Empirismo e intelectualismo
Duas grandes concepções sobre a
sensação e a percepção fazem parte da tradição filosófica: a empirista e a
intelectualista.
Para os empiristas, a sensação e
a percepção dependem das coisas exteriores, isto é, são causadas por estímulos
externos que agem sobre nossos sentidos e sobre o nosso sistema nervoso,
recebendo uma resposta que parte de nosso cérebro, volta a percorrer nosso
sistema nervoso e chega aos nossos sentidos sob a forma de uma sensação (uma
cor, um sabor, um odor), ou de uma associação de sensações numa percepção (vejo
um objeto vermelho, sinto o sabor de uma carne, sinto o cheiro da rosa, etc.).
A sensação seria pontual, isto
é, um ponto do objeto externo toca um de meus órgãos dos sentidos e faz um
percurso no interior do meu corpo, indo ao cérebro e voltando às extremidades
sensoriais. Cada sensação é independente das outras e cabe à percepção unificá-las
e organizá-las numa síntese. A causa do conhecimento sensível é a coisa
externa, de modo que a sensação e a percepção são efeitos passivos de uma
atividade dos corpos exteriores sobre o nosso corpo. O conhecimento é obtido
por soma e associação das sensações na percepção e tal soma e associação
dependem da freqüência, da repetição e da sucessão dos estímulos externos e de
nossos hábitos.
Para os intelectualistas, a
sensação e a percepção dependem do sujeito do conhecimento e a coisa exterior é
apenas a ocasião para que tenhamos a sensação ou a percepção. Nesse caso, o
sujeito é ativo e a coisa externa é passiva, ou seja, sentir e perceber são
fenômenos que dependem da capacidade do sujeito para decompor um objeto em suas
qualidades simples (a sensação) e de recompor o objeto como um todo, dando-lhe
organização e interpretação (a percepção).
A passagem da sensação para a
percepção é, neste caso, um ato realizado pelo intelecto do sujeito do
conhecimento, que confere organização e sentido às sensações. Não haveria algo
propriamente chamado percepção, mas sensações dispersas ou elementares; sua
organização ou síntese seria feita pela inteligência e receberia o nome de
percepção. Assim, na sensação, “sentimos” qualidades pontuais, dispersas,
elementares e, na percepção, “sabemos” que estamos tendo sensação de um objeto
que possui as qualidades sentidas por nós. Como disse um filósofo, perceber é
“saber que percebo”; ver é “pensamento de ver”; ouvir é “pensamento de ouvir”,
e assim por diante.
Para os empiristas, a sensação
conduz à percepção como uma síntese passiva, isto é, que depende do objeto
exterior. Para os intelectualistas, a sensação conduz à percepção como síntese
ativa, isto é, que depende da atividade do entendimento.
Para os empiristas, as idéias
são provenientes das percepções. Para os intelectualistas, a sensação e a
percepção são sempre confusas e devem ser abandonadas quando o pensamento
formula as idéias puras.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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