exercer uma forte influência sobre a teologia cristã.
Na certa você ainda se lembra da teoria das idéias de Platão, Sofia. Você ainda deve saber, portanto, que ele estabelecia uma diferença entre o mundo das idéias e o mundo dos sentidos. Assim, Platão distinguia claramente entre a alma do homem e o seu corpo. Deste ponto de vista, o homem era uma criatura dual: para Platão, nosso corpo se constitui de terra e pó, como tudo o mais do mundo dos sentidos, mas nós também possuímos uma alma imortal. Muito antes de Platão essa noção já era bastante difundida na Grécia. Além dela, Plotino conhecia também concepções asiáticas semelhantes.
Plotino via o mundo como algo distendido entre dois pólos. Numa extremidade estava a luz divina, que ele chamava de o Uno. Às vezes ele também a chamava de Deus. Na outra extremidade reinavam trevas absolutas, que não eram banhadas pela luz do Uno. Mas Plotino achava que essas trevas de fato não tinham uma existência concreta. Para ele, elas nada mais eram do que a ausência de luz. Ou seja, as trevas não são. A única coisa que existe para ele é Deus, ou o Uno. Mas assim como uma fonte de luz pouco a pouco se perde na escuridão, também podemos imaginar um lugar aonde os raios divinos não são capazes de chegar.
De acordo com Plotino, portanto, a luz do Uno ilumina a alma, ao passo que a matéria são as trevas, que não possuem uma existência real. Mas as formas da natureza também possuem, segundo ele, um tênue reflexo do Uno.
Imagine uma enorme fogueira crepitando no meio da noite, cara Sofia. Do meio do fogo saltam centelhas em todas as direções. Num amplo círculo ao redor do fogo a noite é iluminada, e a alguns quilômetros de distância ainda é possível ver o leve brilho desta fogueira. À medida que nos afastamos, a fogueira vai se transformando num minúsculo ponto de luz, como uma lanterna fraca na noite. E se nos afastarmos mais ainda, chegaremos a um ponto em que a luz do fogo não mais consegue nos alcançar. Em algum lugar os raios luminosos se perdem na noite e se estiver muito escuro não vamos enxergar nada. Nesse momento, contornos e sombras deixam de existir.
Agora imagine a realidade como sendo esta enorme fogueira. O que arde é Deus – e as trevas lá fora são a matéria fria, da qual são feitos homens e animais. Junto a Deus estão as idéias eternas, que são as formas primordiais de todas as criaturas. Sobretudo a alma humana é uma “centelha de fogo”. Mas por toda a parte na natureza aparece um pouco desta luz divina. Podemos vê-la em todos os seres vivos; sim, até mesmo uma rosa ou uma campânula possuem um brilho divino. No ponto mais distante do Deus vivo estão a terra, a água e as pedras.
Estou dizendo que tudo o que vemos tem um pouco do mistério divino. Podemos ver o brilho desta alguma coisa num girassol ou numa papoula. Percebemos um pouco mais deste insondável mistério numa borboleta que pousou num galho, ou num peixinho dourado que nada no aquário. Mas o ponto mais próximo em que nos encontramos de Deus é dentro de nossa própria alma. Só lá é que podemos nos re-unir com o grande mistério da vida. De fato, em alguns raros momentos podemos sentir que somos, nós mesmos, este mistério divino.
As imagens que Plotino usa lembram a alegoria da caverna de Platão: quanto mais nos aproximamos da entrada da caverna, mais perto estamos daquilo de onde provém tudo o que existe. Mas em oposição à nítida divisão da realidade em duas partes estabelecida por Platão, a doutrina de Plotino nos convida a vivenciar a plenitude. Tudo é um, pois tudo é Deus. Até mesmo as sombras lá embaixo, na caverna de Platão, têm um tênue reflexo dessa “Unidade”.
Em alguns poucos momentos de sua vida Plotino experimentou a sensação de fundir sua alma com Deus. De modo geral, chamamos isto de experiência mística. Plotino não foi o único a viver tal experiência. Pessoas de todas as culturas, em todos os tempos, têm relatado experiências semelhantes. Ainda que as descrições dessas experiências sejam as mais diversas, esses relatos têm muitos e importantes pontos comuns. Vamos ver alguns deles.

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