"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Situação cognitiva



Alguém sabe alguma coisa: é sob esta forma condensada que se apresenta toda a situação cognitiva. Antes de nos dobrarmos sobre as modalidades desta relação e sobre as suas diversas expressões, vamos esforçar-nos por explicitar o que se entende e subentende por esta afirmação.
Para que haja situação cognitiva, é preciso que a relação seja completa, isto é, que haja alguém que saiba alguma coisa. Por outras palavras, toda a situação cognitiva implica a existência de um sujeito cognoscente e de um objeto conhe­cido, unidos por uma relação cognitiva que se exprime sob a forma de um sa­ber. Todo o saber implica a existência de um sujeito cognoscente e de um obje­to conhecido em virtude de que, para lá das palavras — ou outros elementos cognitivos — que compõem esse saber, há um sujeito que conhece, isto é, que domina as palavras, e um objeto conhecido, a que as palavras se aplicam. So­mos assim levados a afirmar que não pode haver saber fora da situação cogniti­va, não pode haver saber em si.

Afirmar que não há saber sem sujeito cognoscente significa que todo o saber é um ato, uma atividade, e não uma essência. O saber não subsiste a título de entidade independente, só por contaminação é que se fala do saber contido nos livros. Essencialmente, o saber é uma certa relação do homem ao seu mundo, uma certa aptidão e atitude do homem relativamente ao que existe: do ponto de vista do homem, sujeito cognoscente, o saber consiste essencialmente na atividade cognitiva. É sobre o homem considerado como sujeito cognoscente que aqui se põe toda a insistência, na medida em que se considera que a situa­ção cognitiva, com o que ela implica de verbalidade, de possibilidade autôno­ma de progresso, de espontaneidade, de troca, é uma situação especificamente humana, pelo menos no estado atual do saber. Outras situações, como o saber dos animais, ou o dos ordenadores, só se dizem cognitivas por analogia. (...)

SCHLAMGER, Jacques. in AMADO, João, GAMA, João e MORÃO, Artur. O prazer de pensar. 11º ano de filosofia. Lisboa, Edições 70, 1989. p. 34-35.

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