"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Salvador Dali - Apollinaire - Woman at the Fountain

Salvador Dali - Apollinaire - The Trenches

Salvador Dali - Apollinaire - The Drawers

O Destino (Parte 03/03)

Hipócrates e as plantas medicinais

A CIÊNCIA DA HISTÓRIA E A MEDICINA - (Páginas 67-69)

Para os antigos gregos, não apenas a vida dos indivíduos era determinada pelo destino. Eles achavam que todo o desenrolar da história do mundo também era determinado pelo destino. Assim, os gregos acreditavam, por exemplo, que o desfecho de uma guerra deveria ser atribuído a uma intervenção divina. Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que os acontecimentos históricos são governados por Deus ou por outras forças místicas.
Mas enquanto os filósofos gregos tentavam encontrar explicações naturais para os processos da natureza, formava-se pouco a pouco uma ciência da história, cujo objetivo também era encontrar causas naturais para o curso da história universal. O fato de um Estado perder uma guerra não mais era atribuído ao desejo de vingança dos deuses. Os historiadores gregos mais conhecidos foram Heródoto (484-424 a.C.) e Tucídides (460-400 a.C.).
Os gregos dos primeiros tempos também responsabilizavam os deuses pelas doenças. Assim, as doenças contagiosas freqüentemente eram vistas como um castigo dos deuses. De outro lado, os deuses também podiam curar as pessoas, bastando para isto que lhes fosse feito o sacrifício apropriado.
Esta idéia não é típica apenas dos gregos. Em tempos mais recentes, antes que a moderna ciência da medicina se desenvolvesse, era muito comum ouvir que as enfermidades tinham uma causa sobrenatural. A palavra influenza, que empregamos até hoje, significa originariamente que alguém estava sob a “influência” maligna dos astros.
Ainda hoje, muitas pessoas no mundo todo consideram doenças como a AIDS, por exemplo, um castigo de Deus. Além disso, muitos acreditam que uma pessoa enferma possa ser curada por meios “sobrenaturais”.
Enquanto os filósofos gregos enveredavam por um caminho de reflexão absolutamente novo, surgiu também uma ciência médica grega, cujo objetivo era buscar explicações naturais para a saúde e a doença. Supõe-se que essa ciência médica grega foi fundada por Hipócrates, que nasceu na ilha de Cós por volta do ano de 460 a.C.
De acordo com a tradição médica de Hipócrates, os meios mais eficazes para prevenir as doenças eram a moderação e um modo de vida saudável. Por conseguinte, a saúde seria o estado natural do homem. Quando a doença aparece, isso significa que a natureza “saiu dos trilhos” devido a um desequilíbrio corporal ou anímico. O caminho para a saúde do homem está na moderação, na harmonia e “na mente sã em corpo são”.
Hoje em dia ainda se fala muito na “ética médica”. Isto significa que um médico deve exercer sua profissão segundo certas diretrizes éticas. Por exemplo, um médico não deve receitar a pessoas sadias medicamentos que causem dependência. Além disso, o médico deve manter o sigilo profissional, não transmitindo a outras pessoas as informações que um paciente lhe deu sobre seu estado. Todas essas idéias remontam a Hipócrates. Ele fazia seus alunos prestarem um juramento, conhecido até hoje como o juramento de Hipócrates dos médicos:

Por Apolo, o médico, e por Asclépio, por Higia e Panacea e por todos os deuses e deusas, a quem conclamo como minhas testemunhas, juro cumprir o meu dever e manter este juramento com todas as minhas forças e com todo o meu discernimento: tributarei a meu Mestre de Medicina igual respeito que a meus progenitores, repartindo com ele meus meios de vida e socorrendo-o em caso de necessidade; tratarei seus filhos como se fossem meus irmãos e, se for sua vontade aprender esta ciência, eu lhes ensinarei desinteressadamente e sem exigir recompensa de qualquer espécie. Instruirei com preceitos, lições orais e demais métodos de ensino os meus próprios filhos e os filhos de meu Mestre e, além deles, somente os discípulos que me seguirem sob empenho de suas palavras e sob juramento, como determina a praxe médica. Aviarei minhas receitas de modo que sejam do melhor proveito para os enfermos, livrando-os de todo mal e da injustiça, para o que dedicarei todas as minhas faculdades e conhecimentos. Não administrarei a pessoa alguma, ainda que isto me seja pedido, qualquer tipo de veneno nem darei qualquer conselho nesse sentido. Da mesma forma, não administrarei a mulheres grávidas qualquer meio abortivo. Guardarei sigilo e considerarei segredo tudo o que vir e ouvir sobre a vida das pessoas durante o tratamento ou fora dele.

O Destino (Parte 02/03)

Ruínas do local do oráculo de Delfos

O ORÁCULO DE DELFOS - (Páginas 66-67.)

Os gregos acreditavam que o famoso oráculo de Delfos era capaz de lhes dizer coisas sobre seu destino. Em Delfos, o deus do oráculo era Apolo. Ele falava através de sua sacerdotisa, Pítia, que ficava sentada num banquinho colocado sobre uma fenda na terra.
Dessa fenda subiam vapores inebriantes, que colocavam Pítia numa espécie de transe. E isto era necessário para que ela se tornasse o meio pelo qual Apolo falava.
Quem vinha a Delfos fazia suas perguntas, primeiramente, para os sacerdotes locais, que depois iam consultar Pítia. A sacerdotisa do oráculo lhes dava uma resposta, que era tão incompreensível ou tão ambígua que os sacerdotes tinham que “interpretá-la” para os consulentes.
Dessa forma, os gregos podiam se valer da sabedoria de Apolo, que, para eles, era o deus que sabia de tudo, tanto do passado quanto do futuro.
Muitos chefes de Estado não ousavam entrar numa guerra ou tomar decisões importantes sem antes consultar o oráculo de Delfos. Dessa forma, os sacerdotes de Apolo eram quase como diplomatas ou conselheiros, que possuíam um profundo conhecimento do povo e do país.
No templo de Delfos havia uma famosa inscrição: CONHECE-TE A TI MESMO! E ela ficava ali para lembrar aos homens que eles não passavam de meros mortais e que nenhum homem pode fugir de seu destino.
Entre os gregos contavam-se muitas histórias de pessoas que tinham sido apanhadas por seus destinos. Ao longo do tempo, uma série de peças – as tragédias – foi escrita sobre essas “trágicas” personalidades. O exemplo mais conhecido é a história do rei Édipo, que, na tentativa de fugir de seu destino, acaba correndo ao seu encontro.

O Destino (Parte 01/03)


O DESTINO - (Páginas 65-66.)

