Situação cognitiva
Alguém sabe alguma
coisa: é sob esta forma condensada que se apresenta toda a situação cognitiva.
Antes de nos dobrarmos sobre as modalidades desta relação e sobre as suas
diversas expressões, vamos esforçar-nos por explicitar o que se entende e
subentende por esta afirmação.
Para que haja situação
cognitiva, é preciso que a relação seja completa, isto é, que haja alguém que
saiba alguma coisa. Por outras palavras, toda a situação cognitiva implica a
existência de um sujeito cognoscente e de um objeto conhecido, unidos por uma
relação cognitiva que se exprime sob a forma de um saber. Todo o saber implica
a existência de um sujeito cognoscente e de um objeto conhecido em virtude de
que, para lá das palavras — ou outros elementos cognitivos — que compõem esse
saber, há um sujeito que conhece, isto é, que domina as palavras, e um objeto
conhecido, a que as palavras se aplicam. Somos assim levados a afirmar que não
pode haver saber fora da situação cognitiva, não pode haver saber em si.
Afirmar que não há
saber sem sujeito cognoscente significa que todo o saber é um ato, uma
atividade, e não uma essência. O saber não subsiste a título de entidade
independente, só por contaminação é que se fala do saber contido nos livros.
Essencialmente, o saber é uma certa relação do homem ao seu mundo, uma certa
aptidão e atitude do homem relativamente ao que existe: do ponto de vista do
homem, sujeito cognoscente, o saber consiste essencialmente na atividade
cognitiva. É sobre o homem considerado como sujeito cognoscente que aqui se põe
toda a insistência, na medida em que se considera que a situação cognitiva,
com o que ela implica de verbalidade, de possibilidade autônoma de progresso,
de espontaneidade, de troca, é uma situação especificamente humana, pelo menos
no estado atual do saber. Outras situações, como o saber dos animais, ou o dos
ordenadores, só se dizem cognitivas por analogia. (...)
SCHLAMGER, Jacques. in
AMADO, João, GAMA, João e MORÃO, Artur. O
prazer de pensar. 11º ano de filosofia. Lisboa, Edições 70, 1989. p. 34-35.
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