II. «Corpore et anima unus» – Unidade de corpo e alma
362. A pessoa humana,
criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. A
narrativa bíblica exprime esta realidade numa linguagem simbólica, quando
afirma que «Deus formou o homem com o pó da terra, insuflou-lhe pelas narinas
um sopro de vida, e o homem tornou-se num ser vivo» (Gn 2, 7). O
homem, no seu ser total, foi, portanto, querido por Deus.
363. Muitas vezes, a
palavra alma designa, nas Sagradas Escrituras,
a vida humana (226), ou a pessoa humana no seu todo
(227). Mas designa também o que há de mais íntimo no homem (228) e de maior
valor na sua pessoa (229), aquilo que particularmente faz dele imagem de Deus:
«alma» significa o princípio espiritual no homem.
364. O corpo do homem participa na dignidade da «imagem de Deus»: é corpo humano precisamente por ser animado pela alma espiritual, e a pessoa humana na sua totalidade é que é destinada a tornar-se, no Corpo (Místico) de Cristo, templo do Espírito (230):
«Corpo e alma, mas realmente
uno, o homem, na sua condição corporal, reúne em si mesmo os elementos do mundo
material, que assim nele encontram a sua consumação e nele podem louvar
Livremente o seu Criador. Por isso, não é lícito ao homem menosprezar a vida do
corpo. Pelo contrário, deve estimar e respeitar o seu corpo, que foi criado por
Deus e que há-de ressuscitar no último dia» (231).
365. A unidade da alma
e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a «forma» do corpo
(232); quer dizer, é graças à alma espiritual que o corpo, constituído de
matéria, é um corpo humano e vivo. No homem, o espírito e a matéria não são
duas naturezas unidas, mas a sua união forma uma única natureza.
366. A Igreja ensina
que cada alma espiritual é criada por Deus de modo imediato (233) e não
produzida pelos pais; e que é imortal (234), isto é, não morre quando, na
morte, se separa do corpo; e que se unirá de novo ao corpo na ressurreição
final.
367. Encontra-se às
vezes uma distinção entre alma e espírito. São Paulo, por exemplo, ora para que
«todo o nosso ser, o espírito, a alma e o corpo», seja guardado sem mancha até
à vinda do Senhor (1 Ts 5, 23). A Igreja ensina que esta distinção
não introduz uma dualidade na alma (235), «Espírito» significa que o homem é
ordenado, desde a sua criação, para o seu fim sobrenatural (236), e que a
alma é capaz de ser gratuitamente sobreelevada até à comunhão com Deus (237).
368. A tradição
espiritual da Igreja insiste também no coração, no sentido bíblico de
«fundo do ser» («nas entranhas»: Jr 31, 33) em que a pessoa se decide
ou não por Deus (238).
Notas:
226. Cf. Mt 16,
25-26; Jo 15. 13
227.
Cf. Act 2, 41.
228. Cf. Mt 26,
38; Jo 12, 27.
229. Cf. Mt 10,
28; 2 Mac 6, 30.
230. Cf. 1 Cor
6, 19-20; 15, 44-45.
231. II Concílio do
Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 14: AAS 58 (1966) 1035.
232. Cf. Concílio de
Viena (ano 1312), Const. «Fidei catholicae»: DS 902.
233. Cf. Pio XII,
Enc. Humani generis (ano 1950): DS 3896; Paulo VI, Sollemnis
Professio fidei, 8: AAS 60 (1968) 436.
234. Cf. V Concílio de
Latrão (ano 1513), Bulla Apostolici regiminis: DS 1440.
235. IV Concílio de
Constantinopla (ano 870), canon 11: DS 657.
236. Cf. I Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c. 2: DS 3005; II Concílio
Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 22: AAS 58 (1966) 1042-1043.
237. Cf. Pio XII,
Enc. Humani generis (ano 1950): DS 3891.
238. Cf. Dt 6, 5;
29, 3; Is 29, 13; Ez 36, 26; Mt 6,
21: Lc 8, 15; Rm 5, 5.
Fonte: Catecismo da Igreja
Católica (versão digital). Disponível: www.catolicoorante.com.br.
Acesso: 30/ago/2020
0 Response to "II. «Corpore et anima unus» – Unidade de corpo e alma"
Postar um comentário