Bom dia mais uma vez, minha cara Sofia! Por precaução, quero dizer expressamente que você nunca deve tentar me seguir. Nós nos encontraremos algum dia, mas sou eu quem vai estabelecer quando e onde isto deve acontecer.
É isto. Você não vai querer ser desobediente, vai?
Bem, vamos retomar o tema de nossos filósofos. Vimos como eles tentaram encontrar explicações naturais para as transformações da natureza e que, antes deles, tais transformações eram explicadas pelos mitos.
Mas também em outras áreas era preciso tirar do caminho antigas superstições. E podemos constatar isto tanto no que diz respeito à saúde e doença quanto no que se refere à política. Nestes dois domínios, os gregos tinham sido absolutamente fatalistas até então.
“Ser fatalista” significa acreditar que tudo o que vai acontecer já está determinado previamente. Esta noção pode ser encontrada no mundo todo, tanto hoje quanto em qualquer outro momento da história. Aqui no Norte da Europa, as sagas de famílias islandesas, por exemplo, nos revelam uma forte crença na Providência.
Entre os gregos, bem como em outros povos, também encontramos a noção de que os homens são capazes de “ver” o seu destino através de diferentes oráculos. Isto significa que o destino de um homem ou de um Estado pode ser previsto de diferentes formas e interpretado a partir de certos “presságios”.
Até hoje, muita gente acha possível ler a sorte nas cartas do baralho, nas mãos das pessoas ou nas estrelas do céu.
Também é muito comum a “leitura da sorte” no café que sobra no fundo da xícara, depois que alguém o bebeu. Talvez este resto de café forme no fundo determinada imagem, um desenho (e é claro que, para enxergá-lo, precisamos contar com a ajuda da nossa imaginação). Se este desenho se parece com um carro, isto talvez signifique que a pessoa que bebeu o café logo vai fazer uma longa viagem de carro.
Vemos que o “adivinho” tenta adivinhar algo que de fato não pode ser adivinhado. Isto é típico da arte de prever o futuro. E justamente porque é tão vago aquilo que essas pessoas “pré-vêem”, em geral é muito difícil rebater o que o adivinho nos diz.
Quando olhamos o céu estrelado, o que vemos é um verdadeiro caos de pontinhos luminosos. Não obstante, ao longo da história muitas pessoas acreditaram que as estrelas podiam nos dizer alguma coisa sobre a nossa vida na Terra. Até hoje existem muitos políticos que pedem conselhos a astrólogos antes de tomar decisões importantes.

Extratos da obra de GAARDER, Jostein.
O Mundo de Sofia. Romance da História da Filosofia.
São Paulo: Cia das Letras, 1996.

Demócrito (Parte 02/02)


Hoje em dia podemos dizer que a teoria atômica de Demócrito estava quase perfeita. De fato, a natureza é composta de diferentes átomos, que se ligam a outros para depois se separarem novamente. Um átomo de hidrogênio presente numa célula da pontinha do meu nariz pode ter pertencido um dia à tromba de um elefante. Um átomo de carbono que está hoje no músculo do meu coração provavelmente esteve um dia na cauda de um dinossauro.
Hoje em dia, porém, a ciência descobriu que os átomos podem ser divididos em partículas ainda menores, as “partículas elementares”. São elas os prótons, nêutrons e elétrons. E talvez estas partículas também possam ser divididas em outras, menores ainda. Mas os físicos são unânimes em achar que em alguma parte deve haver um limite para esta divisão. Deve haver as chamadas partículas mínimas, a partir das quais toda a natureza se constrói.
Demócrito não teve acesso aos aparelhos eletrônicos de nossa época. Na verdade, sua única ferramenta foi a sua razão. Mas a razão não lhe deixou escolha. Se aceitamos que nada pode se transformar, que nada surge do nada e que nada desaparece, então a natureza simplesmente tem de ser composta por pecinhas minúsculas, que se combinam e depois se separam.
Demócrito não acreditava numa “força” ou numa “inteligência” que pudessem intervir nos processos naturais. As unidas coisas que existem são os átomos e o vácuo, dizia ele. E como ele só acreditava no “material”, nós o chamamos de materialista.
Por detrás do movimento dos átomos, portanto, não havia determinada “intenção”. Mas isto não significa que tudo o que acontece é um “acaso”, pois tudo é regido pelas inalteráveis leis da natureza. Demócrito acreditava que tudo o que acontece tem uma causa natural; uma causa que é inerente à própria coisa. Conta-se que ele teria dito que preferiria descobrir uma lei natural a se tornar rei da Pérsia.
Para Demócrito, a teoria atômica explicava também nossas percepções sensoriais. Quando percebemos alguma coisa, isto se deve ao movimento dos átomos no espaço. Quando vejo a Lua, isto acontece porque os “átomos da Lua” tocam os meus olhos.
Mas o que acontece com a consciência? Está aí uma coisa que não pode ser composta de átomos, quer dizer, de “coisas” materiais, certo? Errado. Demócrito acreditava que a alma era composta por alguns átomos particularmente arredondados e lisos, os “átomos da alma”. Quando uma pessoa morre, os átomos de sua alma espalham-se para todas as direções e podem se agregar a outra alma, no momento mesmo em que esta é formada.
Isto significa que o homem não possui uma alma imortal. E este é um pensamento compartilhado por muitas pessoas em nossos dias. Como Demócrito, elas acreditam que a alma está intimamente relacionada ao cérebro e que não podemos possuir qualquer forma de consciência quando o cérebro deixa de funcionar e degenera.
Com sua teoria atômica, Demócrito coloca um ponto final, pelo menos temporariamente, na filosofia natural grega. Ele concorda com Heráclito em que tudo “flui” na natureza, pois as formas vão e vêm. Por detrás de tudo o que flui, porém, há algo de eterno e de imutável, que não flui. A isto ele dá o nome de átomo.
Enquanto lia, Sofia olhava constantemente pela janela para ver se o misterioso escritor daquelas páginas aparecia para colocar outra carta na caixa de correio. Agora, terminada a leitura, Sofia tinha os olhos fixos em algum ponto da rua, mergulhada em pensamentos.
Ela achou o raciocínio de Demócrito ao mesmo tempo muito simples e incrivelmente engenhoso. Ele tinha encontrado a solução para os problemas do “elemento básico” e das “transformações”. Esta questão era tão complicada que os filósofos tinham levado gerações quebrando a cabeça com ela. No fim, Demócrito resolveu todo o problema, usando para isto apenas a sua razão.
Sofia quase não conseguiu conter um sorriso. Tinha que ser verdade que a natureza era composta de partículas minúsculas que nunca se modificavam. Ao mesmo tempo, Heráclito também tinha razão ao dizer que todas as formas da natureza “fluem”. Isto porque todos os homens e todos os bichos morrem, e até mesmo uma montanha vai se desintegrando aos poucos. O importante, porém, é que até esta montanha é composta de minúsculas partes, indivisíveis, que nunca se desintegram.
Ao mesmo tempo, Demócrito colocou ainda outras questões para a reflexão. Por exemplo, ao dizer que tudo acontece mecanicamente. Ao contrário de Empédocles e Anaxágoras, ele não acreditava na interferência de forças espirituais sobre a vida. Além disso, Demócrito não acreditava que o homem possuía uma alma imortal.
Será que ela, Sofia, podia realmente dizer que Demócrito tinha razão?
Isto ela não sabia. Mas ela estava só no começo de seu curso de filosofia.

Demócrito (Parte 01/02)


A TEORIA ATÔMICA (Páginas 57-60)

