"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)
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Como as democracias morrem – Steven Levitsky e Daniel Ziblatt



Democracias tradicionais entram em colapso? Essa é a questão que Steven Levitsky e Daniel Ziblatt – dois conceituados professores de Harvard – respondem ao discutir o modo como a eleição de Donald Trump se tornou possível. Para isso comparam o caso de Trump com exemplos históricos de rompimento da democracia nos últimos cem anos: da ascensão de Hitler e Mussolini nos anos 1930 à atual onda populista de extrema-direita na Europa, passando pelas ditaduras militares da América Latina dos anos 1970. E alertam: a democracia atualmente não termina com uma ruptura violenta nos moldes de uma revolução ou de um golpe militar; agora, a escalada do autoritarismo se dá com o enfraquecimento lento e constante de instituições críticas – como o judiciário e a imprensa – e a erosão gradual de normas políticas de longa data. Sucesso de público e de crítica nos Estados Unidos e na Europa, esta é uma obra fundamental para o momento conturbado que vivemos no Brasil e em boa parte do mundo e um guia indispensável para manter e recuperar democracias ameaçadas. São Paulo: Zahar, 2018. 272p. 

Gentilmente cedido pela colega Profª Augusta (CEAT)

China Imperial (Parte 04/04)

Ilustração de duelo entre Garça e Serpente

Novas forças sociais

O sistema imperial tentou em vão controlar as novas forças sociais e econômicas que se desenvolviam rapidamente e ameaçavam a manutenção da unidade política e territorial da China. Mesmo assim, foi somente em 1910 que se verificou um nítido impulso no sentido das classes comerciais burguesas se libertarem da influência da burocracia imperial.
De qualquer modo, as áreas territoriais mais avançadas urbana e industrialmente permaneceram sob controle estrangeiro até a segunda metade do século 20. E até a data mencionada, a sociedade chinesa permaneceu predominantemente agrária, com uma classe média numericamente insignificante e politicamente dependente.

Colapso do sistema imperial

O sistema imperial chinês foi minado por forças internas que tinham interesses conflitantes. Essa situação levou o país a um período de anarquia, que resultou na mudança do regime político: a proclamação da República.
Quais as contradições sociais responsáveis pelo colapso do sistema imperial? Pode-se afirmar que, até o final do século 19, as classes dominantes chinesas (ou seja, os proprietários fundiários) continuaram a ser a base de sustentação de todo o sistema imperial. Fatores externos, sobretudo ligados às pressões militares de nações européias, levaram, no entanto, a classe dominante chinesa a se dissociar.
O principal fator de desintegração do sistema imperial emergiu diante das necessidades crescentes dos últimos governantes da dinastia Manchu de concentrar recursos materiais e financeiros para fazer frente às rebeliões internas e aos inimigos externos. As necessidades materiais e financeiras só puderam ser atendidas a partir da destruição do amplo sistema de privilégios que unia a burocracia administrativa e a classe fundiária.

China Imperial (Parte 03/04)

Ilustração de Yim Wing Chun

Na ausência de obrigações feudais surge, na China imperial, controlada pela dinastia Manchu, a questão de se saber como a classe de proprietários fundiários conseguia obrigar os camponeses a trabalharem na terra. De acordo com estudiosos do período, o trabalho dos camponeses era baseado em contratos de arrendamento de tipo capitalista. Evidentemente, havia variações regionais, mas pode-se dizer que na maioria das zonas agrícolas o proprietário fundiário fornecia a terra e os camponeses, a mão-de-obra.
Sabe-se que, por volta de 1810, cerca de 80% das terras cultivadas na China estavam em poder da classe dos grandes senhores fundiários e o restante, 20%, pertencia aos camponeses. A colheita era dividida entre ambos e ao que tudo indica a troca em espécie prevalecia até mesmo nos pagamentos de impostos devidos ao imperador.

Superpopulação de camponeses

A existência de uma superpopulação de camponeses interessava diretamente aos senhores proprietários fundiários, pois facilitava o arrendamento das terras através de um maior grau de extração de excedente econômico. Ou seja, num contexto social de superpopulação, a competição entre os camponeses diante da necessidade de prover o próprio sustento levava-os a trabalhar nas terras por níveis cada vez mais baixos de remuneração (neste caso, a porção de alimento produzido).
As pressões da grande massa de camponeses sobre as terras cultiváveis aumentaram consideravelmente no final do século 18 e se agravaram nas décadas seguintes, transformando-se num fator importante a contribuir para minar a estrutura social.

