Principais características da lógica
Aristóteles propôs a primeira classificação geral dos
conhecimentos ou das ciências dividindo-as em três tipos: teoréticas, práticas
e produtivas. Todos os saberes referentes a todos os seres, todas as ações e
produções humanas encontravam-se distribuídos nessa classificação que ia da
ciência mais alta – a filosofia primeira – até o conhecimento das técnicas
criadas pelos homens para a fabricação de objetos. No entanto, nessa
classificação não encontramos a lógica.
Por quê?
Para Aristóteles, a lógica não era uma ciência teorética,
nem prática ou produtiva, mas um instrumento para as ciências. Eis por
que o conjunto das obras lógicas aristotélicas recebeu o nome de Órganon,
palavra grega que significa instrumento.
A lógica caracteriza-se como:
● instrumental: é o instrumento do pensamento para
pensar corretamente e verificar a correção do que está sendo pensado;
● formal: não se ocupa com os conteúdos pensados ou
com os objetos referidos pelo pensamento, mas apenas com a forma pura e geral
dos pensamentos, expressa através da linguagem[i];
● propedêutica: é o que devemos conhecer antes de
iniciar uma investigação científica ou filosófica, pois somente ela pode
indicar os procedimentos (métodos, raciocínios, demonstrações) que devemos
empregar para cada modalidade de conhecimento;
● normativa: fornece princípios, leis, regras e
normas que todo pensamento deve seguir se quiser ser verdadeiro;
● doutrina da prova: estabelece as condições e os
fundamentos necessários de todas as demonstrações. Dada uma hipótese, permite
verificar as conseqüências necessárias que dela decorrem; dada uma conclusão,
permite verificar se é verdadeira ou falsa;
● geral e temporal: as formas do pensamento, seus
princípios e suas leis não dependem do tempo e do lugar, nem das pessoas e
circunstâncias, mas são universais, necessárias e imutáveis como a própria
razão.
O objeto da lógica é a proposição, que exprime,
através da linguagem, os juízos formulados pelo pensamento. A proposição
é a atribuição de um predicado a um sujeito: S é P. O
encadeamento dos juízos constitui o raciocínio e este se exprime
logicamente através da conexão de proposições; essa conexão chama-se silogismo.
A lógica estuda os elementos que constituem uma proposição (as categorias),
os tipos de proposições e de silogismos e os princípios necessários a que toda
proposição e todo silogismo devem obedecer para serem verdadeiros (princípio da
identidade, da não-contradição e do terceiro excluído).
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
[i]
No século XX, os lógicos afirmaram que a lógica aristotélica não deveria ser
considerada plenamente formal porque Aristóteles não afastara por
inteiro os conteúdos pensados para ficar apenas com a forma vazia de conteúdo.
No entanto, vamos aqui manter essa característica para a lógica aristotélica,
porque, se comparada à dialética platônica, nela o papel do conteúdo pensado é
menor do que a forma de pensamento, estudada pelo filósofo.
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