"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O Problema do Conhecimento (Parte 02/08)


Um Problema Chamado “Conhecimento”

A questão do conhecimento é, provavelmente, o problema mais antigo da filosofia. É verdade que a produção e organização de conhecimentos técnicos, artísticos, agrícolas, etc., é anterior ao conhecimento filosófico iniciado pelos pré-socráticos.

“ (...) no espaço de alguns séculos, a Grécia conheceu, em sua vida social e espiritual, transformações decisivas. Nascimento da Cidade e do Direito, advento, entre os primeiros filósofos, de um pensamento de tipo racional e de uma organização progressiva do saber em um corpo de disciplinas positivas diferenciadas: ontologia, matemática, lógica, ciências da natureza, medicina, moral, política, criação de formas de arte novas, de novos modos de expressão, correspondendo à necessidade de autentificar os aspectos até então desconhecidos da experiência humana: poesia lírica e teatro trágico nas artes da linguagem, escultura e pintura concebidas como artifícios imitativos nas artes plásticas.” (VERNANT, 1973, p. 04)

Antes mesmo do nascimento da filosofia na Grécia antiga do séc. V a.C. já há uma cultura estabelecida, sobretudo nos textos épicos de Hesíodo e Homero, mas também na poesia lírica e nos conhecimentos rudimentares que os gregos do século VI a.C. tinham sobre astronomia. Ao se constituir, a filosofia provoca um afastamento gradual e doloroso desta tradição. Os heróis e os valores presentes nas histórias de Homero e Hesíodo são questionados pelos primeiros filósofos. A tradição mítica entra em crise e a filosofia passa a absorver questões como a origem do universo, o bem universal, o que é o ser, a organização política de uma cidade, etc. É provavelmente neste momento, por volta da metade do século V a.C. em Atenas, que podemos situar o nascimento de uma preocupação com as condições em que se dá o conhecimento.

Mas por que o conhecimento é um tema exclusivamente filosófico? Antes do advento da filosofia não existe o problema? O helenista Jean-Pierre Vernant diz que a preocupação com o conhecimento puro, isto é, o saber que não carrega traços religiosos ou míticos, é uma característica dos primeiros filósofos. Homens como Tales, Anaximandro, Anaxímenes apresentam em suas investigações uma teoria, uma visão geral do mundo que explica racionalmente a estrutura física e espiritual desse mundo. Vernant afirma ainda que esses primeiros pensadores tinham plena consciência de que produziam um conhecimento radicalmente novo e, em muitos pontos, oposto à tradição religiosa. (VERNANT, 1973, p. 156-8).

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