Urbanização e industrialização

A urbanização e a industrialização ocorreram tardiamente na China. O sistema imperial, em particular a burocracia administrativa, impediu o quanto pôde a modernização do país, evitando a adoção da agricultura comercial, o surgimento de uma burguesia comercial e núcleos urbanos autônomos capazes de contrapor-se aos grandes proprietários fundiários (como ocorreu na Europa Ocidental na última fase do feudalismo).
Avanços na urbanização e industrialização começaram a ganhar fôlego no final do século 18 diante de dois processos concomitantes: a decadência da máquina administrativa imperial e as pressões externas provenientes das nações européias ocidentais, que tinham interesses militares e comerciais na China.
O domínio tradicional da classe culta de funcionários-intelectuais declinou nas zonas costeiras, permitindo assim o surgimento de núcleos urbanos e o aparecimento de uma burguesia comercial nativa que se opôs às pretensões de centralização do poder político sob o sistema imperial.

China Imperial (Parte 02/04)

Dinastia Manchu em 1644

Estrutura fundiária

Um dos principais fatores, talvez o mais importante, para se compreender a estrutura fundiária da sociedade chinesa é entender o mecanismo social de acumulação material, que estava fortemente baseado na relação entre o serviço burocrático imperial e o investimento na compra de terras.
A classe proprietária de terras era constituída por clãs familiares. Para assegurar a propriedade da terra e aumentar a fortuna material da família era importante que algum membro do clã obtivesse um cargo oficial junto à estrutura burocrática imperial. As fortunas obtidas por meio do serviço imperial eram investidas em terras.
Em teoria, os cargos oficiais estavam abertos a todos, incluindo até mesmo os camponeses mais pobres, mas a ausência de um sistema de educação popular diminuía consideravelmente as chances daqueles que não pudessem contar com o apoio de uma família rica para custear os estudos, que exigiam muitos anos de dedicação.

Controle da mão-de-obra camponesa

Entre os funcionários burocráticos havia uma nítida distinção entre aqueles que possuíam ou não formação cultural e grau acadêmico. Os "intelectuais" formavam a classe de funcionários burocráticos que possuíam formação acadêmica (mandarins). Sendo a propriedade da terra o fator decisivo na dominação da mão-de-obra camponesa, os cargos oficiais mais importantes (que interessavam à classe de proprietários) eram justamente aqueles que diziam respeito ao controle das terras.
Além disso, o proprietário de terras dependia da burocracia imperial para a realização de benfeitorias, como grandes obras de irrigação e a construção de sistemas de controle de águas adequados, que ajudassem a obter boas colheitas.
O sistema político cumpria, portanto, a dupla função de assegurar a propriedade e de fazê-la render. Mas além de realizar essas duas funções, a burocracia imperial cumpria o papel de manter a ordem, evitando que o crescimento da população de camponeses ameaçasse os direitos de propriedade.

China Imperial (Parte 01/04)

Xuantong, último imperador da dinastia Manchu

Dinastia Manchu controlava sociedade agrícola

Nas últimas duas décadas do século 20 a República Popular da China atraiu a atenção do mundo em razão do seu acelerado crescimento econômico e intenso processo de modernização social. A China emerge como potência mundial e, segundo todas as estimativas, o país está destinado a ocupar uma posição de destaque no cenário internacional no transcurso do século 21.
O progresso e o desenvolvimento econômico e social da China estão fortemente assentados sobre o regime comunista que se estabeleceu com a Revolução de 1949. Para compreendermos a vitória revolucionária dos comunistas, bem como a China contemporânea, é imprescindível considerarmos primeiramente os períodos históricos precedentes, em que o país esteve sob domínio imperial e posteriormente sob o regime republicano.

