"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

ARCA DE NOÉ - ROBSON DOMINI (AUTORAL)



HOUVE FESTA NA FLORESTA
OS BICHOS TINHAM PRESSA PRA CHEGAR
HOUVE FESTA NA FLORESTA
NÃO SEI SE TRAGÉDIA OU COMÉDIA

O LEÃO É O MESTRE DO ROUBO
E CHAMA ISSO DE IMPOSTO
TODOS OS BICHOS TOLOS PAGAM SEM RECLAMAR
OS BURROS VOTARAM NOS LOBOS PARA CUIDAR DAS OVELHAS
AS ARANHAS NAS CAMAS GRUDAVAM AS SUAS TEIAS
AS GALINHAS VENDIAM AOS PORCOS
OS SEUS PRÓPRIOS CORPOS
DE SALTO ALTO SEDUZEM OS PATOS PRA CEIA

REFRÃO

OS LOBOS ENGRAVATADOS ENGANARAM CORDEIROS COITADOS
TROCANDO FÉ E MILAGRES POR FAZENDA E CARROS
AS VACAS MOSTRAVAM AS TETAS
EM CAPAS DE REVISTAS CARAS
OS MACACOS OTÁRIOS COMPRAVAM ESSA FARSA
AS ANTAS CEGAS COMPLETAS
PERDERAM O MELHOR DA FESTA
DE CABEÇA BAIXA OLHANDO O CELULAR

Era outra vez contos - Lívia Garcia Roza


Era outra vez é um livro de contos que recria e atualiza histórias infantis consagradas. Entre as narrativas reinventadas estão clássicos do repertório do conto de fadas, como Branca de Neve e os sete anões, fábulas universais como A cigarra e a formiga, além de uma obra-prima da literatura universal, As mil e uma noites, e uma das mais conhecidas obras da literatura infanto-juvenil brasileira, Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado. Livia Garcia-Roza apresenta situações em que as obras originais são subvertidas e reinventadas para um cotidiano atual. Os protagonistas são crianças e adultos que vivem os dilemas e as dificuldades típicas do mundo contemporâneo: pais e mães estão ocupados demais para atentar para os filhos, irmãos e irmãs não param de se torturar e os pequenos muitas vezes parecem mais maduros que a gente grande. Com muito humor, essas histórias ganham novos sentidos e mostram como a fonte da imaginação é não apenas inesgotável, mas também imprevisível e prato cheio para novas interpretações.

Prosa - João Cabral de Melo Neto


Reunião de textos em prosa de um dos maiores poetas da literatura brasileira. Inclui o famoso ensaio de João Cabral de Melo Neto sobre o pintor catalão Joan Miró, além de suas análises da função moderna da poesia, bem como da produção literária da Geração de 45.

Essa Terra - Antônio Torres


Um dos mais marcantes romances da literatura brasileira contemporânea, Essa Terra, do escritor Antônio Torres, é um relato emocionante do impacto da "cidade grande" sobre o retirante, o imigrante nordestino. O próprio autor - nascido na pequena cidade de Junco, interior da Bahia - percorreu os mesmos caminhos dos seus personagens, deixando o Nordeste para procurar a sorte nas metrópoles do Sudeste. E a encontrou. É a história de um homem que, depois de 20 anos morando em São Paulo, decide voltar a sua cidade de origem, no interior do sertão nordestino. Lá chegando, desilude-se com tudo que encontra e reencontra e acaba se enforcando no gancho de uma rede.

