"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Sêneca e a Felicidade (parte 02/03)

Deusa Fortuna

Para entender melhor o que nos diz Sêneca é bom esclarecer o que seja fortuna e versatilidade. Fortuna é uma divindade romana responsável pela sorte, pelo acaso e pelo imprevisto. Os gregos a chamavam de Tique. Para a filosofia adota-se o termo acaso. O acaso é para os estóicos um erro ou ilusão, pois entendiam que tudo acontecia no mundo por necessidade racional. Portanto, para os estóicos em tudo o que acontece há uma razão, pois nada é visto como acaso. Já para Aristóteles, a fortuna é uma causa superior e divina, desconhecida, ignorada pela inteligência humana.
Observe que entre nós é comum o entendimento da fortuna como sinônimo de sorte. É bom destacar que para Aristóteles e Sêneca o conceito de fortuna e acaso são distintos e claro que também para os demais filósofos, sobretudo os modernos e contemporâneos.
O outro conceito que precisamos esclarecer é o de versatilidade. Observe que no texto de Sêneca possui um caráter negativo, ao passo que para nós a versatilidade é algo positivo. Cada vez mais se defende a necessidade de sermos versáteis. No caso do texto de Sêneca podemos substituir o termo versátil por volúvel e assim nos aproximarmos mais da idéia que Sêneca quer nos passar.
Você pôde observar que a recomendação chave de Sêneca está em “ceder de boa vontade a pressão das circunstâncias e não temer mudar”. É interessante que Sêneca pressupõe a tranqüilidade diante do mundo que nos cerca. É preciso para isso nem cair em obstinação, nem em leviandade.
É preciso lembrar que o momento histórico em que viveu Sêneca foi um momento de ruína do Império Romano. O Império Romano estava em decadência e cada dia mais isso era perceptível aos olhos daqueles que viviam aquele momento, sobretudo os pensadores da época. É nesse contexto de ruína, decadência, que a proposição de Sêneca, uma ética individualista, ou seja, centrada no indivíduo pode ser entendida e explicada.
O que é comum ocorrer com as pessoas em momentos de crises profundas? É a dúvida em relação ao que fazer para sobreviver a ela. E diante de tal dúvida é comum o isolamento e a falta de um ponto de referência que seja claro e que garanta tranqüilidade. É comum também as pessoas se angustiarem e passarem a ser atacadas de sentimentos de medo e insegurança. Então o que Sêneca está procurando oferecer aos seus contemporâneos nada mais é que uma forma de encararem a realidade que os cerca, ou seja, a decadência que ameaça o mundo em que habitam e diante da qual não possuem mais nenhuma certeza.
Os séculos I e II da Era Cristã marcam o momento da consolidação e apogeu do Império Romano. É o momento da Pax Romana, ou seja, quando a expansão está encerrada e detêm-se todos os esforços pela manutenção das fronteiras.
É bom lembrar que no momento de expansão Roma invadiu e dominou territórios e povos. E agora lhes cobra lealdade e defesa de ataques por estas fronteiras em que vivem em troca da paz com os romanos.
Porém, ao mesmo tempo em que é o auge do Império Romano é o momento em que se vive crises intensas em função da vivência de novos valores em virtude da riqueza e das facilidades que são próprias de momentos de apogeu.É diferente de Aristóteles, pois no momento histórico em que viveu Aristóteles, era um tempo de confiança, de crescimento e avanço da democracia ateniense, que neste momento exigia novas discussões e reelaboração de idéias e princípios referentes a vida na pólis.

2 Response to "Sêneca e a Felicidade (parte 02/03)"

  1. Anônimo Says:
    20 de abril de 2011 às 10:47

    pavoroooooo adorei vou avisar a sala toda deste site
    arrasaram!!!!!!

  2. Anônimo Says:
    7 de junho de 2012 às 19:22

    Adorei, obrigado