Dinastia Manchu

Durante o período em que vigorou o sistema imperial a China era uma sociedade predominantemente agrária, permanecendo assim até as vésperas da Revolução de 1949. Ao contrário da Europa medieval, porém, a China imperial não conheceu o feudalismo, e pode-se dizer que o sistema de vassalagem e as concessões de terra em troca de serviços militares (que representavam a base do sistema feudal ocidental) sempre foram muito limitados naquele país.
A dinastia Manchu (1644-1911) representou a última fase do sistema imperial. O poder político estava fortemente centralizado nas mãos dos imperadores que se sucederam no trono: Nurhachi (1616-1625); Huang-Taiji (1625-1643); Shunzhi (1643-1661); Kangxi (1661-1722); Yongzheng (1722-1735); Qianlong (1735-1796); Jiaqing (1796-1820); Daoguang (1820-1850); Xianfeng (1850-1861); Tongzhi (1861-1875); Tzu Hsi (1875-1908), e Xuantong (1908-1912).
Os imperadores controlavam o vasto país por meio de um extenso aparelho administrativo, constituído por uma classe de funcionários recrutados segundo critérios burocráticos (chamado de sistema de exames). A estrutura econômica se baseava na produção agrícola e a sociedade chinesa era composta por uma diminuta classe de proprietários de terras e uma grande maioria de camponeses.

Texto produzido por Renato Cancian. Portal UOL Educação.

Dinastias Sui e Tang: reunificação e esplendor do império (Parte 07/07)

Mapa dos domínios da Dinastia Tang

A decadência da dinastia Tang

Outros problemas assolaram o país: uma grande seca e uma praga de gafanhotos trouxeram a fome e provocaram uma série de revoltas camponesas. Uma delas ocorreu no século 9, quando vários camponeses famintos saquearam as duas capitais, Chang'an e Luoyang. Apesar de derrotada, essa rebelião enfraqueceu o exército chinês e contribuiu para o declínio da dinastia Tang.
A partir do ano 902, teve início uma longa guerra civil que levou ao esfacelamento do país em vários reinos menores. Em 906, o general Zhu Wen depôs o último imperador Tang e deu início ao período das cinco dinastias, 907-960, também conhecido como período dos dez reinos.
A China voltou a ser reunificada somente a partir do ano 960. O responsável por isto foi o general Zhao Kuangyin que deu início a uma nova dinastia - a dos Song (960-1279). Os Song conseguiram reunificar a maior parte da China, exceto a parte norte que estava sendo governada por um povo mongol. Durante esta dinastia, a China se tornará pioneira no uso do papel-moeda e no da pólvora. Mas essa já é uma outra história.

Dinastias Sui e Tang: reunificação e esplendor do império (Parte 06/07)


Fase de prosperidade

Durante a dinastia Tang, a China conheceu uma fase de grande prosperidade e progresso técnico e material. Entre as inovações que marcaram o período está o aparecimento do primeiro relógio mecânico, no ano 732, inventado por um monge budista chinês.
Outras invenções que marcaram o período foram a bússola e a técnica de imprimir livros. Enquanto na Europa, nos mosteiros católicos, os chamados monges copistas tinham que transcrever manualmente livros antigos para se obter novas cópias, na China já era possível imprimir vários exemplares de um mesmo livro.
Essa mesma técnica de impressão permitiu que as provas para os concursos públicos chineses da época fossem impressas. Durante a dinastia Tang, a China teve suas fronteiras ampliadas e o comércio se expandiu. O período também foi marcado pela fundação de várias escolas de medicina, não apenas na capital, Chang'an, mas também nas províncias.
Uma das conseqüências do desenvolvimento econômico foi o extraordinário aumento da população, favorecido pela melhoria nas condições de vida da maioria dos habitantes. Segundo o primeiro censo, realizado em 754, a população da China já havia ultrapassado a faixa dos 50 milhões, um número excepcional para a época.
No entanto, essa prosperidade não durou para sempre. O final da dinastia Tang foi conturbado, marcado por uma série de crises. Durante o reinado de Taizong, os camponeses pagavam impostos em espécie (entregando parte do arroz que plantavam) ou na forma de trabalho; mas, a partir de 780, o governo passou a exigir que os impostos fossem pagos em dinheiro. Tal exigência era impossível de ser cumprida pela maioria dos camponeses e, por isso, muitos deles perderam suas terras.