Que bom poder falar com você novamente, Sofia! Hoje vou lhe contar sobre o último grande filósofo da natureza. Ele se chamava Demócrito (c. 460-370 a.C.) e era natural da cidade portuária de Abdera, na costa norte do mar Egeu. Se você conseguiu responder à pergunta sobre as peças de Lego [Por que o Lego é o brinquedo mais genial do mundo?], certamente não terá dificuldade para entender o projeto deste filósofo.
Demócrito concordava com seus antecessores num ponto: as transformações que se podiam observar na natureza não significavam que algo realmente “se transformava”. Ele presumiu, então, que todas as coisas eram constituídas por uma infinidade de pedrinhas minúsculas, invisíveis, cada uma delas sendo eterna e imutável. A estas unidades mínimas Demócrito deu o nome de átomos.
A palavra “átomo” significa “indivisível”. Para Demócrito era muito importante estabelecer que as unidades constituintes de todas as coisas não podiam ser divididas em unidades ainda menores. Isso porque se os átomos também fossem passíveis de desintegração e pudessem ser divididos em unidades ainda menores, a natureza acabaria por se diluir totalmente. Como uma sopa que vai ficando cada vez mais rala.
Além disso, as “pedrinhas” constituintes da natureza tinham que ser eternas, pois nada pode surgir do nada. Neste ponto, Demócrito concordava com Parmênides e com os eleatas. Para ele, os átomos eram unidades firmes e sólidas. Só não podiam ser iguais, pois se todos os átomos fossem iguais não haveria explicação para o fato de eles se combinarem para formar de papoulas a oliveiras, do pêlo de um bode ao cabelo humano.
Demócrito achava que existia na natureza uma infinidade de átomos diferentes: alguns arredondados e lisos, outros irregulares e retorcidos. E precisamente porque suas formas eram tão irregulares é que eles podiam ser combinados para dar origem a corpos os mais diversos. Independentemente, porém, do número de átomos e de sua diversidade, todos eles seriam eternos, imutáveis e indivisíveis.
Se um corpo – por exemplo, de uma árvore ou de um animal – morre e se decompõe, seus átomos se espalham e podem ser reaproveitados para dar origem a outros corpos. Pois se é verdade que os átomos se movimentam no espaço, também é verdade que eles possuem diferentes “ganchos” e “engates” e podem ser novamente reaproveitados na composição de outras coisas que vemos ao nosso redor.
E agora acho que você não tem mais dúvida sobre o que eu queria dizer com as peças de Lego, não é? Elas possuem aproximadamente todas as características que Demócrito descreveu para os átomos. E é exatamente por isso que se prestam tão bem à construção de qualquer coisa. Em primeiro lugar, são indivisíveis. Em segundo, diferem entre na si na forma e no tamanho, são compactas e impermeáveis. Além disso, as peças de Lego possuem ganchos e engates, por assim dizer, o que permite que sejam combinadas na construção de todo tipo de figura. Tais ligações podem ser desfeitas para que as mesmas peças possam ser reaproveitadas na construção de novos objetos.
Justamente por possibilitarem seu reaproveitamento é que as peças de Lego se tornaram tão populares. A mesma peça de Lego pode servir hoje para a construção de um carro, amanhã para um castelo. Ainda por cima, podemos dizer que são “eternas”. As crianças de hoje podem brincar com as mesmas pedras que fizeram a diversão de seus pais quando eles ainda eram crianças.
É claro que também podemos construir objetos de barro. Mas o barro nem sempre pode ser reaproveitado, pois se desfaz em partes cada vez menores, até se reduzir a pó. E estas minúsculas partículas de argila não podem ser reunidas para formar novos objetos.

Extratos da obra de GAARDER, Jostein.
O Mundo de Sofia. Romance da História da Filosofia.
São Paulo: Cia das Letras, 1996.

A Constituição de 1934 (Parte 03/03)

Almerinda Farias Gama, única mulher delegada-eleitora, depositando seu voto na urna,
durante a eleição de representantes classistas para a Assembléia Nacional Constituinte, 1933.
Rio de Janeiro (RJ). (CPDOC/ AFG foto 004/3)

Participação Política Feminina

O Código Eleitoral promulgado em fevereiro de 1932 concedeu pela primeira vez o direito de voto às mulheres. Antes disso, é conhecido um caso de participação política feminina: em 1928, no Rio Grande do Norte foi eleita a primeira prefeita da América do Sul, Alzira Soriano.
Muitas mulheres se candidataram à Constituinte de 1934, como Berta Lutz e Leolinda de Figueiredo Daltro, mas apenas Carlota Pereira de Queirós conseguiu se eleger por São Paulo. No Distrito Federal Almerinda Farias Gama participou como delegada sindical da eleição de representantes classistas. No discurso que pronunciou na Assembléia em 13 de março de 1934, a deputada Carlota Pereira de Queirós enfatizou a colaboração imprescindível da mulher no processo de reconstitucionalização do país.
Em 1933, Berta Lutz, líder da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicara A nacionalidade da mulher casada, obra em que defendia os direitos jurídicos da mulher. Foi convidada pela deputada Carlota Pereira de Queirós para elaborarem em conjunto um trabalho para a Constituinte de 1934. Nele era defendida a eleição da mulher e a reforma do ensino de acordo com as demandas da nova sociedade urbano-industrial. Vários artigos da Constituição de 1934 iriam de fato beneficiar a mulher, entre eles os que estabeleciam a regulamentação do trabalho feminino, a igualdade salarial e a proibição de demissão por gravidez.
Mas a questão do papel da mulher não despertava consenso. O grupo católico, articulado em torno do Centro Dom Vital, fazia restrições à emancipação feminina, considerando-a uma ameaça à estabilidade familiar. Esse ponto de vista iria se manifestar freqüentemente nas expressões do cotidiano. Nas revistas humorísticas ilustradas, a mulher emancipada passaria a ser objeto de inúmeras charges e caricaturas.

A Constituição de 1934 (Parte 02/03)

Carta do secretário geral da LEC, Alceu de Amoroso Lima,
às seções estaduais da Liga, 1937. Rio de Janeiro (RJ).
(CPDOC/ VF 1926.11.14)

Liga Eleitoral Católica

Na década de 1920, a crescente urbanização, a secularização da cultura e a fundação do Partido Comunista do Brasil enfraqueceram visivelmente a influência tradicional do catolicismo. Para fazer frente a tais mudanças, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme, liderou um movimento destinado a defender os ideais cristãos na vida política nacional. Foi com esse intuito que foram criados a revista A Ordem (1921) e o Centro Dom Vital (1922), sob a direção de Jackson de Figueiredo. Foi somente no final da década de 1920, quando Alceu Amoroso Lima assumiu a direção do Centro Dom Vital e de A Ordem, que a Igreja conseguiu se tornar uma força político-social expressiva.
Em 1932, com o objetivo de articular-se com o mundo da política, o grupo católico, tendo novamente à frente dom Leme, criou a Liga Eleitoral Católica (LEC), que teve como secretário geral Alceu Amoroso Lima. Dom Leme optou por essa estratégia em nome da "segurança da comunidade católica" e freqüentemente lembrava, nas páginas da revista A Ordem, as virtudes da concessão e do compromisso àqueles que se opunham a Vargas e pretendiam formar um partido católico de oposição.
Congregando intelectuais e segmentos da classe média, a LEC teve uma participação expressiva nas eleições de 1933 para a Assembléia Nacional Constituinte. Sua atuação consistiu em supervisionar, selecionar e recomendar ao eleitorado católico os candidatos aprovados pela Igreja, mantendo uma postura apartidária. Argumentava-se não haver necessidade de um partido católico, quando as mais variadas agremiações partidárias aceitavam os postulados da Igreja. Numerosos deputados foram eleitos com o apoio da LEC, entre eles Luís Sucupira, Anes Dias, Plínio Correia de Oliveira e Morais Andrade.

A Constituição de 1934 (Parte 01/03)

Almerinda Farias Gama, única mulher delegada-eleitora,
e Baltazar da Silveira (representante de São Paulo)
durante a eleição de representantes classistas para a
Assembléia Nacional Constituinte de 1934.
Rio de Janeiro (RJ). (CPDOC/ AFG foto 004/1)

