O PAI E O FILHO REVELADOS PELO ESPÍRITO
243. Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de um «outro
Paráclito» (Defensor), o Espírito Santo. Agindo desde a criação (46) e tendo
outrora «falado pelos profetas» (47), o Espírito Santo estará agora junto dos
discípulos, e neles (48), para os ensinar (49) e os guiar «para a verdade
total» (Jo 16, 13). E, assim, o Espírito Santo é revelado como
uma outra pessoa divina, em relação a Jesus e ao Pai.
244. A origem eterna do Espírito revela-se na sua missão temporal.
O Espírito Santo é enviado aos Apóstolos e à Igreja, tanto pelo Pai, em nome do
Filho, como pessoalmente pelo Filho, depois do seu regresso ao Pai (50). O
envio da pessoa do Espírito, após a glorificação de Jesus (51) revela em
plenitude o mistério da Santíssima Trindade.
245. A fé apostólica relativamente ao Espírito foi confessada
pelo segundo concilio ecumênico, reunido em Constantinopla em 381:«Nós
acreditamos no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai» (52). A
Igreja reconhece assim o Pai como «a fonte e a origem de toda a Divindade»
(53). Mas a origem eterna do Espírito Santo não está desligada da do Filho: «O
Espírito Santo, que é a terceira pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai
e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza... Contudo, não
dizemos que Ele é somente o Espírito do Pai, mas, ao mesmo tempo, o Espírito do
Pai e do Filho» (54). O Credo do Concílio de Constantinopla da Igreja confessa
que Ele, «com o Pai e o Filho, é adorado e glorificado» (55).
246. A tradição latina do Credo confessa que o Espírito «procede do Pai
e do Filho (Filioque)». O Concílio de Florença, em 1438,
explicita: «O Espírito Santo [...] recebe a sua essência e o seu ser ao mesmo
tempo do Pai e do Filho, e procede eternamente de um e do outro como dum só
Princípio e por uma só espiração [...] E porque tudo o que é do Pai, o próprio
Pai o deu ao seu Filho Unigênito, gerando-O, com exceção do seu ser Pai, esta
mesma procedência do Espírito Santo, a partir do Filho, Ele a tem eternamente do
seu Pai, que eternamente O gerou» (56).
247. A afirmação do Filioque não figurava no
Símbolo de Constantinopla de 381. Mas, com base numa antiga tradição latina e
alexandrina, o Papa São Leão já a tinha confessado dogmaticamente em 447 (57),
mesmo antes de Roma ter conhecido e recebido o Símbolo de 381 no Concílio de Calcedônia,
(em 451). O uso desta fórmula no Credo foi sendo, pouco a pouco, admitido na
liturgia latina (entre os séculos VIII e XI). A introdução do Filioque no
Símbolo Niceno-Constantinopolitano pela liturgia latina constitui, ainda hoje,
no entanto, um diferendo com as igrejas ortodoxas.
248. A tradição oriental exprime, antes de mais, o caráter de
origem primeira do Pai em relação ao Espírito. Ao confessar o Espírito como
«saído do Pai» (Jo 15, 26), afirma que Ele procede do
Pai pelo Filho (58). A tradição ocidental exprime, sobretudo,
a comunhão consubstancial entre o Pai e o Filho, ao dizer que o Espírito Santo
procede do Pai e do Filho (Filioque). E di-lo «de
maneira legítima e razoável» (59), «porque a ordem eterna das pessoas divinas
na sua comunhão consubstancial implica que o Pai seja a origem primeira do
Espírito, enquanto «princípio sem princípio» (60), mas também que, enquanto Pai
do Filho Único, seja com Ele «o princípio único de que procede
o Espírito Santo» (61). Esta legítima complementaridade, se não for exagerada,
não afeta a identidade da fé na realidade do mesmo mistério confessado.
Notas:
46. Cf. Gn 1. 2.
47. Símbolo Niceno-Constantinopolitano: DS 150.
48. Cf. Jo 14, 17.
49 Cf. Jo 14, 26.
50. Cf. Jo 14, 26: 15. 26; 16, 14.
51. Cf. Jo 7, 39.
52. Símbolo Niceno-Constantinopolitano: DS 150.
53. VI Concílio de Toledo (em 638), De Trinitate et de
Filio Dei Redemptore incarnato: DS 490.
54. XI Concílio de Toledo (ano 675), Symbolum: DS
527.
55. Símbolo Niceno Constantinopolitano: DS 150.
56. Concílium de Florença. Decretum pro Graecis: DS
1300-1301.
57. Cf. São Leão Magno, Ep. Quam laudabiliter: DS
284.
58. II Concílio Vaticano, Decr. Ad gentes: AAS 58
(1966) 948.
59. Concílio de Florença, Decretum pro Graecis (ano 1439):
DS 1302.
60. Concílio de Florença, Decretum pro Iacobitis
(ano 1442): DS 1331.
61. II Concílio de Lião, Constitutio de Summa Trinitate et
fide catholica (ano 1274): DS 850.
Fonte: Catecismo da Igreja
Católica (versão digital). Disponível: www.catolicoorante.com.br. Acesso:
19/abr/2019
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