163. A fé faz que saboreemos, como que de antemão, a alegria e a luz da
visão beatifica, termo da nossa caminhada nesta Terra. Então veremos Deus «face
a face» (1 Cor 13, 12), «tal como Ele é» (1 Jo 3,
2). A fé, portanto, é já o princípio da vida eterna:
«Enquanto, desde já, contemplamos os benefícios da fé, como
reflexo num espelho, é como se possuíssemos já as maravilhas que a nossa fé nos
garante havermos de gozar um dia» (40).
164. Por enquanto, porém, «caminhamos pela fé e não vemos claramente»
(2 Cor 5, 7), e conhecemos Deus «como num espelho,
de maneira confusa, [...] imperfeita» (1 Cor, 13, 12). Luminosa
por parte d'Aquele em quem ela crê, a fé é muitas vezes vivida na obscuridade,
e pode ser posta à prova. O mundo em que vivemos parece muitas vezes bem
afastado daquilo que a fé nos diz: as experiências do mal e do sofrimento, das
injustiças e da morte parecem contradizer a Boa-Nova, podem abalar a fé e
tornarem-se, em relação a ela, uma tentação.
165. É então que nos devemos voltar para as testemunhas
da fé: Abraão, que acreditou, «esperando contra toda a esperança» (Rm 4,
18); a Virgem Maria que, na «peregrinação da fé» (41), foi até à «noite da fé»
(42), comungando no sofrimento do seu Filho e na noite do seu sepulcro (43); e
tantas outras testemunhas da fé: «envoltos em tamanha nuvem de testemunhas,
devemos desembaraçar-nos de todo o fardo e do pecado que nos cerca, e correr
com constância o risco que nos é proposto, fixando os olhos no guia da nossa
fé, o qual a leva à perfeição» (Heb 12, 1-2).