De novembro de 1933 a julho de 1934 o país viveu sob a égide da Assembléia Nacional Constituinte encarregada de elaborar a nova Constituição brasileira que iria substituir a Constituição de 1891. Foram meses de intensa articulação e disputa política entre o governo e os grupos que compunham a Constituinte. Para o primeiro, a futura ordenação jurídica do país deveria incorporar o conjunto de mudanças que vinham sendo promovidas nos campos social, político e econômico. Essas posições também eram defendidas por lideranças tenentistas eleitas para a Constituinte. Para a Igreja Católica, o momento era de afirmação e de maior intervenção na vida política do país. Já para os grupos oligárquicos, a nova Constituição deveria assegurar aos estados um papel de relevo. O maior desafio dos constituintes foi tentar encontrar caminhos capazes de atender a essa gama variada de projetos e interesses.
Dominada a Revolução Constitucionalista, no final do ano de 1932 e começo de 1933 a campanha eleitoral para a Assembléia Nacional Constituinte tomou conta do país. As forças políticas se reorganizaram para aquela que seria a primeira eleição desde a vitória da Revolução de 1930. Novos procedimentos haviam sido introduzidos pelo Código Eleitoral de 1932: o voto secreto, o voto feminino - pela primeira vez na história brasileira - e a Justiça Eleitoral, encarregada de organizar e supervisionar a eleição política. O Código previa ainda a formação de uma bancada classista composta por representantes de funcionários públicos, empregados e empregadores, eleitos por delegados sindicais.
O Governo Provisório tratou de tomar iniciativas para poder conduzir os trabalhos da Assembléia segundo os seus interesses. Criou uma Comissão Constitucional que elaborou um anteprojeto de Constituição, o qual foi entregue aos constituintes para ser discutido e emendado. Coube também ao governo a elaboração do Regimento Interno da Constituinte, ou seja, do conjunto de regras que iria reger o funcionamento da Assembléia. Com essas medidas, o governo procurava intervir tanto no conteúdo dos debates como no seu encaminhamento.
A formação de uma bancada fiel ao governo ficou a cargo do ministro da Justiça, Antunes Maciel, que promoveu uma intensa articulação política junto aos grupos oligárquicos regionais. O governo esperava também contar com o apoio de setores expressivos da bancada classista, que teria 40 representantes num total de 254 constituintes. Os votos a favor das propostas governistas deveriam vir principalmente dos representantes dos trabalhadores, eleitos por sindicatos legalizados pouco antes pelo ministro do Trabalho Salgado Filho.
Lideranças tenentistas que participavam do governo ou estavam próximas dele também buscaram reunir forças para enfrentar os embates políticos da Constituinte. Para isso, contaram com o apoio do interventor no Distrito Federal, Pedro Ernesto, que criou o Partido Autonomista, e do interventor em Pernambuco, Lima Cavalcanti, que criou o Partido Social Democrático. Já em outros estados, mais distantes da influência tenentista, os grupos políticos trataram de formar novas frentes ou partidos regionais. Em São Paulo, o Partido Democrático e o Partido Republicano Paulista uniram-se na Chapa Única por São Paulo Unido. No Rio Grande do Sul, Flores da Cunha organizou o Partido Republicano Liberal e em Minas Gerais, Gustavo Capanema e Antônio Carlos de Andrada fundaram o Partido Progressista. Finalmente, entre as forças que participaram das eleições, destacou-se a Igreja Católica, que tinha no Centro Dom Vital um núcleo de debates e difusão de idéias e, para a ocasião, organizou a Liga Eleitoral Católica.
As eleições se realizaram em maio de 1933 e deixaram clara a vitória dos grupos políticos regionais. Os "tenentes" obtiveram fraca votação. Dois meses depois, as entidades de classe indicaram os representantes classistas. Entre os 254 constituintes foi eleita uma mulher: a médica paulista Carlota Pereira de Queirós, que intensificou a luta pela participação política feminina.
A Assembléia Nacional Constituinte instalou-se em novembro de 1933. O confronto entre regionalismo e centralização política dominou os debates que então se iniciaram. Enquanto os estados do Norte e Nordeste, mais fracos economicamente e dependentes do governo federal, defenderam o centralismo, os estados do Centro-Sul reivindicaram maior autonomia em relação ao poder central.
Após oito meses de discussões, finalmente, no dia 16 de julho de 1934, foi promulgada a nova Constituição. A importância dos estados foi assegurada pela vitória do princípio federalista. Ao mesmo tempo, ampliou-se o poder da União nos novos capítulos referentes à ordem econômica e social. As minas, jazidas minerais e quedas d'água deveriam ser nacionalizadas, assim como os bancos de depósito e as empresas de seguro. No plano da política social foram aprovadas medidas que beneficiavam os trabalhadores, como a criação da Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de trabalho de oito horas, férias anuais remuneradas e descanso semanal. Mas o governo sofreu uma importante derrota com a aprovação da pluralidade e da autonomia sindicais em lugar do sindicato único por categoria profissional.
Outra novidade importante foi a introdução de um capítulo exclusivo sobre a família, que em grande parte decorreu da pressão da bancada católica. Entre outras conquistas, a Igreja obteve a oficialização do casamento religioso.
A Constituição estabeleceu ainda que a primeira eleição presidencial após sua promulgação seria feita indiretamente, pelo voto dos membros da Assembléia Nacional Constituinte. As futuras eleições deveriam realizar-se pelo voto direto. No dia 17 de julho Getúlio Vargas foi eleito com 175 votos contra 71 dados aos demais candidatos, entre os quais se incluíam Borges de Medeiros e Góes Monteiro.
A Constituição de 1934 teve vida curta. Ao mesmo tempo em que tentou estabelecer uma ordem liberal e moderna, buscou também fortalecer o Estado e seu papel diretor na esfera econômico-social. O resultado não agradou a Vargas, que se sentiu tolhido em seu raio de ação pela nova carta. Em seu primeiro pronunciamento, Getúlio tornou pública sua insatisfação; em círculos privados, chegou a afirmar que estava disposto a ser o "primeiro revisor da Constituição".

Fonte: CPDOC/FGV

Alta Idade Média (Parte 10/10)

Imperador Carlos Magno

CARLOS MAGNO

Carlos Magno estreitou ainda mais os laços entre o Reino Franco e a Igreja. Entre 775 e 800 travou inúmeras guerras contra os saxões que se recusavam a aceitar a dinastia Carolíngea.
Durante seu governo o reino Franco sofreu uma grande expansão territorial provocada pelas guerras de conquistas.
No Natal do ano 800 o Papa Leão III, coroou Carlos Magno Imperador do Sacro Império Romano, o que significou a reconstituição parcial do território do Império Romano do Ocidente.

O Império Carolíngeo

Carlos Magno subdividiu o Império em unidades político-administrativas geridas pela nobreza rural e guerreira. Essas unidades eram chamadas de Condados cujos senhores eram os condes, as Marcas (margraves ou marqueses) e os ducados (duques). Reuniam-se todos em Assembléia Anual (Mallus) para deliberar com o Rei.
Carlos Magno mudou a capital para a cidade de Aquisgrana, de onde proferia as Leis Capitulares. Para fiscalizar a aplicação das ordens reais nomeava os missi-dominici (funcionários).
O Império Carolíngeo foi fundamental para o desenvolvimento posterior do feudalismo francês que estava em formação desde o início do Reino Franco.

O Tratado de Verdun e a Decadência do Império

Carlos Magno morreu em 814 e seu filho, Luís, o Piedoso tornou-se rei. Em 843, os filhos de Luís dividiram o Império entre sí pelo Tratado de Verdum. Luís o Germânico ficou com a Germânia (oriente), Lotário com o centro e Carlos, o Calvo ficou com a Gália (ocidente)
A divisão enfraqueceu o Império e novas levas de invasões bárbaras se sucederam no século IX (sarracenos, magiares e normandos).
As invasões minaram o poder real central e favoreceram a autonomia dos senhores feudais locais. Assim, o feudalismo se configurou numa constante luta entre o poder monárquico (centralização) e os particularismos locais (descentralização).
A divisão feita em Verdun determinou que as partes tivessem rumos diversos. A germânia tornou-se o Sacro Império Romano Germânico no reinado de Oto I e no pontificado de João XII em 962 e na parte ocidental formou-se a França.
O fim da dinastia Carolíngea chegou em 987 quando o conde de Paris, Hugo Capeto, deu início a dinastia capetíngea. Os reis capetos, como ficaram conhecidos os descendentes de Hugo, centralizaram o poder na França na Baixa Idade Média.