No Urubuquaquá, no Pinhém - João Guimarães Rosa


Este livro faz parte do volume Corpo de baile, divididos por decisão do próprio autor em três livros (os outros são Manuelzão e Miguilim e Noites do sertão). Inclui as novelas "O recado do morro", que conta a história de uma canção a formar-se, e "Cara-de-bronze", que refere-se à poesia, além do romance "A estória de Lélio e Lina". Prêmio Jabuti de Produção Gráfica (menção honrosa) em 2002. Em 1956, as obras Manuelzão e Miguilim, Noites do sertão e No Urubuquaquá, no Pinhém foram reunidas em um só volume com o título Corpo de baile. Na segunda edição, o autor dividiu as obras em 2 volumes numerados, Corpo de baile 1 e Corpo de baile 2. Em seguida, o autor, estabeleceu a edição dos 3 títulos separados que prevalece até hoje.  Em 2006 a Nova Fronteira relançou Corpo de baile em comemoração aos 50 anos da obra, recuperando a edição original da obra e livreto com cartas inéditas de Guimarães em fac-símile, texto de Alberto da Costa e Silva (que acompanhou os trabalhos originais de edição da obra), texto de Paulo Rónai e nota editorial. O título Corpo de baile foi dado pelo autor que defendia que todos os personagens percorriam e se entrecruzavam pelas histórias, como numa dança.

Bumba na farra do boi - Gilberto Braga de Melo


Entre o folguedo, que exalta, e a farra, que flagela, o conflito de duas manifestações seculares, centradas na figura do boi, anima uma novela marcada pela aventura e pelo suspense. Sem perder o ritmo da narrativa, exaltando os mais fortes sentimentos humanos, a novela tem seu ponto alto na encenação do bumba-meu-boi, quando o autor consegue colocar o folguedo no enredo sem descaracterizá-lo, resgatando para o leitor uma das mais puras e autênticas manifestações artísticas do Nordeste Brasileiro.

Nunca serei um Super-Herói - Antônio Santa Ana


Juliano é um jovem de 13 anos apaixonado por uma jovem que não dá notícia dele. Com grande dose de humor, ele fala sobre asas dificuldades de crescer. Se não é um super-herói, ele sabe lidar com a mãe modernosa, professores desinteressantes e o amor não correspondido.

A primeira vez que eu vi meu pai - Márcia Leite


A figura paterna é o tema desta história conduzida por dois adolescentes - Lucas, filho de pai alcoólatra, para escapar de outra surra, mais uma vez se refugia na casa de Daniel que, por sua vez, até os oito anos, esperou pela volta do pai que o deixara ainda bebê. Quando o garoto agredido comenta que gostaria de viver como o amigo, sem pai em casa, tem início o diálogo que vai evidenciar a importância da presença paterna na família, as questões do abandono e da incerteza, as expectativas e decepções diante da doença provocada pelo álcool, o manejo da vida diante tanto da ausência quanto da violência. Ao final do livro, há informações sobre alcoolismo, distância física entre filhos e pais e dicas de filmes.

Quem me dera ser feliz - João Emílio Braz


O livro retrata a história de um homem negro que é casado, tem dois filhos e está desempregado a um bom tempo. Ele luta todos os dias para poder encontrar um emprego. Talvez seja por falta de sorte, talvez seja por racismo, talvez seja por sua incompetência, mas Hamilton não consegue encontrar emprego em lugar algum.

Todos os dias quando chega das ruas é obrigado a aguentar os olhares discriminados de todos a sua volta, que acreditam que ele é um "vagabundo" que vive nas costas de sua mulher. As coisas vão se ajeitando para ele, ele passa pelo pior, reflete sobre sua vida e acaba descobrindo a verdadeira felicidade junto de sua amada família.

A vida naquela hora - João Anzanello Carrascoza


A vida naquela hora reúne contos delicados que tratam de experiências, descobertas e aprendizados do ser humano. Em histórias simples e poéticas, João Anzanello Carrascoza descortina, com a habilidade de um grande escritor, as transformações íntimas de cada um de seus personagens. E ao mesmo tempo nos faz refletir sobre o real significado de amadurecer.

Você sabe assobiar? - Ulf Stark


Por que Beto não tem avô? Como será que ele pode conseguir um? Seu amigo Hugo resolveu ajudar - 'Vamos juntos procurar um avô pra você?' Mas tinha que ser um avô legal, que ensinasse a soltar pipa, convidasse para tomar chá e ensinasse a assobiar. Contando a história da amizade que surgiu entre dois meninos e um senhor, o livro é divertido e tocante.

