"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Festas Barrocas: O Triunfo Eucarístico e o Áureo Trono Episcopal


Entre as manifestações que movimentaram a vida social na região das Gerais ficaram célebres as opulentas festas do Triunfo Eucarístico e do Áureo Trono Episcopal. Brilhantes e luxuosas, contavam com a participação de grupos vocais, instrumentais e dançantes. Conforme registros sobre elas, ao lado de peças religiosas eram executadas obras não religiosas como serenatas e concertos.
A festa do Triunfo Eucarístico foi realizada com pompa e ostentação, em 25 de maio de 1733, quando o Santíssimo Sacramento foi transferido da igreja do Rosário para a matriz do Pilar de Vila Rica. Expressava o estado coletivo de euforia, celebrando o apogeu do metal precioso - símbolo temporal de riqueza e de poder - que "iluminava" a aventura mineradora, no seu apogeu, nas Gerais.
A outra festividade, do Áureo Trono Episcopal, ocorrida em 1748, teve como objetivo comemorar a criação do bispado de Mariana, com um variado programa de cerimônias públicas suntuosas. A celebração tinha como personagem principal, mais do que o metal precioso, a sociedade mineradora, agora com sua própria sede eclesiástica.
As opulentas festas barrocas, Triunfo Eucarístico e Áureo Trono Episcopal, eram espetáculos visuais: janelas adornadas com colchas de damasco e seda, flores, alegorias, figuras a cavalo luxuosamente vestidas etc., mascaravam os conflitos sociais. Davam ilusão, ao integrar no ritual, por exemplo, "pagens mulatinhos" vestidos com pompa e requinte, que todos participavam das riquezas. Como se a grandeza e a abundância da empresa aurífera estivesse ao alcance de toda população.
Tais manifestações barrocas, devem ser percebidas como uma forma de dar visibilidade ao poder da igreja de Roma e do Estado português.
Segundo documentos da época, entre 1733 e 1748, o ouro extraído na região das Gerais viveu a etapa de maior produtividade. Os dois festejos barrocos serviram para periodizar o encerramento do apogeu das minas e o lento processo de decadência que, nos anos 70 do século XVIII, já era visível e palpável.
Em meio a estas festividades e procissões religiosas, organizadas pelas Ordens Terceiras e pelas Irmandades, a população esquecia a rotina e o trabalho diário. Entendidas como grandes acontecimentos, enfumaçavam as diferenças sociais que separavam os que produziam as riquezas daqueles que as usufruíam. Bastava olhar o que acontecia nos caminhos, nas encostas dos morros, nos becos, nas vendas e nas tavernas, para entender que, atrelada a uma riqueza ilusória, estava a pobreza. Usando a linguagem do barroco, encobriam os fatos já que, conforme assinalou a historiadora Laura de Mello e Souza, (...) "o luxo era ostentação pura, o fausto era falso, a riqueza começava a ser pobreza e o apogeu a decadência."

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