"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O deserto do real (Parte 04/09)


Racionalização do Mito

Num primeiro momento a filosofia racionalizou o mito, em seguida despojou-se, das figuras alegóricas que representavam a origem das coisas adentrando no campo da physis, substituindo gradualmente às divindades que representavam os elementos da natureza separando a mesma de sua roupagem mítica, tornando-a objeto de discussão racional: assim a cosmologia não modifica somente a linguagem, mas muda de conteúdo. Em vez de descrever os nascimentos sucessivos, definiu os princípios primeiros, constitutivos do ser. (VERNANT, 1973) Esta forma de raciocinar, de linguagem e de retórica transcendem o campo da política e se torna o instrumento para pensar todos os elementos constitutivos da realidade tal qual ela se apresenta aos gregos.

Os primeiros físicos não precisaram criar novos elementos para explicar os fenômenos da natureza, eles já existiam nos mitos, eram representações metafóricas para a Gênese. Contudo, a cosmologia foi despojando a natureza de suas fundamentações místicas e tornando ela própria o objeto da especulação racional, alterando desta forma não só a linguagem utilizada, como também sua estrutura constitutiva. As narrativas históricas são modificadas para sistemas racionais de exposição dos elementos integrantes da realidade.

A separação do conceito de natureza da idéia de divindade é condição para o pensamento racional. Separando o real em vários níveis e multiplicando conceitos a filosofia ganha objetividade na medida em que, por meio dela, se distingue com maior precisão as noções de homem, de natureza, de sagrado, de cultura, entre outras tantas que são problematizadas pelo intelecto humano. A filosofia se organiza como pensamento racional juntamente com processo de formação da pólis, constituída por uma política concentrada na ágora, isto é, na vivência do espaço público de reunião, de debate e deliberação por parte dos cidadãos.

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