"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Vésperas - Adriana Lunardi


Vésperas é uma homenagem a grandes escritoras, transformadas em personagens e retratadas nesse belo livro em sua solidão, ambiguidades, paixões e angústias. A ideia da morte, sob diferentes focos, perpassa a obra, tecida pela prosa poética de Adriana Lunardi. São nove histórias, cada uma delas envolvendo uma personalidade da literatura: Virginia Woolf, Dorothy Parker, Ana Cristina César, Colette, Clarice Lispector, Katherine Mansfield, Sylvia Plath, Zelda Fitzgerald e Júlia da Costa. Valendo-se de detalhes biográficos dessas mulheres, Lunardi recria momentos de suas vidas, mesclando-os com fatos ficcionais.  

Alguns dos contos descrevem livremente os momentos derradeiros das das autoras. Em “Ginny”, por exemplo, nos deparamos com o hipotético fluxo de pensamento de Virginia Woolf durante o percurso até o rio Ouse, onde se suicidou, em 1941. O segundo conto, “Dottie”, revela a solidão de Dorothy Parker no dia de sua morte, em 1967. Em “Minet-Chéri”, Colette, falecida em 1954, contracena com um dos seus personagens, Claudine, do romance Claudine et l’école. “Kass”traz Katherine Mansfield, morta em 1923, vítima de tuberculose, fazendo um balanço de sua vida e relembrando as suas viagens em busca da cura.
“Ana C.” tem como protagonista um suposto amigo de Ana Cristina César, que se matou em 1983, aos 31 anos. Ele se encontra com o espírito da poeta e, juntos, constatam a efemeridade da existência. Clarice traz o conflito entre uma jovem de 17 anos e o pai que acabara de conhecer, e a determinação dela em visitar o túmulo de Clarice Lispector, falecida em 1977.
Zelda Fitzgerald é retratada em “Flapper” por meio dos seus sonhos durante o incêndio no sanatório onde morreu, em 1948. Ela era a esposa e principal inspiração de F. Scott Fitzgerald. Em “Victoria”, um homem lê, no dia do seu sexagésimo aniversário, a notícia do suicídio de Sylvia Plath. O trágico fato o leva a refletir sobre a relação distante que mantém com a esposa, homônima da poeta americana.

“Sonhadora” fecha a obra com chave de ouro. O conto narra a incrível história da escritora Júlia da Costa, nascida em 1844, moradora na ilha catarinense de São Francisco do Sul, e que não chegou a publicar livro algum em vida.

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