"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

A Filosofia


A palavra filosofia tem um significado muito especial, que é desconhecido pela maioria e que, no entanto, nos ajuda a entender a sua função na história humana.
Em termos muito gerais, filosofia vem do grego e quer dizer apego ao conhecimento. Mas este apego ao conhecimento também pode ser entendido como uma vontade, que é própria do ser humano, em tentar entender e explicar tudo o que está à sua volta, assim como o ar fresco matinal, as árvores pequenas e grandes, os riachos que fluem, as pedras que ficam paradas, ou as que rolam morro abaixo em tentar entender e explicar o objeto mais difícil e interessante de todos, que é a própria figura daquele que pensa sobre tudo isso, o homem.

Às vezes, notamos que queremos entender tudo e nos intrigamos com o porquê das coisas serem da maneira que são e não de outra forma. De modo que a pergunta que inicia todo o processo do pensar sobre o mundo e sobre nós mesmos pode ser representada da seguinte maneira: “Por que (tal coisa) deve ser assim?”. Podemos substituir esta “tal coisa” por algum objeto que nos interessa e, então, nos percebemos ignorantes sobre as causas da maioria dos fenômenos ao nosso redor, por exemplo, “Por que tenho que trabalhar?” ou “Por que meu trabalho deve ser assim?” ou ainda “Por que preciso ganhar dinheiro?” e assim por diante.
Mas por que pensar sobre coisas que parecem tão firmes e consolidadas no mundo, como o trabalho, ou o dinheiro, ou as árvores, ou mesmo sobre o ser humano? Não seria uma grande perda de tempo parar para pensar quando poderíamos estar agindo, trabalhando, nos divertindo?
Alguns pensam que sim, que realmente é uma perda de tempo e que é melhor agir do que pensar - estes são popularmente conhecidos como pessoas de ação ou pessoas práticas. Outras, no entanto, acreditam que se sentiriam melhor em não fazer nada sem antes um demorado estudo, uma longa análise da situação para que possíveis erros de operação possam ser mais facilmente evitados - estas são conhecidas como pessoas de reflexão.
Contudo, se pensarmos melhor, vamos observar que ambas (tanto as pessoas práticas como as pessoas de reflexão) pensam e agem ao mesmo tempo. As pessoas práticas não são como robôs que apenas agem, apenas obedecem ordens e realizam funções de maneira vazia; há sempre nelas uma reflexão, há sempre um pensamento que fundamenta a sua ação, mesmo que esse pensamento seja: “É melhor agir do que pensar”. Por sua vez, as pessoas de reflexão não estão em estado de repouso absoluto. Ao pensar, seu corpo também está agindo de diversas maneiras, escrevendo, olhando, cheirando, ouvindo, andando etc. Além disso, o próprio pensar pode ser encarado como uma ação, como um movimento invisível aos olhos humanos e que pode ocorrer dentro da cabeça, como acreditam certos cientistas; mas há outros que acham que este movimento pode ocorrer no coração, como os apaixonados; e há outros ainda que acreditam que este movimento pode estar no estômago que ronca, como quando se está com fome.
Os filósofos, em sua maioria, são comumente considerados mais como pessoas de reflexão do que de ação, ainda que essa reflexão também seja uma ação, como acabamos de ver. Quando pensamos neles, percebemos que o seu apego ao conhecimento, este desejo incontrolável de perguntar “Por que (tal coisa) deve ser assim?”, a sua vontade de conhecer, entender e ser capaz de explicar, deu início a uma série de pensamentos a respeito da natureza de muitas coisas que perduram desde há muito tempo (mais ou menos 2400 anos) e que fizeram com que a sociedade humana se modificasse, para o bem ou para o mal, por meio da ciência, da história, da arte e da religião.
O homem nunca mais foi o mesmo desde que começou a se perguntar sobre o porquê das coisas, suas causas, sua natureza, sua origem e seu fim. Na filosofia, muitas vezes chegamos à conclusão de que as perguntas sobre as causas das coisas, ou sobre a natureza delas, são mais importantes do que qualquer resposta que se possa encontrar, na medida em que as respostas podem ser muito diferentes umas das outras, dependendo das pessoas, dos povos, das culturas – contudo, a vontade de querer saber é a mesma em todos os seres humanos e é isto que vale a pena. O desejo de conhecer que se manifesta com a pergunta “Por que (tal coisa) deve ser assim?” é o motor, a mola que move o pensar filosófico. Sem este desejo, provavelmente, não haveria pensamento e não haveria ação, não haveria trabalho e não haveria dinheiro e, muito provavelmente, o ser humano já não existiria mais como o vemos nos dias atuais.

Fonte: Palavra em Ação. CD-ROM, Claranto Editora.

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