Estereótipos e estigmatização; discriminação e preconceito;


“O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “feio” ou “bonito”, “normal” ou “anormal”, os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos, desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade. Assim, percebemos como o etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipo, que consiste na generalização e atribuição de valor (na maioria das vezes, negativo) a algumas características de um grupo, reduzindo-o a essas características e definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. É uma generalização de julgamentos subjetivos, feitos em relação a um determinado grupo, impondo-lhe o lugar de inferior e de incapaz, no caso dos estereótipos negativos. No cotidiano, temos expressões que reforçam os estereótipos: “tudo farinha do mesmo saco”; “tal pai, tal filho”; “só podia ser mulher”; “nordestino é preguiçoso”; “serviço de negro”; e uma série de outras expressões e ditados populares específicos de cada região do país.”  

Multiculturalismo e políticas de reconhecimento


Cada grupo social tende a adotar determinada postura frente ao outro, essa seria justamente sua forma de representação. A afirmação social de uma representação tem como base fundamental a ação e a comunicação. Ela encadeia pensamento e linguagem o que permite a compreensão do mundo e assimilação das relações que nele se estabelecem.
Para compreendermos quem somos em grupo, como coletividade, ou quem somos individualmente, como indivíduos, dependemos da interpretação e do reconhecimento que nos é dado pelos outros. “Ninguém pode edificar a sua própria identidade independentemente das identificações que os outros fazem dele” (Habermas).  

Frida - [2002] - 123 min.


Pintora mexicana Frida Kahlo se casa com o artista Diego Rivera, com quem compartilha suas opiniões políticas radicais, paixão e trabalho.

"Dar a mão à palmatória"


Antes de partir - [2007] - 97 min.


O bilionário Edward Cole e o mecânico Carter Chambers são dois pacientes terminais em um mesmo quarto de hospital. Quando se conhecem, resolvem escrever uma lista das coisas que desejam fazer antes de morrer e fogem do hospital para realizá-las.

Sorriso de Monalisa (O) - [2003] - 117 min.


Katherine Watson é uma recém-formanda da UCLA que foi contratada, em 1953, para lecionar História da Arte na prestigiosa Wellesley College, uma escola só para mulheres. Determinada a confrontar valores ultrapassados da sociedade e da instituição, Katherine inspira suas alunas tradicionais, incluindo Betty e Joan, a mudarem a vida das pessoas como futuras líderes que serão.

Homem que viu o infinito (O) - [2015] - 114 min.


A história de Srinivasa Ramanujan, matemático indiano que fez importantes contribuições para o mundo da matemática, bem como a teoria dos números, a série e frações contínuas.

Faraó - [2015] - 108 min.


Em meio à trama Mitani para conquistar o Egito, Tut lida com uma doença mortal que se espalha pelo reino e uma traição inesperada de seu círculo íntimo

Escolha de Sofia (A) - [1982] - 157 min.


Sophie sobrevive a campos de concentração nazistas e encontra uma razão para viver em Nathan, um judeu americano brilhante, instável e obcecado pelo Holocausto. Mas a felicidade dos dois é ameaçada pelos fantasmas do passado dela.

Até o último homem - [2016] - 139 min.


Narra história de Desmond T. Doss, um médico do exército americano que, durante a Segunda Guerra Mundial, se recusa a pegar em armas. Durante a Batalha de Okinawa ele trabalha na ala médica e salva cerca de 75 homens.