Perseguição aos budistas

Outro problema que surgiu foi a escassez de cobre e outros metais para cunhar moedas. Naquela época, o dinheiro era todo na forma de metal. Falta de metal era igual a falta de dinheiro. O governo colocou a culpa nos templos budistas que usavam bronze e outros metais para construir seus sinos e estátuas.
Em meados do século 9, ele começou a confiscar todos os objetos de metal dos templos budistas para derretê-los e cunhar novas moedas. Outra medida foi baixar um decreto que acusava o budismo de ser uma religião estrangeira (surgiu onde hoje é o Nepal), que estava enfraquecendo o país.
O governo se apropriou das terras onde estavam vários mosteiros budistas. Alguns foram destruídos enquanto outros foram transformados em edifícios públicos. Devido à extensão da China, essas medidas antibudistas só conseguiram ser cumpridas em algumas regiões. Nas outras, eles continuaram praticando sua religião nos templos e mosteiros.

Dinastias Sui e Tang: reunificação e esplendor do império (Parte 05/07)

Wu Hou foi a única mulher a ser reconhecida
oficialmente como imperatriz da China

Reforma agrária e concursos públicos

Durante o reinado de Taizong, o governo tomou medidas que contribuíram bastante para o desenvolvimento da China. Uma delas foi a reforma agrária: o imperador desapropriou as terras que pertenciam aos seus inimigos (era uma forma de evitar que os nobres se rebelassem contra o imperador) e as dividiu entre os camponeses que nela trabalhavam (conquistando, assim, apoio popular).
Para administrar o país, o imperador precisava de funcionários públicos qualificados. Então ele instituiu concursos públicos, nos quais os candidatos que apresentassem melhor desempenho nas provas eram selecionados. O critério de seleção baseava-se apenas no desempenho do candidato na prova, independente de sua origem social. Por isso, se diz que a China do período era uma meritocracia, ou seja, um regime em que as pessoas conquistam cargos com base no mérito e não por "apadrinhamento".

A imperatriz Wu Hou

A política de Taizong foi continuada por seus sucessores, dentre os quais, Wu Hou, a única mulher a ser reconhecida oficialmente como imperatriz da China, que havia sido uma das concubinas de Li Shimin.
Quando um imperador chinês morria, as mulheres, que faziam parte do harém, eram obrigadas a viver reclusas. Muitas delas eram enviadas para algum convento budista, geralmente próximo ao túmulo do imperador, onde tinham as suas cabeças raspadas e passavam o tempo rezando pela alma do morto para que ele fosse feliz em sua próxima reencarnação.
Wu Hou escapou desse destino porque seus atributos teriam impressionado o filho de Taizong, o imperador Gaozong. Ela governou ao lado de Gaozong de 670 a 683 e, sozinha, de 690 a 705, quando morreu. O seu sucessor foi o seu filho, Zhongzong.

Dinastias Sui e Tang: reunificação e esplendor do império (Parte 04/07)

Pintura do imperador Tang Taizong

O início da Dinastia Tang

Pouco antes do assassinato de Yangdi, numa das capitais do império, Daxing, que se localizava no oeste, um general rebelde chamado Li Yuan, proclamou imperador um dos netos do monarca. Esse general também "homenageou" Yangdi concedendo-lhe o título de "imperador aposentado". Tais medidas só foram reconhecidas nos territórios controlados por ele.
Antes de se rebelar, Li Yuan governava uma província e era leal ao imperador. Um de seus filhos, o segundo, Li Shimin (também se escreve Li Shih-Min), foi quem encorajou o pai a rebelar-se. Quando as notícias sobre a morte de Yangdi chegaram Li Yuan depôs o neto do imperador e colocou a si mesmo no trono, dando início à dinastia Tang (618-907).
Dentre todos os filhos do primeiro imperador Tang, Li Shimin era o mais ambicioso e o que mais demonstrava talento para a política. O irmão mais velho, Li Jiancheng, sentindo-se preterido (que por ser o primogênito, considerava-se o herdeiro do trono por direito), uniu-se a outro irmão, Li Yuanji, o quarto filho de Li Yuan, para conspirar contra o irmão. A conspiração fracassou e ambos acabaram mortos numa emboscada preparada pelo irmão que pretendiam eliminar. Li Shimin tomou como esposa a viúva do irmão mais novo.
No ano 626, o primeiro imperador Tang abdicou do trono em favor de Li Shimin que, ao assumi-lo, adotou um novo nome: Taizong (também se escreve Tai-Zung), que significa "segundo imperador de uma dinastia". Portanto, Tang Taizong significa nada menos que "segundo imperador da dinastia Tang".

