"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O Iluminismo (Parte 03/03)


— Por deísmo entende-se uma concepção segundo a qual Deus criou o mundo em tempos há muito passados, mas nunca se revelou a ele desde então. Desse modo, Deus é visto como um ser superior, que só se revela ao homem através da natureza e de suas leis, mas nunca através de uma forma “sobrenatural”. Tal “Deus filosófico”, nós o encontramos já em Aristóteles. Para ele, Deus era a causa primeira, o impulsor do universo.
— Só nos resta agora um ponto: os direitos humanos. 

— Em compensação, talvez ele seja o mais importante. Podemos dizer com segurança que a filosofia do Iluminismo francês era mais prática do que a inglesa.
— Você quer dizer que as conclusões que eles tiravam de sua filosofia eram aplicadas diretamente na prática?
— Sim. Os filósofos iluministas franceses não se contentaram apenas com concepções teóricas sobre o lugar do homem na sociedade. Eles lutaram ativamente por aquilo que chamaram de “direitos naturais” dos cidadãos. Tratava-se sobretudo de uma luta contra a censura, ou seja, pela liberdade de imprensa. No que respeita à religião, à moral e à política, o indivíduo precisava ter assegurado o seu direito à liberdade de pensamento e de expressão de seus pontos de vista. Além disso, lutou-se contra a escravidão e por um tratamento mais humano dos infratores das leis.
— Acho que concordo com tudo isto.
— O princípio da “inviolabilidade do indivíduo” acabou resultando na “Declaração dos direitos do homem e do cidadão”, promulgada pela Assembléia Nacional Francesa em 1789. Esta declaração dos direitos humanos foi uma base importante para a Constituição da Noruega, de 1814.
— Mas muitas pessoas ainda precisam continuar lutando por esses direitos.
— Sim, infelizmente. Os filósofos do Iluminismo queriam estabelecer determinados direitos de que todas as pessoas seriam titulares, simplesmente por terem nascido como seres humanos. É isto que eles chamam de “direito natural”. Até hoje falamos do “direito natural” que em certos casos pode se opor frontalmente às leis oficiais de um país. E até hoje vemos indivíduos – ou mesmo populações inteiras – que evocam esses “direitos naturais” para se defender da falta de liberdade, da falta de direitos e da repressão.
— Como eram os direitos da mulher naquela época?
— A Revolução Francesa de 1789 declarou uma série de direitos que deveriam valer para todos os cidadãos. Só que cidadãos eram basicamente os homens. Apesar disso, é exatamente durante a Revolução Francesa que surge o primeiro exemplo de um movimento de mulheres.
— Já não era sem tempo!
— Já em 1787, o filósofo iluminista Condorcet publica um artigo sobre os direitos da mulher. Nele, o filósofo garante às mulheres os mesmos direitos naturais dos homens. Durante a Revolução Francesa de 1789, muitas mulheres participaram ativamente da luta contra a aristocracia. Por exemplo, foram elas que lideraram as passeatas que acabaram levando o rei a abandonar o seu castelo em Versalhes. Em Paris, formaram-se diferentes grupos de mulheres. Paralelamente à igualdade de direitos políticos em relação aos homens, elas reivindicavam também mudanças na legislação conjugal e melhores condições de vida.
— E elas conseguiram esses direitos?
— Não. Conforme aconteceu outras vezes mais tarde, a questão dos direitos da mulher foi colocada no bojo de uma revolução. Contudo, logo que as coisas se acalmaram numa nova ordem, a antiga predominância dos homens foi restabelecida.
— Típico…
— Uma das que mais lutaram pelos direitos da mulher durante a Revolução Francesa foi Olympe de Gouges. Em 1791, dois anos depois da Revolução, portanto, ela publicou uma declaração dos direitos da mulher. É que a “Declaração dos direitos do homem e do cidadão” não tinha dedicado muito espaço aos direitos naturais das mulheres. Olympe de Gouges reivindicava para as mulheres exatamente os mesmos direitos dos homens.
— E qual foi o resultado disso?
— Ela foi decapitada em 1793 e as mulheres proibidas de toda e qualquer atividade política.
— Que loucura!
— Somente no século XIX é que o movimento de mulheres começa efetivamente a ganhar terreno, tanto na França quanto em toda a Europa. E foi muito lentamente que essa luta começou a dar os seus primeiros frutos. Na Noruega, por exemplo, as mulheres só passaram a ter direito ao voto em 1913. E em muitos países elas continuam a lutar pela igualdade de direitos.
— Pois elas podem contar com a minha ajuda.

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