Alta Idade Média (Parte 09/10)


O REINO FRANCO

Desde a decadência do Império Romano os francos já estavam se assimilando aos romanos, pois eram os maiores fornecedores de mercenários para os exércitos imperiais. Assim, já no século V tinham se adaptado à civilização romana.
Os francos se estabeleceram na região do atual norte da França no início do século V, liderados por um chefe guerreiro chamado Meroveu. Seu neto, Clóvis, tornou-se chefe dos francos sálios em 481 fundando a dinastia Merovíngea e converteu-se ao cristianismo quinze anos depois. Esse fato foi decisivo para a consolidação de uma longa e frutífera aliança entre a Igreja e os Francos.
Através de guerras de conquista Clóvis conseguiu unir as tribos dos francos sálios e ripuários. Quando morreu em 511 já estava estabelecida a capital em Paris. Seus sucessores conquistaram toda a Gália e uma parte da Germânia até 550. Esta expansão favoreceu a formação do Regnum Francorum (Reino Franco).
Por volta de 639 os reis merovíngeos se enfraqueceram (“reis indolentes”) e delegaram a autoridade para nobres (Prefeitos do Paço ou mordomos do palácio) que passaram a se encarregar de funções antes privativas do rei. A autoridade dos prefeitos tornou-se hereditária e cada vez mais forte.
O grande guerreiro Carlos Martel, foi um prefeito que se destacou por ter debelado rebeliões internas e detido os mouros em 732, na célebre Batalha de Poitiers. Esse feito deu a Martel a alcunha de salvador da Igreja e da cristandade, obtendo grande respeito junto ao Papado. Ainda assim, Martel não tornou-se monarca. Não obstante, seu filho, Pepino, o Breve não hesitou, tomou para si a coroa e iniciou a dinastia Carolíngea em 751. Pepino renovou a aliança com a Igreja quando derrotou os lombardos no exarcado de Revena e doou aquelas terras à Igreja. Isso deu origem ao Patrimônio de São Pedro ou Estado Pontifício do qual ainda resta o Vaticano. O Papa Estevão II o ungiu Rei pela graça de Deus em 754.

Alta Idade Média (Parte 08/10)

escrita caligráfica árabe

A Cultura Árabe

Como comerciantes os árabes entraram em contato com várias culturas do Oriente e do Ocidente. Dessa forma assimilaram influências de persas, hindus, chineses, bizantinos, africanos e europeus. Esse sincretismo resultou numa cultura extremamente original e sofisticada.
O campo mais desenvolvido foi a arquitetura, pois o Corão proíbe a representação de imagens humanas. Foram grandes construtores de mesquitas e palácios, que se destacam pela beleza e imponência de seus minaretes, arcos em ferradura e cúpulas.
As construções eram ricamente decoradas com ornamentos em motivos geométricos, florais e letras estilizadas com trechos do Alcorão (arabescos).
A literatura ganhou destaque no governo de Harum al-Rashid, em Bagdá. Nesse período foi escrita “As mil e uma noites”, conjunto de contos, aventuras e fábulas reunidos em vários volumes. Na poesia destacou-se Omar Khaiam com a obra “Rubayat”.
Ibn-Kaldum destaca-se como historiador e Averróis como filósofo. Este último traduziu e comentou Aristóteles, contribuindo para preservar a filosofia grega.

A Ciência

A matemática foi um dos campos mais desenvolvidos; contribuíram com a geometria, a trigonometria, a álgebra e os números arábicos que facilitaram os cálculos.
Na física, fundamentaram a óptica com várias experiências sobre as propriedades da luz.
A busca do elixir da longa vida e da pedra filosofal favoreceu o desenvolvimento da química. Criaram processos de filtragem, destilação e sublimação. Faziam aguarrás, álcool, salitre, nitrato de prata, carbonato de sódio, ácido sulfúrico e nítrico.
Avicena destacou-se na medicina, escreveu o Canon que foi muito lido na Europa medieval e moderna. Eram excelentes cirurgiões e anatomistas. Descobriram o contágio da tuberculose e diagnosticaram o sarampo.
Desenvolveram técnicas de irrigação e difundiram produtos como o café e a cana de açúcar, assim como novas técnicas: a pólvora, a bússola, o papel e o astrolábio.

Os Árabes no Mundo Moderno

O Império Islâmico foi o maior do período medieval, mas entrou em decadência com as invasões turcas e as investidas da reconquista empreendidas pelos reis católicos da Espanha e Portugal em fins da Idade Média.
Na Idade Moderna o mundo muçulmano do Oriente Médio sofreu uma certo isolamento devido ao avanço colonialista europeu pelo mundo.
Na medida em que Europa despontava como a grande senhora do planeta no século XIX, e o petróleo passou a ser a principal fonte de energia da humanidade no século XX, britânicos, franceses, alemães, italianos e americanos passaram a exercer seu imperialismo direto ou indireto na região mais rica em petróleo do mundo.

Alta Idade Média (Parte 07/10)


A Expansão Islâmica

Maomé foi sucedido no comando dos muçulmanos pelos califas (sucessores do profeta). Os primeiros ficaram conhecidos como califas piedosos ou ortodoxos. Abu-Bekr foi o primeiro e governou entre 632 e 634, sucedeu-o Omar (634-644).
Entre 644 e 656 governou Othmam e Alí entre 656 e 660. Este último era casado com Fátima, filha de Maomé, reivindicando a ascendência sobre os muçulmanos pelo seu parentesco com o profeta. Isso deu origem à facção dos xiitas que pregavam a chefia dos muçulmanos aos descendentes de Maomé. Contra os xiitas estavam os caradjitas que consideravam todos os muçulmanos iguais e com capacidade para governar.

A Dinastia dos Omíadas (660 – 750)

A ascensão dos califas Omíadas em 660 trouxe estabilidade ao Império Islâmico. Tomaram como capital a cidade de Damasco na atual Síria, afastando-se dos atritos políticos de Meca.
Sob os omíadas houve uma grande expansão territorial e vasta propagação do Islamismo pelo Oriente Médio e África (Palestina, Mesopotâmia, Pérsia, Egito e Norte da África).
O Islão se alastrou até a Europa, quando, em 711, Gibral Tarik atravessou o estreito que ainda hoje trás o seu nome, atingindo a Península Ibérica (Espanha e Portugal).
Os muçulmanos só foram detidos em 732, na Batalha de Poitiers (França), por Carlos Martel, chefe dos exércitos do Reino Franco.
A conversão dos povos conquistados foi planejada pelos líderes árabes, por meio de facilidades fiscais aos que se convertessem em fiéis seguidores de Alá. Quem recusasse tinha de pagar mais impostos para os conquistadores árabes.

A Dinastia dos Abássidas

Em 750, iniciou-se a nova dinastia de origem persa: os Abássidas.
Os califas abássidas fundaram nova capital em Bagdá e transformaram o Império Islâmico numa teocracia, desenvolvendo uma poderosa burocracia estatal. O comércio entre o Extremo Oriente (China e Índia) e o Ocidente (mediterrâneo) foi bastante incentivado.
O apogeu abássida ocorreu com Harum al-Rashid (786-809). Este califa teve contatos diplomáticos com Carlos Magno, grande imperador europeu do período.
O Império Islâmico foi extremamente vasto, abrangendo desde a península Ibérica até as margens do Indo. Surgiram interesses internos contraditórios à autoridade central o que levou à ruptura da unidade imperial.
Em 788 os Idríssidas tomaram o poder no Marrocos, e em 909 o Egito foi tomado pelos Fatimidas. A partir do século XI os turcos seudjúcidas se tornaram uma permanente ameaça. Finalmente o Império Islâmico deu lugar ao Império Turco.

Alta Idade Média (Parte 06/10)


O Profeta Maomé

Nascido em 570 d.C., Maomé era condutor de caravanas de mercadorias na região do Oriente Médio. Em suas viagens teve contato com as religiões monoteístas dos judeus e dos cristãos que muito o influenciaram.
Por volta de 610 d.c., Maomé, “O Profeta”, deu início a pregação de uma nova religião monoteista na região de Meca, o Islamismo.

