Malungos na escola: questões sobre culturas afrodescendentes e educação - Edimilson de Almeida Pereira
Estudioso e
pesquisador da cultura popular afro-brasileira, o professor Edimilson de
Almeida Pereira projeta a importância da inclusão do tema nos currículos para
além das "políticas afirmativas que permitem à sociedade brasileira
reconhecer sua dívida para com os africanos e seus descendentes", ou seja,
se a criação de tal política é promover a justiça social, em que a escola é o
espaço eleito para o reconhecimento e respeito às diversidades culturais, mais
do que se limitar à enumeração de conteúdo, a inclusão desse conteúdo nos
currículos escolares levanta debates e discussões sobre os temas em questão,
promove o valor da diversidade étnica e cultural brasileiras e propicia a
concepção de novos olhares para formar uma geração em que a troca de valores
culturais abra perspectivas para a construção de uma sociedade mais justa.
O livro está
dividido em três partes. Na primeira, é feito um inventário das heranças africanas
que influenciaram e influenciam a sociedade brasileira: alimentação, danças,
vestuário, festas, religião, habitação e língua. Segundo o autor, uma
compreensão maior das influências africanas na cultura permite que se entenda,
também, os modos de funcionamento da sociedade brasileira.
Na segunda
parte do livro, é feito um estudo de elementos banto-católicos no sistema de
valores do Congado, de Minas Gerais (uma das mais importantes manifestações da
cultura afro-brasileira). A partir da análise dos cantos, o autor identifica a
"relação que os devotos estabelecem entre os temas sagrados e os temas
sociais"; relação que confere à festa o caráter político e pedagógico,
permitindo que a comunidade envolvida discuta suas experiências de socialização.
Ao tomar o Congado como referência, é possível estabelecer o parâmetro das
diferenças que transitam nas escolas brasileiras, para encaminhar propostas de
"práticas educacionais voltadas para a promoção do diálogo".
Na terceira
parte, são levantadas questões sobre a existência de corpus literário que
"se insinua" como Literatura Negra ou Afro-brasileira. Nesse sentido,
são apresentados alguns autores, além da análise de fragmentos de suas obras.
E, finalmente, cinco autores afro-brasileiros contemporâneos são entrevistados
pelo autor e fazem uma reflexão sobre literatura, educação e formação de
identidades.
Malungo (do
banto = companheiro) era o termo usado pelos cativos para identificar àqueles
que tinham viajado no mesmo navio, quando vieram da África. O professor
Edimilson de Almeida Pereira, com sua agudeza de espírito, escolheu como título
do seu trabalho a mesma palavra para falar de outra viagem: aquela que se
inicia com alforria nos currículos escolares.
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