Tang Taizong, imperador mestiço

O segundo imperador Tang era de origem chinesa, por parte do pai, e turca, por parte da mãe. Esse fator contribuiu para que a dinastia Tang fosse caracterizada pela mescla de elementos das duas culturas e fosse mais aberta para inovações, rompendo com algumas das antigas tradições chinesas.
Taizong incorporou várias tropas turcas ao exército chinês, nomeando oficiais turcos e utilizou esse exército contra os próprios reinos turcos.O império dos Tang era multicultural: além de turcos e chineses, também abrigava comunidades de origens indiana, persa e árabe, entre outras.

Dinastias Sui e Tang: reunificação e esplendor do império (Parte 03/07)


Invasões à Coréia
O imperador também pretendia que o Grande Canal fosse um instrumento para sua política expansionista e a vizinha Coréia foi um dos primeiros alvos. Na época, ela estava dividida em três reinos independentes e o imperador chinês tentou quatro vezes conquistar um deles, chamado Goguryeo.
Na primeira vez, ele reuniu os membros da nobreza guerreira e os enviou à Coréia numa tentativa malsucedida de invadir e dominar o reino de Goguryeo. As forças chinesas sofreram derrotas em terra e no mar. Os coreanos ofereceram forte resistência enquanto defendiam as muradas de suas cidades. E fora das muradas, os soldados chineses também eram derrotados por dois inimigos: a fome e o frio.
Uma das razões para a vitória coreana foi a sua superioridade na engenharia naval: os seus navios eram encouraçados de metal, uma novidade na época, e conseguiram repelir a marinha chinesa. As outras três tentativas de conquistar o reino coreano também fracassaram.
O exército chinês foi arrasado na série de guerras travadas contra o reino coreano. Estima-se que as baixas chinesas superaram a marca de dois milhões. Das 305 mil tropas enviadas para lutar na Coréia, apenas duas mil e setecentas retornaram. O alto custo dessas derrotas militares, tanto em dinheiro quanto em vidas humanas, contribuiu para o fim da dinastia Sui.
O imperador se tornou cada vez mais impopular e, no ano de 618, acabou sendo assassinado por seus próprios ministros. Outros fatores que contribuíram para a sua queda foram as invasões de nômades turcos no território chinês e os excessivos gastos com luxos no palácio - à custa dos impostos pagos pelos mais pobres.

Dinastias Sui e Tang: reunificação e esplendor do império (Parte 02/07)

Afresco de Dun Huang

Dinastia Sui

Wendi, o primeiro imperador Sui, encontrando um país arrasado pela guerra ordenou o corte de gastos com "mordomias", que beneficiavam apenas os membros da nobreza, e tentou melhorar as condições de vida dos camponeses, que eram paupérrimos.
Tais medidas não agradaram certos nobres que logo tramaram e assassinaram o primeiro imperador Sui. Em seguida, substituíram-no por seu filho, Yangdi, que diferente do pai, preferia gastar a economizar.
Assim, o segundo imperador Sui aumentou os gastos com "mordomias" e obras "faraônicas" beneficiando a nobreza que o havia colocado no trono. E quem pagou a conta, desse aumento nos gastos, foram os camponeses que passaram a ser ainda mais explorados.

O Grande Canal

A obra mais importante construída durante o governo do segundo imperador Sui foi o Grande Canal, que ligava os dois principais rios da China. Ela facilitou o transporte do imposto pago em arroz até as duas capitais do país na época, na bacia do rio Amarelo: Chang'an, a oeste, e Luoyang, a leste.
Esse arroz era estocado em armazéns públicos, cujo objetivo era garantir uma reserva em períodos de escassez e também para evitar o aumento exagerado dos preços, a famosa inflação, conhecida até os dias de hoje.
Apesar da importância econômica do Grande Canal, a sua construção significou grandes sacrifícios para o povo chinês: milhares de camponeses foram convocados para trabalhar na obra e vários deles morreram enquanto realizavam a tarefa. Não bastasse isso, cada homem convocado representou braços a menos para trabalhar nos campos. Conseqüentemente houve queda na produção agrícola, o que significava menos comida no país.

