Conhecimento, pensamento e linguagem
Como essa relação entre
sujeito e objeto, chamada conhecimento, se manifesta?
Todo conhecimento
manifesta-se por meio do pensamento. Pensar
é articular signos, ou seja, é ligar ou unir as representações em cadeias.
O pensamento é concreto
quando se utiliza de imagens visuais, sonoras, olfativas, táteis, cinestésicas
ou de paladar. Quando escolhemos as imagens que farão parte de um filme e as
montamos numa determinada sequência, quando articulamos as cores sobre uma
tela, ou, ainda, quando cantarolamos, procurando os sons adequados para uma
composição musical, certamente estamos pensando a partir de uma determinada
linguagem e mostrando um conhecimento de mundo. Este tipo de pensamento,
chamado não-verbal, está preso ao mundo sensível.
Podemos, também, pensar
de forma abstrata, através de ideias e conceitos mais gerais. Neste caso,
utilizamo-nos de linguagens como as da matemática, da química, da linguagem
verbal, isto é, da própria palavra, que permitem um maior grau de abstração.
Por muito tempo,
considerou-se que o pensamento só poderia
se efetivar através da linguagem
verbal. Kant, filósofo alemão do século XVIII, na Crítica da razão pura, diz: "Pensar é conhecer através de
conceitos". Nos Prolegômenos a
qualquer metafísica futura que possa vir a ser considerada como ciência, ele
vai mais longe: "Pensar é unir as representações na consciência. {.--) A
união das representações em uma consciência é o juízo. Pensar, portanto, é
julgar".
Ao identificar pensamento com formação de conceitos e
juízos, Kant liga imediatamente pensamento e linguagem verbal. Vejamos por quê.
A linguagem verbal é um
sistema simbólico, isto é, um sistema de signos arbitrários com relação ao
objeto que representam e, por isso mesmo, convencionais e dependentes da
aceitação social. Tomando como exemplo a palavra "livro", percebemos
que não há nada no objeto entendido como livro que me leve a pronunciar essa
palavra. Assim, nosso ato de designar um determinado objeto por um nome (livro)
é arbitrário e, para sermos compreendidos, devemos estar amparados por uma
convenção, aceita pela comunidade dos falantes de língua portuguesa, que
garanta a ligação entre o som "livro" (ou sua forma escrita) e o
objeto representado.
O nome, ou a palavra, é
o símbolo dos objetos que existem no mundo natural e das entidades abstratas
que só existem no nosso pensamento e imaginação. Fixa na nossa memória,
enquanto ideia, aquilo que já não está ao alcance dos nossos sentidos, criando
um mundo estável de representações que nos permitem falar do passado e fazer
projetos para o futuro.
A palavra, portanto,
transcende, vai além da situação concreta, do vivido. A palavra já é uma
abstração e com ela elaboramos conceitos e emitimos julgamentos.
É bom frisar, no
entanto, que as linguagens não-verbais também nos permitem pensar, pois são
articuláveis em signos. O tipo de pensamento, porém, é diferente, uma vez que
essas linguagens não operam por conceitos nem emitem juízos.
Fonte:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Temas
de Filosofia. São Paulo, Moderna, 2000 (edição digital).
0 Response to "Conhecimento, pensamento e linguagem"
Postar um comentário