O nascimento da filosofia
A reflexão filosófica, com as características descritas, nasceu na Grécia no século VI a.C, com os filósofos que antecederam a Sócrates.
A passagem da consciência mítica e religiosa
para a consciência racional e filosófica não foi feita de um salto. Esses dois
tipos de consciência coexistiram na sociedade grega, assim como, dentro de
certos limites, coexistem na nossa. O processo de urbanização e a organização
política da Grécia ao redor das cidades exigiram a regulamentação das
atividades dos indivíduos, levando os homens à procura de uma maior
racionalidade da ação e do pensamento. A teogonia opôs-se a cosmologia, isto é, a crença na origem divina e mítica do mundo foi substituída pela busca da arché,
do princípio não só material, mas também regulador da ordem do mundo. Esta
busca da arché, do princípio ou fundamento das coisas, transformou-se na
questão central para os pré-socráticos. As respostas foram múltiplas e
divergentes: para alguns era a água, para outros, o ar, para outros, ainda, o
fogo ou os quatro elementos. E, com esta diversidade de respostas, rompe-se a
atitude mítica, monolítica e dogmática, embora o conteúdo da reflexão filosófica permaneça muito semelhante ao do mito, pois a estrutura de
entendimento do mundo é semelhante.
Hesíodo, no século VIII a.C, faz o relato do
mito da origem do mundo, segundo o qual Gaia (Terra) surge do Caos inicial e,
depois, pelo processo de separação, gera Urano (Céu) e Pontos (Mar). Une-se, então,
a Urano e dá início às gerações divinas. Como se vê, no mito esses seres
primitivos não são apenas seres da natureza, mas divindades. Alguns filósofos
gregos, por sua vez, explicam que, a partir de um estado inicial de
indefinição, ocorre a separação dos contrários (quente e frio, seco e úmido
etc.), que vai gerar os seres naturais, como o céu de fogo, o ar frio, a terra
seca e o mar úmido. Para eles, a ordem do mundo deriva de forças opostas que se
equilibram reciprocamente, e a união desses opostos explica os fenômenos
meteóricos, as estações do ano, o nascimento e morte de tudo o que vive.
Portanto, os conteúdos dos dois relatos, o mítico e o filosófico, apresentam
semelhanças, embora a atitude filosófica rejeite as interferências de deuses;
do sobrenatural, buscando coerência interna, definição dos conceitos, o debate
e a discussão.
Com Sócrates, essa busca da discussão e do
rigor leva à criação do chamado método socrático.
Voltando sua atenção para o problema do homem,
Sócrates faz uma análise detalhada das qualidades individuais e das virtudes
humanas, determinando e definindo essas qualidades como sendo a bondade, a
justiça, a temperança, a coragem etc. Sócrates, entretanto, não define o
próprio ser humano. Por quê? Porque o homem, ao contrário da natureza, não
pode ser definido em termos de propriedades objetivas, só em termos da sua consciência. E para alcançarmos uma visão clara do caráter do homem, para compreendê-lo, precisamos encará-lo face a face, através do diálogo.
Fonte:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Temas
de Filosofia. São Paulo, Moderna, 2000 (edição digital).
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