O deserto do real (Parte 03/09)
Das Sombras ao Logos
Platão propõe em sua teoria a existência de duas dimensões do conhecimento: o sensível e o inteligível. De acordo com esta alegoria, o conhecimento sensível é semelhante a uma caverna onde os homens estão presos às percepções que recebem dos seus sentidos. Para eles isto seria a única verdade possível. Um deles se liberta e sai da caverna. Num primeiro momento sua visão fica ofuscada, pois ele se depara com a luz do sol, em seguida habitua-se à luz reconhecendo o conhecimento inteligível.
Todavia devemos nos perguntar: por que a filosofia nasceu na Grécia a mais ou menos 2600 anos, e não em outro lugar qualquer ou outro tempo? O nascimento da filosofia se deu por meio de uma ruptura com o mito, ou através de uma gradual transformação? Existe relação entre a alegoria da caverna e o nascimento da filosofia?
A Jônia foi o berço dos primeiros filósofos, mais especificamente em Mileto. De acordo com os próprios gregos os inauguradores do pensamento racional foram: Tales, Anaxímenes e Anaximandro. Contudo, podemos nos perguntar sobre a existência de um pensamento filosófico ou racional entre os chineses, babilônios ou hindus, embora houvesse alguma forma de racionalidade entre os diferentes povos antigos, ela nunca se desvencilhou da religião local e das explicações ligadas às divindades e seres imaginários, que comumente explicava a realidade.
A filosofia procede de um estudo denominado cosmologia (gr. kosmología, do gr. kósmos ‘lei, ordem, mundo, universo’ + rad. gr. –logía ‘tratado, ciência, discurso’; ver cosm(o)- e –logia). Portanto, a filosofia nasce do exercício racional na busca de uma ordem do mundo ou do universo. O mito por sua vez narra a origem das coisas por meio de lutas e relações sexuais entre as forças que governam o universo, por isso, são chamadas cosmogonias e teogonias.
A literatura grega narra a origem do universo utilizando-se de figuras de linguagem, enquanto os físicos – como também eram denominados os pré-socráticos – procuravam explicações a partir da natureza – physis em grego.
Tome-se como exemplo a descrição da origem do universo feita por Hesíodo, no poema Teogonia. Os primeiros filósofos, assim como Hesíodo, buscam uma explicação para a relação entre o caos e a ordem do mundo. A maneira de entender essa relação é que muda. Enquanto o poeta vê os deuses como os responsáveis por tudo o que há, os antigos pensadores preferem partir das formas da natureza que esses deuses representam (terra, água, ar) para entender a vida. (PENSADORES, 2004, p.18).
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