Para que serve a Sociologia
A sociologia serve-nos, em primeiro lugar, como instrumento
de conhecimento. Juntamente com as outras ciências sociais, diz-nos como
funcionam as instituições sociais, quais as regras escritas e, sobretudo, não
escritas, em que os indivíduos e os grupos sociais se apoiam. Mais
especificamente, a sociologia desenvolve um trabalho concreto, para o qual as
outras ciências sociais não estão adequadamente equipadas; ocupa-se de
interconexões do social e procura analisa-la. Neste sentido, ou seja, na medida
em que analisa não tanto os aspectos específicos da sociedade enquanto tais,
como as ligações estruturais e de condicionamento recíproco, a sociologia tem
uma função de generalização e um efeito de exteriorização. Não espanta que, nas
mãos de um sociólogo pouco sensato ou medíocre, a sociologia pareça, em vez de
geral, “genérica”, e de sociologia se transforme naquilo a que os que apenas
conhecem as ciências sociais pela rama não se cansem de chamar “tudologia”.
Este
aspecto crítico, tão difundido e tão superficial, evoca, paradoxalmente, a
função social específica da sociologia e a sua vocação profunda na sociedade
atual. Esta sociedade, nos seus aspectos mais avançados, é hoje uma sociedade
extremamente fragmentada por uma especialização técnica que cada vez é mais
estimulada e corre o risco de nos fazer perder de vista o social na sua
globalidade dinâmica. A sociologia é o único antídoto de que dispomos contra
essa tendência, o sociólogo desempenha uma função social crítica essencial. No
próprio momento em que começa a analisar qualquer fenômeno social,
comportamento ou instituição, o sociólogo afirma e faz incidir sobre o fato
social um critério de racionalidade que esclarece as razões profundas das
práticas sociais, muitas vezes aceites e seguidas por puro instinto
consuetudinário, e possui um salutar poder de desmistificação.
Nesta
perspectiva, é fácil compreender por que é que a sociologia tem tido uma vida
difícil em todos os regimes políticos totalitários e autoritários. O simples
fato de escolher uma dada instituição como objeto de investigação sociológica
põe em risco a propaganda oficial ou “ideológica”, desvenda os mecanismos
internos da instituição, mostra os interesses reais que essa instituição serve,
descreve as suas linhas tendenciais tais como são, na realidade,
independentemente das interpretações oficiais, revela a sociedade real que se
comprime, por trás da fachada formal. Como diziam os nazis, a sociologia
desenvolve uma “crítica social corrosiva”.
FERRAROTTI, Franco. Sociologia. Lisboa. Teorema,
1986, p. 149-150
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