ANTOLOGIA - ROBSON DOMINI (AUTORAL)


NO TEMPO DE CERVANTES
OU EM CEM MILÊNIOS ANTES
NINGUÉM PODE ENCONTRAR
ALGUÉM COM TUA BELEZA
MINHA RIQUEZA TUAS FRONTEIRAS VÊM ULTRAPASSAR
TODO LIMITE HUMANO
POETAS E PROFETAS,
DEUSES GREGOS E AEDOS
NINGUÉM PODE TE EXPLICAR
PARA SE CHEGAR A TUA ESSÊNCIA
SÓ COM TUA AQUIESCÊNCIA
JOIA RARA MEU AMOR,
MEU AMOR!
TU ÉS A ESTRELA MAIS BONITA QUE HABITA MINHA ÓRBITA
VIDA MINHA
TU É A POESIA MAIS BONITA QUE HABITA A MINHA ANTOLOGIA
 ÉS MAIS QUE MULHER ÉS UM ANJO
APENAS TU INSTAURAS NOVA ORDEM
DO TEU VENTRE O FRUTO ANSEIO
O PRIMEIRO LUGAR SEMPRE É TEU
MEU AMOR, MEU AMOR!
TU ÉS O EPICENTRO DO MEU CONTENTAMENTO
ESFINGE A ME DEVORAR
REFAZES O CONCEITO DE CHUVA SOL E VENTO
DENTRO DA MINHA AMPULHETA
ÉS A AREIA DO TEMPO
DENTRO DOS TEUS OLHOS EU ESCONDO OS MEUS SONHOS
EU SUPONHO ENCONTRAR
A PAZ QUE UM HOMEM PRECISA
PRA DESCANSAR...

Sociologia – 2Ano – Unidade III – Prova Iota


ATIVIDADE AVALIATIVA – SOCIOLOGIA – UNIDADE III
PARCIAL – PROVA IOTA

01
02
03
04
05
06
07
E
C
B
A
D
B
C


Sociologia – 2Ano – Unidade III – Prova Capa


ATIVIDADE AVALIATIVA – SOCIOLOGIA – UNIDADE III
PARCIAL – PROVA CAPA


01
02
03
04
05
06
07
E
D
C
B
E
D
A

Filosofia – 3Ano – Unidade III – Prova Teta


ATIVIDADE AVALIATIVA – FILOSOFIA – UNIDADE III
PARCIAL – PROVA TETA

01
02
03
04
05
E
A
C
B
D

06
07
08
09
10
D
A
C
E
B


Filosofia – 3Ano – Unidade III – Prova Iota


ATIVIDADE AVALIATIVA – FILOSOFIA – UNIDADE III
PARCIAL – PROVA IOTA

01
02
03
04
05
A
E
D
C
B

06
07
08
09
10
A
D
C
B
E


Filosofia – 2Ano – Unidade III – Prova Teta


ATIVIDADE AVALIATIVA – FILOSOFIA – UNIDADE III
PARCIAL – PROVA TETA

01
02
03
04
C
A
E
C


05
06
07
08
B
A
D
B

Filosofia – 2Ano – Unidade III – Prova Iota


ATIVIDADE AVALIATIVA – FILOSOFIA – UNIDADE III
PARCIAL – PROVA IOTA

01
02
03
04
E
C
B
A


05
06
07
08
C
A
D
E

Filosofia – 1Ano – Unidade III – Prova Capa


ATIVIDADE AVALIATIVA – FILOSOFIA – UNIDADE III
PARCIAL – PROVA CAPA

01
02
03
04
05
D
A
E
B
C

06
07
08
09
10
A
B
E
C
D


A pedagogia perene


(...) a pedagogia funda-se, ao mesmo tempo, na filosofia e em fatos positivos. A menos que se considerem as concepções filosóficas como movediças, ligadas às circunstâncias variáveis do meio e aos aspectos concretos das coisas, a pedagogia dos fins educativos permanece estável. Nossa concepção da natureza profunda do homem não é ou não deve ser ditada pela experiência imediata. Ela é transcendente. Um ideal educativo não muda com o tempo porque o próprio homem, no que ele tem de essencial, não muda. O que se pode modificar são os meios postos em ação para se aproximar desse ideal, meios que dependem das circunstâncias de tempo, de lugar, de sujeito. A marcha da humanidade não modifica a natureza dos homens; transforma simplesmente o mundo onde eles vivem e os obriga a adaptar seu comportamento a essas mudanças, a "ser do seu tempo". Distinguiremos, portanto, uma paedagogia perennis e uma pae-dagogia temporalis. A primeira pertence ao mundo das ideias, a segunda ao domínio das realidades concretas. Esta última é a pedagogia técnica. Essa pedagogia técnica mudou incontestavelmente, como todas as técnicas humanas.