A Hégira

Meca era o ponto de convergência comercial e religioso dos povos árabes. Milhares de fiéis se dirigiam para lá o ano todo em peregrinação à Caaba, templo para adorar suas centenas de deuses. Os coraixitas, elite politeísta, dominavam Meca, pois tinham muitas vantagens pelo fato de serem os guardiões da Caaba.
Maomé foi perseguido e suas idéias religiosas reprimidas em Meca, isto forçou-o a retirar-se da cidade e partir em direção a Iatreb em 622 d. C., esse episódio marca o início da história islâmica e recebeu o nome de Hégira.
O refúgio de Maomé em Iatreb valeu a mudança do nome desta cidade para Medina (cidade do Profeta). Em Medina, Maomé organizou um exército islâmico com o objetivo de conquistar Meca, empreendendo uma guerra santa (djihad), através da qual se impôs entre os árabes a fé em Ala, o Deus único.
A unificação religiosa correspondeu a unificação política dos árabes. Houve, então, a formação do Império Islâmico.
Islão, na língua árabe, significa submissão a Alá. O Alcorão ou Corão, o livro sagrado do Islamismo, se configura num código jurídico e moral. A rápida difusão do islamismo se deve à simplicidade de seus ensinamentos.
Os que professam o islamismo são denominados muçulmanos, islamitas ou maometanos. Estes devem observar alguns preceitos religiosos: fé em Alá e na missão de Maomé, a oração cinco vezes ao dia, jejum durante o mês do Ramadã, dar esmola e peregrinação ao menos uma vez à Meca.
Além das obrigações religiosas o Corão proíbe a carne de porco, as bebidas alcoólica, os jogos de azar, o roubo, o homicídio e a representação da figura humana. A poligamia é permitida desde que o homem tenha condição de sustentar todas as esposas.

Alta Idade Média (Parte 05/10)

lua do islamismo

CIVILIZAÇÃO ÁRABE - O ISLÃ

O Contexto Geográfico

A denominação árabe se deve ao fato desse povo ter se desenvolvido na Península Arábica. Região desértica de clima quente e seco pontilhada por alguns oásis no interior e refrescada na região costeira pelos ventos e brisas que sopram do Golfo Pérsico a leste, do Mar vermelho a oeste e do Oceano Índico ao sul.
As principais cidades, Meca e Iatreb, situam-se na faixa fértil próxima ao Mar Vermelho, conhecida como Arábia feliz. Esses centros urbanos sempre tiveram como principal atividade o comércio e, no caso de Meca, um centro de peregrinação religiosa.

A Arábia Pré-Islâmica

Os árabes são de origem semita e habitam essa região desde tempos muito remotos. Até o século VII d.C. os árabes dividiam-se em dois grupos principais: os beduínos, nômades e semi-nômades organizando-se em tribos lideradas pelos Xeques (Chaikh), essas tribos estavam permanentemente em guerra entre si pelo controle dos escassos oásis do deserto. A religião era muito primitiva, temiam os demônios e adoravam pedras sagradas.
Nas franjas férteis da Arábia desenvolveu-se uma cultura mais estruturada e sedentária. A principal atividade era o comércio, e alguns comerciantes enriquecidos formaram uma verdadeira aristocracia comercial pertencente a tribo Koraich na cidade de Meca.
Apesar de haver uma língua árabe comum e um leve sentimento de unidade e parentesco, as rivalidades intertribais e o politeísmo dificultaram durante séculos a unificação política e administrativa.

Alta Idade Média (Parte 04/10)

As diferenças de fé e autoridade levaram à separação das Igrejas: Ocidental e Oriental

O CISMA DO ORIENTE (1054)

As heresias bizantinas provocaram uma paulatina ruptura entre as Igrejas cristãs do Oriente e do Ocidente, finalmente aconteceu em 1054, quando o patriarca bizantino excomungou o Papa romano e vice-versa. Esse episódio passou para a história como Cisma do Oriente.
Desde então na Europa (Ocidente) a Igreja passou a denominar-se Católica Apostólica Romana, com sede em Roma e liderada pelo Papa, enquanto a Igreja Bizantina passou a denominar-se Ortodoxa, liderada pelo Patriarca de Constantinopla.

DECADÊNCIA

O Império Bizantino resistiu durante muito tempo às invasões de estrangeiros, mas no século VIII os árabes conquistaram amplos territórios bizantinos na África e no Oriente Médio.
Os cristãos da Quarta Cruzada (1202-1204) promoveram um grande saque em Constantinopla. Lá fundaram o reino latino do Oriente que durou até 1261, nesse intervalo de tempo a capital bizantina transferiu-se para Nicéia.
As investidas mais sérias contra Bizâncio foram feitas pelos turcos otomanos. Durante o século XIV tomaram toda a Ásia Menor e os Bálcãs, reduzindo os bizantinos praticamente a cidade de Constantinopla, que ainda teve fôlego para resistir até 1453 ao assédio turco, quando por fim foi invadida pelo sultão Maomé II, tornando-se capital do Império Otomano sob o nome de Istambul.

Alta Idade Média (Parte 03/10)

Imperador Constantino e a Rainha Helena

AS QUESTÕES RELIGIOSAS

Como sabemos o Império Bizantino era uma Teocracia ou Cesaropapismo (cesar + papa), onde o poder do Estado não se distinguia do poder eclesiástico. A vida religiosa e política estavam muito ligadas e questões religiosas tinham grande repercussão política. O imperador (césar) era tido como o representante de Deus no mundo (papa).

AS HERESIAS

As heresias tem sua origem nas discussões sobre assuntos religiosos (dogmas) travadas pelos membros da Igreja. Os dogmas eram expressão da interpretação oficial da Igreja sobre as escrituras. As heresias interpretavam os dogmas da fé de maneira diferente da Igreja.
Tiveram grande importância dentro do Império Bizantino sendo que muitas guerras foram travadas por causa delas. As heresias mais importantes foram:
Arianismo: o bispo Ário negou o dogma da Santíssima Trindade (Pai, Filho e o Espírito Santo). Ário afirmou a supremacia do Pai sobre o Filho e Espírito Santo afirmando que a trindade se chocava com uma concepção monoteísta de religião.
Suas idéias heréticas ficaram conhecidas como arianismo e foram condenadas pelo primeiro Concílio de Nicéia, em 325. Nesse Conclave ficou estabelecido que as três pessoas da Trindade eram consubstanciais (mesma substância), portanto o dogma não era contraditório com o monoteísmo.

Monofisismo: o dogma duofisista pregava que Jesus Cristo teria duas naturezas: uma humana e material, que sofreu e morreu pela humanidade; e outra divina, do Filho que tem a mesma substância do Pai.
O monofisismo elaborado por Eutiques negou a natureza humana de Cristo, os hereges monofisistas aceitavam somente a pessoa divina de Cristo. O Concílio de Calcedônia, de 451, condenou o monofisismo, provocando grandes conflitos dentre seus adeptos e a igreja.

Nestorianismo: um dos dogmas mais rígidos da Igreja era a virgindade de Maria e a concepção de Jesus Cristo sem pecado. No entanto o Bispo Nestório negou esses dogmas dando origem a uma heresia conhecida como Nestorianismo, que foi condenada pelo Concílio de Éfeso.

