A contribuição do estruturalismo
O estruturalismo permitiu que as ciências humanas criassem métodos
específicos para o estudo de seus objetos, livrando-as das explicações
mecânicas de causa e efeito, sem que por isso tivessem que abandonar a ideia de
lei científica.
A concepção estruturalista veio mostrar que os fatos humanos assumem a
forma de estruturas, isto é, de sistemas que criam seus próprios elementos,
dando a estes sentido pela posição e pela função que ocupam no todo. As
estruturas são totalidades organizadas segundo princípios internos que lhes são
próprios e que comandam seus elementos ou partes, seu modo de funcionamento e
suas possibilidades de transformação temporal ou histórica. Nelas, o todo não é
a soma das partes, nem um conjunto de relações causais entre elementos
isoláveis, mas é um princípio ordenador, diferenciador e transformador. Uma
estrutura é uma totalidade dotada de sentido.
Já vimos a noção de estrutura quando, nos capítulos dedicados à teoria do
conhecimento, nos referimos à teoria da percepção, formulada pela psicologia da
Gestalt ou da forma, bem como quando
nos referimos à teoria da linguagem, elaborada pela linguística contemporânea.
Após a psicologia e a linguística, a primeira das ciências humanas a se
transformar profundamente, graças à idéia de estrutura e ao método estrutural,
foi a antropologia social. Esta pôde mostrar que, ao contrário do que pensava a
antropologia positivista, as chamadas “sociedades primitivas” não são uma etapa
atrasada da evolução da história social da humanidade, mas uma forma objetiva
de organizar as relações sociais de modo diferente do nosso, constituindo
estruturas culturais.
O antropólogo Claude Lévi-Strauss, por exemplo, mostrou que as estruturas
dessas sociedades são baseadas no princípio do valor ou da equivalência, que
permite a troca e a circulação de certos seres, de maneira a constituir o todo
da sociedade, organizando todas as relações sociais: a troca ou circulação das
mulheres (estrutura do parentesco como sistema social de alianças), a troca ou circulação
de objetos especiais (estrutura do dom como sistema social da guerra e da paz)
e troca e circulação da palavra (estrutura da linguagem como sistema do poder
religioso e político). O modo como cada um desses sistemas ou estruturas
parciais se organiza e se relaciona com os outros define a estrutura geral e
específica de uma sociedade “primitiva”, que pode, assim, ser compreendida e
explicada cientificamente.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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