Dinastias Sui e Tang: reunificação e esplendor do império (Parte 01/07)

Pintura medieval retrata funcionários da dinastia Tang

China medieval - Dinastias Sui e Tang: reunificação e esplendor do império chinês

A China atual é um país continental marcado pela diversidade cultural, étnica e lingüística. Um exemplo disso é chamarmos de língua chinesa o que, na verdade, é o mandarim, um dos vários dialetos falados no país e cujo ensino é obrigatório em todas as suas províncias.
Em Hong-kong, por exemplo, ex-possessão britânica, recentemente reintegrada à República Popular da China, a língua falada pelos habitantes é o cantonês, que é incompreensível para chineses de outras regiões.
O turista estrangeiro que visitar os rincões da China encontrará diversas minorias étnicas. Atualmente, o governo chinês reconhece a existência de pouco mais de cinqüenta grupos. Entre eles, podemos destacar as etnias hui e cazaque.
A minoria hui, por exemplo, é de religião muçulmana, que proíbe o consumo da carne de porco, a principal iguaria da cozinha chinesa. Ela jamais conseguiu se integrar inteiramente ao resto da população e costuma estar envolvida em revoltas separatistas. Por sua vez, o grupo cazaque, compartilha mais laços culturais com os turcos do que com os han, a etnia dominante no país. É encontrado em partes da China e também na Rússia, Mongólia, Uzbequistão e Cazaquistão (onde é maioria).
Por tudo isso, podemos concluir que não é fácil para um governo (não importa qual seja o regime) manter a unidade política em um território tão vasto quanto o da China. Nem hoje nem no passado mais distante. Por outro lado, podemos perceber que tal unidade foi criada e mantida muitas vezes com o uso da força bruta. E como veremos, na história chinesa, tal unidade já foi destruída e reconstruída algumas vezes.

Ameaças à unidade política chinesa

Em 221 a.C., com a dinastia Qin, surgia, pela primeira vez, um Estado unificado chinês. A dinastia seguinte, os Han, que governou a China de 206 a.C. ao ano 220 da nossa era, consolidou essa unificação. Tal unidade política não resistiu e o país se dividiu em três reinos independentes: Wei (no Norte), Shu (no Oeste) e Wu (no Leste).
No ano 552, essa China dividida estava prestes a ser invadida pelos turcos, mas isto não aconteceu, pois uma divisão política também ocorreu entre eles, dando início, mais tarde, no ano 581, a uma guerra que opôs o Turquestão do oeste e o Turquestão do leste.
Este conflito entre os turcos foi encorajado pelos chineses pois afastava deles a possibilidade de uma invasão. Livres deste perigo, os três reinos chineses começaram a lutar entre si. Cada um era controlado por uma elite guerreira e proprietária de terras, semelhante aos senhores feudais da Europa medieval. Após muitas batalhas, finalmente, no ano 589, um desses nobres, cujo nome era Wendi, saiu vitorioso e reunificou a China, dando início à dinastia Sui (589-618).

Texto produzido por Túlio Vilela. Portal UOL Educação.

As cinco primeiras dinastias chinesas (Parte 03/03)


5) Han, 206 a.C. - 220 d.C.
Com a morte do imperador Huangdi, teve início uma grande crise política na china. Aproveitando-se dessa crise, um líder chamado Liu Bang tomou o poder e inaugurou a dinastia Han. Uma das características dessa dinastia foi a política de presentes, que consistia em conceder presentes caros aos seus vizinhos da Ásia central. Tratava-se de uma forma de comprar aliados.
Esses presentes consistiam em grandes quantidades de tecidos de seda, espelhos de bronze, perfumes, peças de cerâmica e jóias. Além dos presentes, os Han ofereciam banquetes e festas a seus vizinhos.
Foi na época dos Han que os chineses, que se julgavam o centro do mundo (daí chamarem seu país de "Império do Meio") descobriram que outros povos viviam a oeste de suas fronteiras, souberam inclusive da existência de um certo Império romano. Isso ocorreu quando Wu Ti, um imperador Han, enviou no ano 138 a.C. uma missão diplomática à Ásia Central, com o objetivo de estabelecer uma aliança com os turcos para combater os hunos.

