PARA LER A NARRATIVA DA QUEDA
390. A narrativa da
queda (Gn 3) utiliza uma linguagem feita de imagens, mas afirma um
acontecimento primordial, um fato que teve lugar no princípio da história
do homem (264). A Revelação dá-nos uma certeza de fé de que toda a
história humana está marcada pela falta original, livremente cometida pelos
nossos primeiros pais (265).
II. A queda dos anjos
391. Por detrás da opção de desobediência dos nossos primeiros pais, há uma voz sedutora, oposta a Deus (266), a qual, por inveja, os faz cair na morte (267). A Escritura e a Tradição da Igreja veem neste ser um anjo decaído, chamado Satanás ou Diabo (268). Segundo o ensinamento da Igreja, ele foi primeiro um anjo bom, criado por Deus. «Diabolus enim et alii daemones a Deo quidem natura creati sunt boni, sed ipsi per se facti sunt mali – De fato, o Diabo e os outros demônios foram por Deus criados naturalmente bons; mas eles, por si, é que se fizeram maus» (269).
392. A Escritura fala
dum pecado destes anjos (270). A queda consiste na livre
opção destes espíritos criados, que radical e
irrevogavelmente recusaram Deus e o seu Reino. Encontramos um reflexo
desta rebelião nas palavras do tentador aos nossos primeiros pais: «Sereis como
Deus» (Gn 3, 5). O Diabo é «pecador desde o princípio»
(1 Jo 3, 8), «pai da mentira» (Jo 8, 44).
393. É o caráter irrevogável da
sua opção, e não uma falha da infinita misericórdia de Deus, que faz com que o
pecado dos anjos não possa ser perdoado. «Não há arrependimento para eles
depois da queda, tal como não há arrependimento para os homens depois da morte»
(271).
394. A Escritura atesta
a influência nefasta daquele que Jesus chama «o assassino desde o
princípio» (Jo 8, 44), e que chegou ao ponto de tentar desviar Jesus
da missão recebida do Pai (272). «Foi para destruir as obras do Diabo que
apareceu o Filho de Deus» (1 Jo 3, 8). Dessas obras, a mais grave em consequências
foi a mentirosa sedução que induziu o homem a desobedecer a Deus.
395. No entanto, o
poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo
fato de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para
impedir a edificação do Reino de Deus. Embora Satanás exerça no mundo a sua ação,
por ódio contra Deus e o seu reinado em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause
graves prejuízos – de natureza espiritual e indiretamente, também, de natureza
física – a cada homem e à sociedade, essa ação é permitida pela divina
Providência, que com força e suavidade dirige a história do homem e do mundo. A
permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério. Mas «nós sabemos
que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28).
Notas:
264. Cf. II Concílio do
Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 13: AAS 58 (1966) 1034-1035.
265. Cf. Concílio de Trento,
Sess. 5.º, Decretum de peccato originali, canon 3: DS1513: Pio XII,
Enc. Humani generis: DS 3897: Paulo VI, Alocução aos
participantes no «simpósio» teológico sobre o pecado original (11 de Julho
de 1966): AAS 58 (1966) 649-655.
266. Cf. Gn
3, 1-5.
267. Cf. Sb 2, 24.
268. Cf. Jo 8,
44; Ap 12, 9.
269. IV Concílio de
Latrão (ano 1215), Cap. 1, De fide catholica: DS 800.
270. Cf. 2 Pe 2,
4.
271. São João
Damasceno, Expositio fidei [De fide orthodoxa 2, 4]: PTS 12, 50 (PG
94, 877).
272. Cf. Mt 4,
1-11.
Fonte: Catecismo da Igreja
Católica (versão digital). Disponível: www.catolicoorante.com.br.
Acesso: 30/nov/2020
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