"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Contracultura


Nas Ciências Humanas, os conceitos de “cultura de massa” e “indústria cultural” surgiram para consolidar a ideia de que nas sociedades capitalistas, a organização da sociedade e das instituições promoveu a prática de um processo de homogeneização da população como um todo, e, diversos teóricos apontaram a reprodução de ideologias ou visões de mundo que prescreviam normas para as formas de pensar, agir e sentir que estariam sendo levadas a todos os indivíduos com o objetivo de disseminar uma mesma compreensão do mundo, isto homogeneizar.  

Alguns pesquisadores tiveram a intenção de mostrar como determinadas ideologias ganham alcance na sociedade e, a partir de sua disseminação, passam a consolidar um costume compreendido como natural (normas). Apesar da importância desse tipo de trabalho, outros importantes teóricos da cultura estabeleceram um questionamento sobre essa ideia de “cultura dominante” ao mostrarem outra possibilidade de resposta, partindo para o campo das práticas culturais, também podemos notar que o desenvolvimento de costumes vão contra os pressupostos compartilhados pela maioria. Foi nesse momento em que passou a se trabalhar com o conceito de “contracultura”, definidor de todas as práticas e manifestações que visam criticar, debater e questionar tudo aquilo que é visto como vigente em um determinado contexto sócio histórico.
Um dos mais reconhecidos tipos de manifestação contracultural aconteceu nas décadas de 1950 e 1960, nos Estados Unidos. Após a Segunda Guerra Mundial, um verdadeiro “baby-boom” foi responsável pelo surgimento de uma nova geração que viveria todo o conforto de um país que enriqueceu rapidamente. Contudo, ao contrário do que se podia esperar, essa geração desempenhou o papel de apontar os limites e problemas gerados pela sociedade capitalista. Com o crescimento dos meios de comunicação, a difusão de normas, valores, gostos e padrões de comportamento se libertaram das amarras tradicionais e locais – como a religiosa e a familiar, ganhando uma dimensão mais universal e aproximando a juventude de todo o globo, de uma maior integração cultural e humana.
Rejeitando o elogio cego à nação, o trabalho e a rápida ascensão social, esses jovens buscaram um abrigo contra as instituições e valores que defendiam o consumismo e o cumprimento das obrigações, a homogeneização. Surge então o movimento hippie, que incitou milhares de jovens a cultuarem o amor livre, o desprendimento às convenções e o desenvolvimento de todo um mundo que fosse alternativo ao que fosse oferecido pelo sempre tão criticado “sistema”, teve lugar um estilo de mobilização e contestação social e utilizando novos meios de comunicação em massa. Jovens inovando estilos, voltando-se mais para o antissocial aos olhos das famílias mais conservadoras, com um espírito mais libertário, resumido como uma cultura underground, cultura alternativa ou cultura marginal, focada principalmente nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, na busca de outros espaços e novos canais de expressão para o indivíduo e pequenas realidades do cotidiano, embora o movimento Hippie, que representa esse auge, almejasse a transformação da sociedade como um todo, através da tomada de consciência, da mudança de atitude e do protesto político.
A contracultura pode ser definida como um ideário divergente, que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental. Justamente por causa disso, são pessoas que costumam se excluir socialmente e algumas que se negam a se adaptarem às visões aceitas pelo mundo. A contracultura desenvolveu-se na América Latina, Europa e principalmente nos EUA onde as pessoas buscavam valores novos.
Na verdade, como ideário, muitos consideram o Existencialismo de Sartre como o marco inicial da contracultura, já na década de 1940, com seu engajamento político, defesa da liberdade, seu pessimismo pós-guerra, etc, portanto, um movimento filosófico mais restrito, anterior ao movimento basicamente artístico e comportamental da Beat Generetion que resultaria em um movimento de massa, o movimento Hippie.
Na década de 1960, dessa forma, o mundo conheceu o principal e mais influente movimento de contra cultura ja existente, o movimento Hippie. Os hippies se opunham radicalmente aos valores culturais considerados importantes na sociedade: o trabalho, o patriotismo e o nacionalismo, a ascensão social e até mesmo a "estética padrão".
O principal marco histórico da cultura "hippie" foi o "Woodstock," um grande festival ocorrido em 1969, que contou com a participação de artistas de diversos estilos musicais, como o folk, o "rock'n'roll" e o blues, todos esses de alguma forma ligados às críticas e à contestação do movimento.
A partir de todos esses fatos era difícil ignorar-se a contracultura como forma de contestação radical, pois rompia com praticamente todos os hábitos consagrados de pensamentos e comportamentos da cultura dominante, surgindo inicialmente na imprensa foi ganhando espaço no sentido de lançar rótulos ou modismos. O que marcava a nova onda de protestos desta cultura que começava a tomar conta, principalmente, da sociedade americana era o seu caráter de não-violência, por tudo que conseguiu expressar, por todo o envolvimento social que conseguiu provocar, é um fenômeno verdadeiramente cultural. Constituindo-se num dos principais veículos da nova cultura que explodia em pleno coração das sociedades industriais avançadas.
O discurso crítico que o movimento estudantil internacional elaborou ao longo dos anos de 1960 visava não apenas as contradições da sociedade capitalista, mas também aquelas de uma sociedade industrial capitalista, tecnocrática, nas suas manifestações mais simples e corriqueiras. Neste período a contracultura teve seu lugar de importância, não apenas pelo poder de mobilização, mas principalmente, pela natureza de ideias que colocou em circulação, pelo modo como as veiculou e pelo espaço de intervenção crítica que abriu.
O movimento da contracultura valorizava:
  • valorização da natureza; 
  • vida comunitária;
  • luta pela paz (contra as guerras, conflitos e qualquer tipo de repressão);
  • vegetarianismo: busca de uma alimentação natural;
  • respeito às minorias raciais, culturais e sexuais;
  • experiência com drogas psicodélicas,
  • liberdade nos relacionamentos sexuais e amorosos, 
  • anticonsumismo
  • aproximação das práticas religiosas orientais, principalmente do budismo;
  • crítica aos meios de comunicação de massa como, por exemplo, a televisão;
  • discordância com os princípios do capitalismo e economia de mercado

Atualmente a contracultura ainda vive, porém esta preservada em pequenos grupos sociais e artísticos que contestam alguns parâmetros estabelecidos pelo mercado cultural, governos e movimentos tradicionalistas.

Texto produzido pelo Prof. Valdinei Gomes Garcia para o Colégio Integrado, Campo Mourão (PR)


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