Rota da seda

A construção de outros trechos da Grande Muralha nessa mesma época ajudou a abrir um caminho da china para o Ocidente. Ao ser ampliada, a Muralha acabou atravessando regiões montanhosas e desertos (inclusive o famoso deserto de Gobi). Poços profundos foram cavados para fornecer água para as caravanas. O caminho ficou conhecido como "A Rota da seda".
A demanda por seda chinesa estava alta em mercados como a Pérsia, a Turquia, a Índia e até o Império romano. Os dois impérios, romano e chinês, sabiam um da existência do outro, mas a enorme distância, aliada a dificuldade de transporte da época, tornou inviável um contato mais estreito entre eles.
Durante a Dinastia Han, a China conheceu um considerável aumento da população e uma série de avanços técnicos. Entre esses avanços estavam a invenção do carrinho de mão (bastante útil para transportar cargas pesadas em caminhos estreitos e tortuosos); o aperfeiçoamento da produção de ferro (com o qual faziam objetos como espadas e estribos) e a invenção do moinho movido a água, usado para moer cereais e na fundição de ferro e cobre.

Revoltas camponesas

Apesar do desenvolvimento técnico, os camponeses, que constituíam a imensa maioria da população, continuavam enfrentando condições ainda muito precárias de vida. Por isso, durante os dois primeiros séculos da Era Cristã, ocorreram violentas revoltas camponesas que foram duramente reprimidas. Segundo historiadores da corrente marxista, especialmente nos países que adotaram o regime socialista, a escravidão por dívidas era comum na China durante a Dinastia Han.
Outros historiadores discordam, afirmando que não existia escravidão, mas sim uma forma de servidão. Em todo caso, escravos ou servos, a certeza é uma só: os camponeses viviam em condições miseráveis e eram extremamente explorados pelos poderosos.
As revoltas camponesas contribuíram para o enfraquecimento do Império, o que trouxe o fim do domínio dos Han. O Império da China acabou se dividindo em três reinos: Wei (no norte), Wu (no oeste) e Shu (no leste e no sul). Essa divisão em três reinos durou do ano 220 ao ano 265 da Era Cristã.

As cinco primeiras dinastias chinesas (Parte 02/03)


3) Zhou, aproximadamente 1050-256 a.C.
Os Zhou (também chamados de 'Chou") eram uma poderosa família vinda do oeste do país, derrubaram os Shang e assumiram o poder. Para obter apoio, costumavam distribuir terras aos seus aliados. Esse apoio vinha de famílias nobres, que detinham riquezas. Cada uma dessas famílias governava uma cidade ou província.
Em caso de guerra, eles ajudavam o exército do rei fornecendo soldados, armas ou alimentos. Os territórios controlados por essas famílias foram ficando cada vez maiores e a China acabou sendo dividida em sete principados. Na prática, essa divisão acabou fortalecendo essas famílias e diminuindo o poder do imperador. Era uma situação muito semelhante ao que ocorreu mais tarde na Europa ocidental durante o feudalismo, em que o poder dos senhores feudais era, na prática, maior que o dos reis.
Não demorou para os sete principados entrarem em guerra entre si. Essa guerra durou anos (480-221 a.C., período conhecido como "Época dos Estados Guerreiros") e foi vencida pelo primeiro reino de Qin (ou Chin). Esse reino era afastado dos outros que se enfrentaram entre si. Por isso, sofreu menos os efeitos das guerras e se tornou o mais rico e poderoso. Os reis de Qin organizaram um grande exército e equiparam seus soldados com espadas e lanças de ferro, uma inovação para a época. A vantagem sobre os inimigos era que uma espada de ferro podia cortar ao meio uma feita de bronze.

4) Qin, 221-207 a.C.
Usando de extrema força, o rei de Qin, que saiu vencedor da guerra que marcou o final da dinastia Zhou, conquistou um território após o outro e os incorporou ao seu reino. Por volta do ano 221 a.C. ele já havia conquistado quase toda a China. Esse rei assumiu o título de Qin Shi Huangdi, que significa "primeiro rei de Qin". Ao concentrar o poder em suas mãos, Qin Shi Huangdi se tornou o fundador do Império Chinês. Foi ele quem estabeleceu, pela primeira vez na História, um Estado unificado chinês.
Entre as medidas adotadas por Huangdi para garantir a unidade do império estavam: adoção de um único sistema de pesos e medidas, de escrita e de moeda em todo o Império. Para vigiar os outros nobres, Huangdi ordenou que os antigos governantes dos principados se mudassem para a capital. Esses nobres foram obrigados a entregar suas armas, que foram fundidas e transformadas em estátuas e sinos.
Huangdi também promoveu a realização de concursos públicos para o preenchimento de cargos. A intenção do imperador era selecionar os candidatos mais qualificados para ocupar os cargos públicos. Tratava-se de um sistema inovador para a época, pois os candidatos eram escolhidos com base no mérito e não na origem social ou por "apadrinhamento".
Por isso, costuma-se dizer que foi na China que surgiu a idéia de meritocracia. Os funcionários que ocupavam esses cargos públicos se encarregavam de tarefas como cobrar e arrecadar impostos, administrar os recursos etc.