PLAMCHARD. In CHARLOT. Bernard. A mistificação pedagógica. Rio de Janeiro, Zahar, 1983. p. 88.

Produzir e ser


Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começam a se diferenciar dos animais tão logo começam a produzir seus meios de vida, passo este que é condicionado por sua organização corporal. Produzindo seus meios de vida, os homens produzem, indiretamente, sua própria vida material.
O modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida depende, antes de tudo, da natureza dos meios de vida já encontrados e que têm de reproduzir. Não se deve considerar tal modo de produção de um único ponto de vista, a saber: a reprodução da existência física dos indivíduos. Trata-se, muito mais, de uma determinada forma de atividade dos indivíduos, determinada forma de manifestar sua vida, determinado modo de vida dos mesmos. Tal como os indivíduos manifestam sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, portanto, com sua produção, tanto com o que produzem como com o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais de sua produção.


MARX, Karl. Ideologia alemã. São Paulo, Hucitec, 1984. p. 27-28.

A existência precede a essência


Quando concebemos um Deus criador, esse Deus identificamo-lo quase sempre com um artífice superior; e qualquer que seja a doutrina que consideremos, trate-se duma doutrina como a de Descartes ou a de Leibniz, admitimos sempre que a vontade segue mais ou menos a inteligência ou pelo menos a acompanha, e que Deus, quando cria, sabe perfeitamente o que cria. Assim o conceito do homem, no espírito de Deus, é assimilável ao conceito de um corta-papel no espírito do industrial; e Deus produz o homem segundo técnicas e uma concepção, exatamente como o artífice fabrica um corta-papel segundo uma definição e uma técnica. Assim o homem individual realiza um certo conceito que está na inteligência divina. No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprime-se a noção de Deus, mas não a ideia de que a essência precede a existência. Tal ideia encontramo-la nós um pouco em todo o lado: encontramo-la em Diderot, em Voltaire e até mesmo num Kant. O homem possui uma natureza humana; esta natureza, que é o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal — o homem; para Kant resulta de tal universalidade que o homem da selva, o homem primitivo, como o burguês, estão adstritos à mesma definição e possuem as mesmas qualidades de base. Assim, pois, ainda aí, a essência do homem precede essa existência histórica que encontramos na natureza. (...) O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana. Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja. como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que se chama a subjetividade, e o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos dizer nós com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. (...) Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens.


SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo, Coleção. Os pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1973. p. 11-12.

De repente, aparece a gente


(...) Se alguém tivesse tido esta tarde o bom humor de sair pelas ruas da cida­de vestido com elmo, lança e cota de malha, o mais provável é que dormisse esta noite num manicômio ou numa delegacia de polícia. Porque não é uso, não é costume. Em compensação, se esse alguém faz o mesmo num dia de carna­val, é possível que lhe concedam o primeiro prêmio de mascarado. Por quê? Porque é uso, porque é costume mascarar-se nessas festas. De modo que uma ação tão humana, como é a de se vestir, não a realizamos por própria inspira­ção, mas nos vestimos de uma maneira e não de outra, simplesmente porque se usa. Ora, o usual, o costumeiro, fazemo-lo porque se faz. Mas, quem faz o que se faz? Ora!... A gente. Muito bem! E quem é a gente? Ora... Todos, nin­guém determinado. Isso nos leva a reparar que uma enorme porção de nossas vidas se compõe de coisas que fazemos, não por gosto, nem inspiração, nem conta própria, mas simplesmente porque a gente as faz e, como o Estado, an­tes, a gente, agora, nos força a ações humanas que provêm dela e não de nós.
E mais ainda: comportamo-nos em nossa vida orientando-nos, nos pensamen­tos que temos, sobre o que as coisas são; mas se dermos um balanço dessas ideias ou opiniões, com as quais e das quais vivemos, acharemos com surpresa que muitas delas — talvez a maioria — não as pensamos nunca por nossa con­ta, com plena e responsável evidência de sua verdade; ao contrário, pensamo-las porque as ouvimos e dizemo-las porque se dizem. Eis aqui este estranho im­pessoal, o se, que agora aparece instalado dentro de nós, formando parte de nós, pensando ele ideias que nós simplesmente pronunciamos.
Muito bem. E então; quem diz o que se diz? Sem dúvida, cada um de nós; mas dizemos "o que dizemos" como o guarda nos impede o passo; dizemo-lo, não por conta própria, mas por conta desse sujeito impossível de capturar, in­determinado e irresponsável que é a gente, a sociedade, a coletividade. Na me­dida em que penso e falo — não por própria e individual evidência, mas repetin­do isso que se diz e que se opina — minha vida deixa de ser minha, deixo de ser o personagem individualíssimo que sou, e atuo por conta da sociedade: sou um autômato social, estou socializado.