Iconoclastia: no final do Império Romano quando a Igreja cristã estava se fortalecendo enquanto instituição houve uma imensa conversão de pagãos ao cristianismo. Nesse momento houve a assimilação por parte da Igreja que se formava do culto das imagens trazido pelos pagãos.
As imagens dos deuses pagãos foram substituídas pela dos santos (mártires do cristianismo), aos quais os cristãos rendiam veneração por seus atos de bravura na propagação da nova religião.
Dessa forma o culto de imagens de santos e da divindade, ganhou força dentre os cristãos tornando-se um dogma da Igreja, pois esta já os estava canonizando.
Leão III (712-741) negou o culto das imagens, pregando sua destruição (icone = imagem; clastos = destruir), essa heresia foi condenada pelo Concílio de Nicéia II.
Apenas em 843, a Igreja resolveu o problema quando definiu que às imagens cabia a veneração, e a Deus cabia a adoração.
As heresias foram responsáveis por revoltas e guerras dentro do Império Bizantino, levando as autoridades a intervirem nas questões religiosas, pois o que dizia respeito à religião se ligava também com a política.

Alta Idade Média (Parte 02/10)

Igreja de Santa Sofia

ARTE BIZANTINA

A arte bizantina marca o início de um estilo tipicamente medieval que rompeu com os padrões estéticos clássicos. Isso é facilmente notado no hieratismo, decorativismo e cerimonialismo cristãos marcantes. Utilizou-se de grande variedade de materiais e não economizou nos detalhes.
Na arquitetura destacou-se a construção de igrejas, com especial atenção à Igreja de Santa Sofia construída por Justiniano em Constantinopla, um dos melhores exemplos da arquitetura medieval. Outra construção importante é a Igreja de São Vital em Ravena na Itália, construída durante a dominação bizantina na região.
As igrejas bizantinas eram construídas com planta em forma de cruz com braços iguais (cruz grega) e trazem grandes cúpulas.
Na decoração os bizantinos representavam os imperadores ou cenas religiosas em mosaicos feitos de pequenas pedras ricamente detalhados e coloridos. Os mosaicos evoluíram do simbolismo para um estilo histórico e realista, que tendia a individualizar as características físicas dos personagens, as cenas se tornaram mais vivas e narrativas. Nas colunas e capitéis o mármore colorido era utilizado.
Os ícones foram uma expressão artística tipicamente bizantina, pois se ligava totalmente a religião oficial. O artista tinha de estar em jejum e em permanente oração para conseguir transmitir um sentido de religiosidade à obra de arte. Destacam-se os ícones representando Jesus Cristo e a virgem Maria.

Alta Idade Média (Parte 01/10)


IMPÉRIO BIZANTINO

Devido à crise geral na cidade de Roma que se refletiu por todo o Império entre os séculos III e V o Imperador Constantino construiu uma nova capital para o Império Romano na região de uma antiga colônia grega chamada Bizas, no estreito de Bósforo.
A nova capital foi inaugurada no ano de 330 e foi batizada de Constantinopla (cidade de Constantino).
A origem do Império Bizantino deu-se no ano de 395 quando o Imperador Teodósio decretou a divisão do Império Romano, subdividindo-o em Império Romano do Ocidente com capital em Roma e, Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla. No século V, a parte oriental já se denominava Império Bizantino.
A Civilização Bizantina deu continuidade à romana, pois resistiu às invasões bárbaras durante toda a Idade Média, até 1453, quando, finalmente, Constantinopla caiu sob os ataques dos turcos otomanos, tornando-se capital do Império Turco, atual Istambul, capital da Turquia.

JUSTINIANO

Houveram muitos imperadores na história bizantina, porém Justiniano e sua imperatriz Teodora destacam-se pela grandeza de seu reinado.Justiniano reinou de 527 a 565.
Seu principal objetivo era restaurar a unidade do Império Romano, perdida com as invasões na parte ocidental. Recuperou os territórios do Norte da África dos vândalos, o sul da Península Ibéria dos visigodos e a Península Itálica dos ostrogodos. Apesar do sucesso obtido nesse intento, ele se revelou efêmero, pois as reconquistas eram precárias.
Para manter seus imensos gastos com as guerras, Justiniano aumentou muito os impostos estabelecendo uma verdadeira tirania tributária que levou a uma grande revolta popular (sedição de Nika) em Constantinopla, que pedia a abdicação do Imperador e resultou num massacre com milhares de mortes em 532. Sua vitória nesse episódio favoreceu a centralização e o absolutismo imperial.
Justiniano lutou contra o paganismo, pela propagação do Cristianismo e decretou o fechamento da Academia Platônica.

O CORPUS JURIS CIVILIS

Justiniano é mais conhecido por ter sido responsável pela reorganização do Código de Direito Romano, o notável Corpus Juris Civilis, que ainda hoje se compõe enquanto base do direito ocidental. Essa obra subdivide-se em:
• Código: Reúne as leis da época de Adriano até Justiniano.
• Digesto ou Pandectas: Trata da jurisprudência romana, ou seja, da organização, interpretação e comentários dos juristas romanos sobre as leis romanas.
• Institutas: Destinada aos estudantes, resumia o Corpo de Direito Romano em seus elementos básicos.
• Novelas ou Autênticas: É o grupo de novas leis feitas pelo imperador Justiniano.

O mundo da Guerra Fria – Resumo (Parte 04/04)


O bloqueio de Berlim

Após a Segunda Guerra, em 1945, a Alemanha, derrotada, foi dividida em quatro zonas de ocupação: soviética, britânica, norte-americana e francesa.
Berlim, a antiga capital alemã, localizada na zona de ocupação soviética, também estava dividida: a parte ocidental, que correspondia a três quartos da cidade, estava nas mãos dos britânicos, franceses e norte-americanos.
Em 1948, Stálin determinou o bloqueio de Berlim Ocidental, para tentar integrá-la ao lado oriental. Porém, esse setor da cidade recebeu apoio e abastecimento, principalmente dos norte-americanos. Após quase um ano, os soviéticos suspenderam o bloqueio.
No ano de 1949, a Crise de Berlim, como passou a ser conhecida essa questão, resultou na divisão da Alemanha em dois países:
• República Federal da Alemanha, com capital em Bonn, sob o controle norte-americano;
• República Democrática Alemã, com capital em Berlim Oriental, sob o controle soviético.
Para separar fisicamente a cidade e evitar que refugiados passassem de Berlim Oriental para a parte ocidental, em 1961 Nikita Krushev ordenou a construção do Muro de Berlim, separando centenas de famílias. Esse muro foi considerado um dos principais símbolos da Guerra Fria.

O mundo da Guerra Fria – Resumo (Parte 03/04)


As duas potências: a expansão da União Soviética

A Segunda Guerra Mundial também levou a União Soviética à condição de grande potência mundial. Contava com o apoio de vários países do Leste europeu que viviam sob o regime socialista.
Em 1947, a União Soviética criou o Kominform, um organismo que reunia todos os partidos comunistas do Leste europeu para uma ação conjunta, com o objetivo de expandir o socialismo. Em 1949, criou também o Comecon - Conselho de Assistência Mútua, com sede em Moscou, cujo objetivo era a ajuda mútua para o desenvolvimento dos países-membros.
Em maio de 1955, em resposta à criação da OTAN, a União Soviética incentivou a formação de uma aliança militar entre os países do bloco comunista da Europa, que resultou no Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua, mais conhecido como Pacto de Varsóvia.

O mundo da Guerra Fria – Resumo (Parte 02/04)


As duas potências: os Estados Unidos

Em 1947, o presidente norte-americano Harry Truman fez um discurso no Congresso no qual anunciou diretrizes para a política externa. Esse seu pronunciamento ficou conhecido como Doutrina Truman, a qual afirmava que devido à expansão do comunismo na Europa, era preciso uma política de auxilio a qualquer país que tivesse a sua integridade ameaçada, tanto interna quanto externamente.
Ainda no mesmo ano, seguindo as linhas estabelecidas pela Doutrina Truman, o Secretário de Estado norte-americano, George C. Marshall, lançou um novo programa econômico, conhecido como Plano Marshall, prometendo ajuda financeira, militar e técnica aos países da Europa Ocidental arrasados pela guerra, inclusive à Alemanha e à Itália. Posteriormente, o auxílio dos Estados Unidos foi dirigido para os países que conseguiram sua independência.
O Japão, a China nacionalista e alguns Estados da África também foram beneficiados com a ajuda norte-americana.
Em 1949, com o objetivo de proteger a Europa Ocidental da expansão comunista, foi organizada uma aliança militar, a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte. Sob a liderança dos Estados Unidos, era formada pelo Canadá, Reino Unido, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Noruega, Islândia, Portugal e Itália. A Grécia e a Turquia entraram para a organização em 1952 e, posteriormente, a Alemanha Ocidental.

