"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Conhecimento, pensamento e linguagem



Como essa relação entre sujeito e objeto, chamada conhecimento, se manifesta?
Todo conhecimento manifesta-se por meio do pensamento. Pensar é articular signos, ou seja, é ligar ou unir as representações em cadeias.
O pensamento é concreto quando se utiliza de imagens visuais, sonoras, olfativas, táteis, cinestésicas ou de paladar. Quando escolhemos as imagens que farão parte de um filme e as montamos numa determinada sequência, quando articulamos as cores sobre uma tela, ou, ainda, quando cantarolamos, procurando os sons adequados para uma composição musical, certamente estamos pensando a partir de uma determinada linguagem e mostrando um conhecimento de mundo. Este tipo de pensamento, chamado não-verbal, está preso ao mundo sensível.  

Podemos, também, pensar de forma abstrata, através de ideias e conceitos mais gerais. Neste caso, utilizamo-nos de linguagens como as da matemática, da química, da linguagem verbal, isto é, da própria palavra, que permitem um maior grau de abstração.
Por muito tempo, considerou-se que o pensamento poderia se efetivar através da linguagem verbal. Kant, filósofo alemão do século XVIII, na Crítica da razão pura, diz: "Pensar é conhecer através de conceitos". Nos Prolegômenos a qualquer metafísica futura que possa vir a ser considerada como ciência, ele vai mais longe: "Pensar é unir as representações na consciência. {.--) A união das representações em uma consciência é o juízo. Pensar, portanto, é julgar".
Ao identificar pensamento com formação de conceitos e juízos, Kant liga imediatamente pensamento e linguagem verbal. Vejamos por quê.
A linguagem verbal é um sistema simbólico, isto é, um sistema de signos arbitrários com relação ao objeto que representam e, por isso mesmo, convencionais e dependentes da aceitação social. Tomando como exemplo a palavra "livro", percebemos que não há nada no objeto entendido como livro que me leve a pronunciar essa palavra. Assim, nosso ato de designar um determinado objeto por um nome (livro) é arbitrário e, para sermos compreendidos, devemos estar amparados por uma convenção, aceita pela comunidade dos falantes de língua portuguesa, que garanta a ligação entre o som "livro" (ou sua forma escrita) e o objeto representado.
O nome, ou a palavra, é o símbolo dos objetos que existem no mundo natural e das entidades abstratas que só existem no nosso pensamento e imaginação. Fixa na nossa memória, enquanto ideia, aquilo que já não está ao alcance dos nossos sentidos, criando um mundo estável de representações que nos permitem falar do passado e fazer projetos para o futuro.
A palavra, portanto, transcende, vai além da situação concreta, do vivido. A palavra já é uma abstração e com ela elaboramos conceitos e emitimos julgamentos.
É bom frisar, no entanto, que as linguagens não-verbais também nos permitem pensar, pois são articuláveis em signos. O tipo de pensamento, porém, é diferente, uma vez que essas linguagens não operam por conceitos nem emitem juízos.

Fonte:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo, Moderna, 2000 (edição digital).

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