"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Assírios


A Assíria foi um antigo país ao norte da Mesopotâmia, a partir da fronteira norte do atual Iraque, cujas conquistas se estenderam aos vales dos rios Tigre e Eufrates durante o período de 1368 a.C. até 600 a.C.

A parte ocidental do país era uma estepe adequada apenas a uma população nômade. Entretanto, a parte oriental era apropriada para a agricultura, com colinas cheias de bosques e férteis vales banhados por pequenos rios. A leste da Síria se encontram os montes Zagros; ao norte, um escalão de platôs conduz ao maciço armênio; a oeste se estende a planície da Mesopotâmia. Ao sul se encontrava o país conhecido primeiro como Suméria, depois Suméria e Acádia e, mais tarde, Babilônia. Resultaram da mestiçagem entre as tribos de semitas da Samaria (região da Palestina) e os povos do norte do rio Tigre. O Império Assírio novo (883 a.C. - 612 a.C.), que se estendia da Pérsia (atual Irã) até a cidade egípcia de Tebas, atingiu seu apogeu sob o reinado de Sargão II. As principais cidades-estados eram Assur e Nínive.

As grandes escavações empreendidas a partir de 1840 e a decifração de numerosas inscrições (só a biblioteca de Assurbanipal, de Nínive, forneceu 22 mil tábulas gravadas) permitiram reconstruir, com certa minúcia, o passado desse grande império. Restam zonas de sombras. As listas assírias de reis, como a de Khorsabad, encontrada em 1932-1933, ou as de oficiais epônimos (o primeiro ano de um reinado recebia o nome do rei; os seguintes, o de algum dignitário), são, todas, imcompletas e inexatas, quando não fantasiosas. As sumérias, por exemplo, a Dmuzi, de Badtibira, de 28.800 anos de reinado; a Enmenduranna, de Sipar, 72.000.

Tais números são inaceitáveis, quer se trate de anos solares, quer lunares; ademais os cronologistas não estão de acordo quanto à data em que os anos solares substituíram os lunares na Mesopotâmia. Acresce que certos reis cujos nomes chegaram até nós em estelas ou outros monumentos não constam de qualquer relação dinástica. O próprio conceito de dinastia é moderno e não se aplica com exatidão ao caso da Assíria, onde nem sempre houve sucessão contínua, no sentido tradicional, e nem sempre a sucessão se fez de pai para filho. A realeza parece ter passado, em certas épocas, de cidades para cidades. Em outras, várias dinastias coexistiram e houve centros simultâneos de poder. Assim, reis aparentemente distanciados no tempo foram, de fato, contemporâneos.

A rigor, na Assíria, rei era o deus local, de que o príncipe não passava de representante ou vigário, isto é, o que fazia as suas vezes. Não é uniforme a terminologia empregada, nem é nítida a diferença entre os títulos assírios de luggal (rei) e ensi (governador). Às vezes, o ensi é um preposto do luggar, às vezes o luggar insiste em usar o título de ensi, ou por motivo religioso (reservar o título maior para a divindade, a que pertence de direito), ou por motivo político (não ferir a susceptibilidade da população, como aconteceu cada vez que a Babilônia foi conquistada).

Formaram o primeiro Exército organizado e o mais poderoso até então. Desenvolveram armas de ferro e carros de combate puxados a cavalo. Impuseram práticas cruéis aos vencidos, como a mutilação. Os guerreiros e sacerdotes desfrutavam grandes privilégios: não pagavam tributos e eram grandes proprietários de terra. A população, formada por camponeses e artesãos, era sujeita ao serviço forçado na construção de imensos palácios e estradas e ainda paga altos tributos. Os assírios implantaram a horticultura e aperfeiçoaram o arado. Eram politeístas e possuíam um deus supremo, Assur.

As cidades mais importantes da Assíria, todas situadas no território do atual Iraque, eram Assur, atualmente Sharqat; Nínive, da qual os únicos vestígios que indicam sua localização são dois grandes tells (colinas formadas sobre ruínas), Quyunyik e Nabi Yunas; Calach, hoje Nimrud, e Dur Sharrukin, atualmente Jursabad (Jorsabad).

A literatura assíria era praticamente idêntica à babilônica, e os reis assírios mais cultos, principalmente Assurbanipal, se gabavam de armazenar em suas bibliotecas cópias de documentos literários babilônicos. A vida social ou familiar, os costumes matrimoniais e as leis de propriedade também eram muito parecidas. E as práticas e crenças religiosas, muito semelhantes às da Babilônia, inclusive o deus nacional assírio, Assur, foi substituído pelo deus babilônio Marduk. A principal contribuição cultural assíria ocorreu no campo da arte e da arquitetura.

Segundo os descobrimentos arqueológicos, a Assíria foi habitada desde o início da era paleolítica. Apesar disso, a vida sedentária não teve origem nessa região, até cerca de 6500 a.C. O fim do Império Assírio ocorreu no ano de 612 a.C., quando o exército, comandado por seu último rei, Assur-Uballit II (612-609 a.C.), foi derrotado pelos medas em Harran.

Ao longo de sua história, o poder da Assíria dependeu quase que inteiramente de sua força militar. O rei era o comandante-em-chefe do exército e dirigia suas campanhas. Embora em teoria fosse monarca absoluto, na realidade os nobres e cortesãos que o rodeavam, assim como os governadores que nomeava para administrar as terras conquistadas, tomavam frequentemente decisões em seu nome. As ambições e intrigas foram uma ameaça constante para a vida do governante assírio. Essa debilidade central na organização e na administração do Império Assírio foi responsável por sua desintegração e colapso.

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