"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Radicalização Política (Parte 08/09)

Homenagem dos jornalistas cariocas a Pedro Ernesto (de terno preto na 1ª fila),
por ocasião da sua posse como prefeito do Distrito Federal, 1935. Rio de Janeiro (RJ).
(CPDOC/ PEB foto 126)

Administração Pedro Ernesto

A nomeação de Pedro Ernesto Batista para o cargo de interventor no Distrito Federal, em setembro de 1931, resultou de sua antiga amizade com os "tenentes", a quem costumava socorrer desde os anos 20 em sua casa de saúde. Essa ligação já o fizera tornar-se, depois da Revolução de 1930, médico particular de Getúlio Vargas e presidente do Clube 3 de Outubro.
O início do processo de reconstitucionalização do país, com a confirmação para maio de 1933 das eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, levou os "tenentes" e os interventores seus aliados a criar partidos políticos regionais que pudessem eleger representantes comprometidos com a defesa do programa básico do Clube 3 de Outubro. Foi assim que em março de 1933 Pedro Ernesto fundou o Partido Autonomista do Distrito Federal, que contava em seus quadros com líderes tenentistas como Augusto do Amaral Peixoto e João Alberto. O partido elegeu seis dos dez representantes cariocas na Constituinte, o que já evidenciava o prestígio de Pedro Ernesto no Distrito Federal.
O sucesso da administração de Pedro Ernesto provinha do fato de ele ter buscado estender a rede de bens e serviços públicos municipais a áreas anteriormente desassistidas, fazendo da construção de escolas, hospitais e postos de saúde a principal marca de sua gestão. Ampliando o acesso à educação pública, leiga e gratuita e aos serviços sanitários terapêuticos e preventivos, o interventor procurava melhorar a qualidade de vida da população e seu padrão de competitividade no mercado. Preocupava-se também em incentivar a participação política dos cariocas. Em um esforço concentrado de alistamento eleitoral nas favelas e subúrbios, conseguiu fazer saltar o número de eleitores de 70 mil, na eleição de 1933 para a Constituinte, para 110 mil na eleição municipal de outubro de 1934. O Partido Autonomista conquistou então 20 das 22 cadeiras da Câmara Municipal. Pedro Ernesto foi o vereador mais votado, com cerca de 42% dos votos válidos, e em seguida foi eleito pelo colegiado de vereadores prefeito constitucional do Distrito Federal. Em sua posse, no dia 8 de abril de 1935, discursou da sacada da Câmara para uma multidão que enchia as ruas e manifestava de forma calorosa o seu apoio.
Nos meses que se seguiram, Pedro Ernesto se afastou do núcleo que gravitava em torno de Getúlio Vargas e adotou um novo padrão de atuação política, em que as massas urbanas assumiam o papel principal. O apoio à Aliança Nacional Libertadora, o diálogo direto com as entidades classistas, a defesa de um projeto de educação laica (coroado pela criação da Universidade do Distrito Federal em 1935), mas principalmente a possibilidade de competir com Vargas na arena política nacional, terminariam por impor limites drásticos a seus projetos.
Em abril de 1936 Pedro Ernesto foi preso, acusado de envolvimento com o levante comunista de novembro de 1935, e só às vésperas do golpe do Estado Novo, em novembro de 1937, foi posto em liberdade. Embora tenha sido combatido politicamante, sua administração deixou marcas na memória carioca e serviu de inspiração para o próprio Vargas em seu segundo governo.

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