ORTEGA Y GASSET. O homem e a gente. Rio de Janei­ro, Livro Ibero-Americano, 1960. p. 206-207.

Os homens e os animais


(...) É uma coisa bastante notável que não haja homens tão embrutecidos e tão estúpidos, sem excluir mesmo os insanos, que não sejam capazes de arranjar conjuntamente diversas palavras, e de compô-las num discurso pelo qual façam entender seus pensamentos; e que, ao contrário, não exista outro animal, por mais perfeito e bem concebido que possa ser, que faça o mesmo. E isso não se dá porque lhes faltem órgãos, pois verificamos que as pegas* e os papagaios podem proferir palavras assim como nós, e, todavia, não podem falar como nós, isto é, testemunhando que pensam o que dizem. Por outro lado, os homens que, tendo nascido surdos e mudos, são desprovidos dos órgãos que servem aos demais para falar, tanto ou mais que os animais, costumam inventar eles próprios alguns símbolos pelos quais se fazem entender por quem, estando comumente com eles, disponha de tempo para aprender a sua língua. E isso não demonstra apenas que os animais possuem menos razão do que os homens, mas que não a possuem absolutamente. Vemos que é preciso muito pouco para saber falar; e já que se nota desigualdade entre os animais de uma mesma espécie, assim como entre os homens, e que uns são mais fáceis de serem adestrados do que outros, não é crível que um macaco ou um papagaio, por mais perfeitos que fossem, em sua espécie, não igualassem uma criança das mais estúpidas ou pelo menos que tivesse cérebro perturbado, se a sua alma não fosse de uma natureza inteiramente diferente da nossa.


DESCARTES, René. Discurso do método. Brasília, Editora Universidade de Brasília; São Paulo, Ática, 1989, p. 76.

* Pega: uma espécie de ave.

O que é o homem?


O que é o homem? É esta a primeira e principal pergunta da filosofia. (...) Se pensamos nisso, a própria pergunta não é uma pergunta abstrata ou "objetiva". Nasceu daquilo que refletimos sobre nós mesmos e sobre os outros e queremos saber, em relação ao que refletimos e vimos, o que somos e em que coisa nos podemos tomar, se realmente e dentro de que limites somos "artífices de nós próprios", da nossa vida, do nosso destino. E isto queremos sabê-lo "hoje", nas condições dadas hoje, pela vida "hodierna" e não por uma vida qualquer e de qualquer homem. (Antônio Gramsci.)

O que é a caixa de Pandora?



Entenda a origem do mito

É um mito grego que narra a chegada da primeira mulher à Terra e, com ela, a origem de todas as tragédias humanas.
“Essa história chegou até nós por meio da obra Os Trabalhos e os Dias, do poeta grego Hesíodo, que viveu no século VIII a.C.”, diz a historiadora Maria Luiza Corassin, da Universidade de São Paulo (USP).