A Filosofia ganha seu espaço
Busto de Sócrates, Platão e Aristóteles
A filosofia, portanto, ganha importância e assume
definitivamente o seu papel dentro da sociedade antiga, mais precisamente na
Grécia dos séculos VIII a.C., quando a maioria decide que explicações baseadas
no pensamento racional são melhores, ou mais convincentes, que as de origem
mitológicas ou supersticiosas. O uso da Razão é, assim, a coluna central na
edificação do conhecimento ocidental desde o seu nascimento com a filosofia até
os dias em que nos encontramos atualmente.
Nesta sociedade grega antiga, a filosofia reunia para si
todos os assuntos importantes e era impensável que ela não existisse. Ao
contrário dos dias de hoje, em que parecemos não conseguir encontrar uma boa
razão para o emprego da filosofia, nos séculos em que o pensamento ocidental
florescia, o papel prático da filosofia era inquestionável. Ela estava
encarregada de avaliar, discutir, investigar e fornecer respostas para
praticamente tudo que era considerado importante. Por exemplo, a filosofia
tinha a função de sugerir as leis do Estado, explicar os eventos físicos da
natureza, estabelecer as regras de comunicação por meio da linguagem, sugerir o
que poderia ser considerado bonito ou feio e, até mesmo, compreender o fenômeno
da vida e da morte sob os diversos aspectos metafísicos.
As profissões que hoje conhecemos, como a de professor,
médico, político, governante, cientista
e sacerdote, se concentravam na figura do filósofo e este
havia de conhecer todas estas funções e desempenhá-las tão bem quanto sua época
assim o exigisse. Mas a preocupação principal do filósofo naqueles tempos era
com o ensino. Todos os filósofos possuíam discípulos que ficavam honrados em
aprender as diversas artes - como a oratória, a retórica, a lógica, a
matemática, a astronomia, a música, a política e, é claro, a filosofia, que
reunia, sob este título, estes e todos os demais conhecimentos.
Talvez os três filósofos mais importantes que viveram entre
os séculos V e III a.C. tenham sido Sócrates, Platão e Aristóteles. Se
voltássemos no tempo para este período, conheceríamos um sujeito de barba e
toga que perambulava e falava pelas ruas da cidade de Atenas, acompanhado de
uma porção de ouvintes atentos, que concordavam instantaneamente com tudo o que
ele dizia, além de outros que, furiosamente, tentavam contradizer as suas
palavras. Este era Sócrates, que se preocupava principalmente em estabelecer,
por meio do discurso, as bases do que seria realmente o Bom, o Belo, o Justo, o
Certo etc., por oposição ao que ele acreditava ser o Mau, o Feio, o Injusto, o
Errado etc.
Sócrates se empenhava, principalmente, em estabelecer tudo
isto para que ficasse claro que havia uma coisa chamada “Verdade”, e que esta
coisa chamada “Verdade” era o que, acima de tudo, deveríamos buscar em nossas
vidas. Deveríamos buscar a “Verdade” mais do que buscaríamos o ouro e a prata,
mais do que buscaríamos as conquistas e as vitórias, mais do que buscaríamos a
honra e a virtude, mais do que buscaríamos os amores e as paixões. Assim sendo,
a “Verdade” se aproximaria mais de um bem divino que humano e quanto mais se
achegasse dela o homem, mais próximo dos deuses ele se encontraria.
Platão foi, dos discípulos de Sócrates, o mais famoso deles,
pois se encarregou de escrever os muitos debates filosóficos que seu mestre
travara com diversas outras pessoas que tentavam sempre colocar seus pontos de
vista contrários sobre a “Verdade”. Platão herdou o discurso filosófico de
Sócrates, mas também inseriu nele as suas próprias idéias, as suas próprias
opiniões acerca da música, das artes em geral, acerca da política, do estado,
dos reis e assim por diante. Um de seus maiores projetos era convencer os
governantes de que, para melhor governar, era necessário que estes tivessem a
filosofia como mestra. Para isto escreveu um livro chamado de “A República”, no
qual tenta estabelecer de que forma seria um governo e um Estado ideal.
Assim como Sócrates, Platão também estava preocupado com a
educação e fundou a sua “Academia”, uma espécie de escola onde se podia
aprender praticamente todas as áreas em que o conhecimento se espalhava. Seria
mais ou menos como a nossa atual universidade, porém, na Academia de Platão, o
uso da matemática e da geometria era considerado como uma ferramenta necessária
para o pensamento. Tanto era assim que havia uma inscrição no alto da entrada
da Academia alertando para que ali não entrasse quem não soubesse geometria.
Um dos alunos da Academia de Platão fora Aristóteles, que
muito contribuiu para a maneira como encaramos a vida atualmente. Aristóteles
escreveu vários livros a respeito dos mais diversos assuntos. O conjunto de sua
obra trata das regras do discurso, da lógica (Organon), trata dos eventos
naturais do mundo físico (Física), trata da classificação e história dos seres
vivos (De Anima), também trata das especulações filosóficas propriamente ditas
(Metafísica), chegando a tratar da conduta humana e da política (Ética a
Nicômaco) e, por fim, tratou, também, das artes em geral (Poética), indo da
comédia à tragédia nas artes dramáticas.
Mais adiante, verificaremos mais detalhes a respeito das
construções teóricas de cada um destes importantes autores e como essas construções
influenciaram toda a filosofia ocidental posterior assim como, também, as
ciências em geral.
Fonte: Palavra em Ação. CD-ROM, Claranto Editora.
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