Exército de esculturas

Outra medida adotada por Huangdi foi o recrutamento de camponeses para trabalharem na construção de obras públicas. Uma dessas obras foi a construção da famosa Grande Muralha, cujo primeiro trecho começou a ser construído durante o reinado desse imperador. Os camponeses também eram recrutados para o serviço militar.
Antes de morrer, Huangdi ordenou que fossem feitas cerca de sete mil estátuas de guerreiros para serem colocadas a 1.500 metros a leste de seu túmulo. Essas estátuas eram de terracota (argila cozida em forno) e foram feitas em tamanho natural. Além disso, foram feitas algumas estátuas de cavalos em tamanho natural, e mais de cem carros de madeira. Esse "exército" guardaria o túmulo do imperador, afugentando ladrões e intrusos.
Para a construção do mausoléu do imperador foram utilizados cerca de 700 mil trabalhadores. Após alguns anos de serviço, esses trabalhadores teriam sido enterrados vivos por ordem do imperador, para que a obra permanecesse em segredo.

As cinco primeiras dinastias chinesas (Parte 01/03)


As cinco primeiras dinastias chinesas foram as seguintes:

1) Xia, 2205-1818 a.C.
A existência dessa dinastia ainda é motivo de controvérsia entre os historiadores. Mesmo entre os que acreditam que essa dinastia tenha existido, não há consenso em relação às datas de sua duração.

2) Shang, aproximadamente 1500-1050 a.C.
Até uns cem anos atrás aproximadamente, tudo que se sabia a respeito dessa dinastia era o que estava escrito em documentos produzidos durante as épocas da dinastias Zhou e Han, centenas de anos após a queda da dinastia Shang. Por isso, muitos historiadores ocidentais duvidavam da existência dessa dinastia, afirmando que os relatos sobre ela não passavam de mitos.
No entanto, a maioria dos historiadores chineses sempre aceitou esses relatos, citando-os como fontes históricas confiáveis. Descobertas arqueológicas comprovaram a existência da Dinastia Shang. Entre os achados arqueológicos estavam objetos de bronze; inscrições gravadas em ossos e cascos de tartaruga e sepulturas. Podemos dizer que os mais antigos registros escritos da história da China surgiram durante a dinastia Shang. A mais antiga forma de escrita conhecida surgiu na China dos Shang.
Em muitos textos antigos, os Shang eram geralmente descritos como governantes cruéis, corruptos e decadentes. Até onde esses relatos seriam verdadeiros?
Vale lembrar que a maioria desses textos foram escritos séculos após o domínio dos Shang, durante as dinastias que os sucederam. Ao retratarem os Shang como corruptos e os seus sucessores como "virtuosos", esses textos tinham a intenção de fazer propaganda a favor das dinastias Zhou e Han.

Texto produzido por Túlio Vilela. Portal UOL Educação.

A era dos imperialismos modernos (Parte 01/02)


Nesta teleaula você verá que o grande desenvolvimento industrial levou os países europeus a buscar novos mercados para vender seus produtos e obter matérias-primas. E verá, também, que o uso intensivo das máquinas acabou provocando um grande desemprego, levando os europeus a emigrarem para vários países. Esses fatores levaram a Europa a uma corrida imperialista, onde várias regiões e países foram colonizados. Você também verá que, além da Europa, Japão e Estados Unidos também se transformaram em potências imperialistas.

A era dos imperialismos modernos (Parte 02/02)

O Imperialismo (parte 01/02)

Nesta teleaula você vai ver como e por que o imperialismo se intensificou entre os países europeus a partir da segunda metade do século XIX. Além disso, saberá que regiões foram dominadas pelos países imperialistas e como países não europeus Japão e Estados Unidos, tornaram-se imperialistas.

Imperialismo (parte 02/02)