O mundo da Guerra Fria – Resumo (Parte 01/04)


Ao lançar as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, os Estados Unidos mostraram ao mundo, em especial à União Soviética, todo o seu poderio bélico. As relações entre as duas potências vencedoras da guerra ficaram bastante tensas e elas passaram a disputar áreas de influência internacional.
Esse estado de tensão permanente, primeiro entre essas duas potências e, logo depois, entre os blocos encabeçados por elas, é chamado de Guerra Fria. Esse período estendeu-se até a década de 80.
Durante o período da Guerra Fria, ocorreu a descolonização da Ásia e da África. O declínio dos países europeus depois da guerra e o avanço do nacionalismo estimularam os movimentos de libertação. Na Ásia, conseguiram sua independência a Índia, a Indonésia, a Indochina; na África, a Argélia, o Congo, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, entre outras colônias.
Ainda na Ásia, o comunismo avançou com a Revolução Socialista na China e também ocorreram dois grandes conflitos: a Guerra da Coréia e a Guerra do Vietnã.
Na América Latina, com o avanço do imperialismo norte-americano e a expansão das idéias socialistas, ocorreram revoluções e golpes, em que se confrontaram capitalistas e socialistas. Cuba foi o único país da América que conseguiu derrotar o imperialismo norte¬-americano e implantar o socialismo.

Fonte: Caderno do Futuro. IBEP

Salvador Dali - Apollinaire - The Beach at Sete

Salvador Dali - Apollinaire - The 1914-18 War

Salvador Dali - Apollinaire - Frontispiece

A violência em nossos dias


A onda crescente de delinqüência que se espalha por toda a Terra assume proporções catastróficas, imprevisíveis, exigindo de todos os homens honestos e lúcidos muitas reflexões.
Irrompendo, intempestivamente, faz-se avassaladora, em vigoroso testemunho de barbárie, qual se a loucura se abatesse sobre as mentes, em particular junto à inexperiente juventude, em proporções inimagináveis e aflitivas.
Sociólogos, educadores, psicólogos e religiosos, preocupados com a expressiva quantidade de delinqüentes de toda sorte, especialmente os perversos e violentos, aprofundam pesquisas, improvisam soluções, experimentam métodos mal elaborados.
Precipitadamente oferecem sugestões que triunfam por um dia e sucumbem no dia imediato, tudo prosseguindo como antes, senão mais turbulento, mais inquietador.
Enquanto a delinqüência estava quase que só entre os jovens das classes sociais menos aquinhoadas, era atribuída à falta de recursos financeiros e de educação.
Mas hoje, a mídia tem divulgado inúmeros casos de perversidade e violência praticados por jovens que pertencem a famílias abastadas. O que afasta a hipótese de falta de dinheiro ou de instrução.
Tudo isso nos leva a crer que a linhagem social e a tradição não são obstáculos à manifestação da delinqüência, uma vez que dentro dessas famílias os exemplos nem sempre são salutares.
Percebe-se, no seio das famílias ditas tradicionais, a inversão de valores, a corrupção dos costumes, o desprezo às leis, a imposição dos caprichos pessoais em detrimento da justiça, e assim por diante.
Ainda na mesma linha de raciocínio, percebe-se pais que transferem a educação a terceiros, porque não têm tempo para dedicar à prole, uma vez que precisam dedicar as horas aos compromissos sociais.
Não se dão conta, esses pais, que pela vivência estabelecem diretrizes de comportamento aos filhos, de cujas ações não podem se queixar mais tarde.
Ademais, devemos considerar que a leviandade de mestres e educadores imaturos, não habilitados moralmente para os relevantes misteres de preparação das mentes e caracteres em formação, contribui, igualmente, com larga quota de responsabilidade no capítulo da delinqüência juvenil, da agressividade e da violência vigentes.
Devemos considerar ainda, que se quisermos eliminar o problema da perversidade e da violência da nossa sociedade, será preciso mais que medidas punitivas.
Será preciso reformular conceitos, repensar valores, reformar a intimidade, e adotar a doutrina cristã como diretriz segura, para os nossos passos.
Ensinar à criança e ao jovem a valorização e o respeito pela vida, através do próprio exemplo.
E, por fim, apresentar Jesus aos nossos filhos. Apresentá-Lo como Modelo e Guia da Humanidade, como Psicoterapeuta ideal que nos conduzirá a Deus, porque conhece o caminho.

Fonte: Momento de Reflexão

A Guerra dos Mascates


A Guerra dos Mascates ocorreu em Pernambuco e, aparentemente, foi um conflito entre senhores de engenho de Olinda e comerciantes do Recife. Estes últimos, denominados "mascates", eram, em sua maioria, portugueses.
Antes da ocupação holandesa, Recife era um povoado sem maior expressão. O principal núcleo urbano era Olinda, ao qual Recife encontrava-se subordinado.
Porém, depois da expulsão dos holandeses Recife tornou-se um centro comercial, graças ao seu porto excelente, e recebeu um grande afluxo de comerciantes portugueses.
Olinda era uma cidade tradicionalmente dominada pelos senhores de engenho. O desenvolvimento de Recife, cidade controlada pelos comerciantes, testemunhava o crescimento do comércio, cuja importância a atividade produtiva agroindustrial açucareira, à qual se dedicavam os senhores de engenho olindenses.
O orgulho desses senhores havia colocado em crise a produção açucareira do nordeste. Mas ainda eram poderosos, visto que, controlavam a Câmara Municipal de Olinda.
À medida que Recife cresceu em importância, os mercadores começaram a reivindicar a sua autonomia político-administrativa, procurando libertar-se de Olinda e da autoridade de sua Câmara Municipal. A reivindicação dos recifenses foi principalmente atendida em 1703, com a conquista do direito de representação na Câmara de Olinda. Entretanto, o forte controle exercido pelos senhores sobre a Câmara tornou esse direito, na prática, letra morta.
A grande vitória dos recifenses ocorreu com a criação de sua Câmara Municipal em 1709, que libertava, definitivamente, os comerciantes da autoridade política olindense. Inconformados, os senhores de engenho de Olinda, utilizando vários pretextos, como a demarcação dos limites entre os dois municípios, por exemplo, resolveram fazer uso da força para sabotar as pretensões dos recifenses. Depois de muita luta, que contou com a intervenção das autoridades coloniais, finalmente em 1711 a nomeação de um novo governante que teve como principal missão estabelecer um ponto final ao conflito.
O escolhido para essa tarefa foi Félix José de Mendonça, que apoiou os mascates portugueses e estipulou a prisão de todos os latifundiários olindenses envolvidos com a guerra. Além disso, visando evitar futuros conflitos, o novo governador de Pernambuco decidiu transferir semestralmente a administração para cada uma das cidades. Dessa maneira, não haveria razões para que uma cidade fosse politicamente favorecida por Félix José, desta forma, Recife foi equiparada a Olinda e assim terminou a Guerra dos Mascates.
Em 1714, o rei D. João V, resolveu anistiar todos os envolvidos nessa disputa, manteve as prerrogativas político- administrativas de Recife e promoveu a cidade ao posto de capital do Pernambuco.

Fonte: Portal Sohistoria