A FÉ E A INTELIGÊNCIA
156. O motivo de crer não é o fato de as
verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz da nossa
razão natural. Nós cremos «por causa da autoridade do próprio Deus revelador,
que não pode enganar-se nem enganar-nos» (20). «Contudo, para que a homenagem
da nossa fé fosse conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores do
Espírito Santo fossem acompanhados de provas exteriores da sua Revelação» (21).
Assim, os milagres de Cristo e dos santos (22), as profecias, a propagação e a
santidade da Igreja, a sua fecundidade e estabilidade «são sinais certos da
Revelação, adaptados à inteligência de todos» (23), «motivos de credibilidade»,
mostrando que o assentimento da fé não é, «de modo algum, um movimento cego do
espírito» (24).
157. A fé é certa, mais certa que qualquer
conhecimento humano, porque se funda na própria Palavra de Deus, que não pode
mentir. Sem dúvida, as verdades reveladas podem parecer obscuras à razão e à
experiência humanas; mas «a certeza dada pela luz divina é maior do que a dada
pela luz da razão natural» (25). «Dez mil dificuldades não fazem uma só dúvida»
(26).
158. «A fé procura compreender» (27): é inerente
à fé o desejo do crente de conhecer melhor Aquele em quem acreditou, e de
compreender melhor o que Ele revelou; um conhecimento mais profundo exigirá,
por sua vez, uma fé maior e cada vez mais abrasada em amor. A graça da fé abre
«os olhos do coração» (Ef 1, 18) para uma inteligência viva dos
conteúdos da Revelação, isto é, do conjunto do desígnio de Deus e dos mistérios
da fé, da íntima conexão que os Liga entre si e com Cristo, centro do mistério
revelado. Ora, para «que a compreensão da Revelação seja cada vez mais
profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé, mediante os seus
dons» (28). Assim, conforme o dito de Santo Agostinho, «eu creio para compreender
e compreendo para crer melhor» (29).
159. Fé e ciência. «Muito embora a fé esteja acima da razão, nunca pode haver
verdadeiro desacordo entre ambas: o mesmo Deus, que revela os mistérios e
comunica a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão. E Deus não
pode negar-Se a Si próprio, nem a verdade pode jamais contradizer a verdade»
(30). «É por isso que a busca metódica, em todos os domínios do saber, se for
conduzida de modo verdadeiramente científico e segundo as normas da moral,
jamais estará em oposição à fé: as realidades profanas e as da fé encontram a
sua origem num só e mesmo Deus. Mais ainda: aquele que se esforça, com
perseverança e humildade, por penetrar no segredo das coisas, é como que
conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os seres e faz que eles sejam o
que são, mesmo que não tenha consciência disso» (31).
Notas:
20. I Concílio Vaticano, Const. dogm.Dei Filius. c. 3:
DS 3008.
21. I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c.
3: DS 3009.
22. Cf. Mc 16, 20; Heb 2, 4.
23. I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c.
3: DS 3009.
24. I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei
Filius, c. 3: DS 3010.
25. São Tomás de Aquino, Summa theologiae II-II.
q. 171, 5, 3um: Ed. Leon. 10, 373.
26. J. H. Newman, Apologia pro vita sua, c. 5.
ed. M. J. Svaglic, Oxford 1967, p. 210.
27. Santo Anselmo da Cantuária, Proslogion. Prooemium: Opera
omnia, ed. F. S. Schmitt. v. 1, Edimburgo 1946, p. 94.
28. II Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
5: AAS 58 (1966) 819.
29. Santo Agostinho, Sermão 43, 7, 9: CCL 41. 512
(PL 38. 258).
30. I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c.
4: DS 3017.
31. II Concílio Vaticano, Const. past. Gaudium et
spes, 36: AAS 58 ((966) 1054.
Fonte: Catecismo da Igreja
Católica (versão digital). Disponível: www.catolicoorante.com.br.
Acesso: 30/jan/2019
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