Às três feridas narcísicas mencionadas por Freud, precisamos
acrescentar mais uma: a que nos foi infligida por Marx com a noção de ideologia.
Para compreendê-la, precisamos primeiro compreender o fenômeno da alienação
social.
Marx era filósofo, advogado e historiador, e interessou-se
por um estudo feito por um outro filósofo, Feuerbach. Este investigara o modo
como se formam as religiões, isto é, o modo como os seres humanos sentem
necessidade de oferecer uma explicação para a origem e a finalidade do mundo.
Ao buscar essa explicação, os humanos projetam fora de si
um ser superior dotado das qualidades que julgam as melhores: inteligência,
vontade livre, bondade, justiça, beleza, mas as fazem existir nesse ser
superior como superlativas, isto é, ele é onisciente e onipotente, sabe tudo,
faz tudo, pode tudo. Pouco a pouco, os humanos se esquecem de que foram os
criadores desse ser e passam a acreditar no inverso, ou seja, que esse ser foi
quem os criou e os governa. Passam a adorá-lo, prestar-lhe culto, temê-lo. Não
se reconhecem nesse Outro que criaram. Em latim, “outro” se diz: alienus.
Os homens se alienam e Feuerbach designou esse fato com o nome de alienação.