[Os filósofos e a filosofia] - Texto Complementar
Filósofos diferentes têm posturas diversas com
relação a esta imagem institucional de sabedoria e compreensão. O filósofo que
descrevi até agora leva muito a sério o seu papel de guardião da tradição:
para ele a possibilidade e a alternativa são um risco perigoso, do qual deve
se proteger, e suas "demonstrações" têm exatamente o objetivo de
afastar do público ignorante o espectro da catástrofe. Mas há, ainda, o
filósofo que tem simpatia pelas alternativas, que, na verdade, está convencido
de que uma certa alternativa (um tipo de sociedade, ou organização econômica,
ou legal, ou uma determinada prática científica) seja muito melhor que a
realidade atual: este se dedicará com fervor missionário a fazer propaganda da
sua alternativa preferida e a convencer o mundo de seu trágico erro. E, por
fim, há o filósofo mais desencantado (ou mais cínico) que se rebela contra a
imagem institucional, pelo menos no nível do discurso, e que, portanto, mais
naturalmente se escuda atrás de outros tipos sociais: o escritor, o esteta, o
provocador. Este não crê saber como estão as coisas ou como deveriam estar,
não tem sabedoria à venda mas, no entanto, continua a criticar toda a
(presumível) sabedoria existente, a revelar-lhe a ausência de fundamentos, não
porque tenha algo melhor fundamentado a oferecer, mas porque a sua tarefa, ou
paixão ou destino, é o de revelar a falta de fundamento de cada crença, de cada
prática, obrigar as pessoas a defrontar-se com os vários modos de ser do mundo.
Aristóteles e Kant eram filósofos do primeiro tipo; Platão e Marx, do segundo;
Sócrates e Nietzsche, do terceiro. E todos, embora com motivações diferentes,
deram a sua importante contribuição para o alargamento das fronteiras do
possível que constituía o seu verdadeiro objetivo.
BEMCIVENGA, Ermano. Giochiamo com la filosofia.
Milão, Amoldo Mondadori, 1990.
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