Pensar a Ciência (parte 04/05)
É comum atualmente ouvirmos falar em avanço, ou progresso da ciência. Este fato está relacionado com algumas descobertas e inovações tecnológicas que sugerem ao inconsciente do senso comum que a ciência está evoluindo. Por outro lado, a despeito de situações como a poluição, efeito estufa, bomba de hidrogênio e o acesso aos remédios e as inovações tecnológicas também é comum notarmos a desilusão das pessoas com a ciência.
São múltiplos os aspectos a serem relacionados para se entender a dimensão do processo de produção e desenvolvimento do conhecimento científico. Entre outros podemos citar o financiamento da pesquisa científica; parte definida pelas políticas públicas, parte pela iniciativa privada olvidando o lucro e a produção de produtos para consumo; a formação da comunidade científica; a coleta empírica de dados e suas possíveis interpretações, juntamente com a elaboração de teorias.
Contudo, muitos dos epistemólogos e filósofos da ciência concordam quanto ao processo de produção do conhecimento científico não ser linear, ou seja, não há uma continuidade na linha ascensional, cumulativa, obtida por meio de um método científico. Neste viés, antiempirista, os filósofos da ciência Thomas Kuhn, Karl Popper, Imre Lakatos, Pul Feyrabend e Gaston Bachelard negam que a primordialidade do objeto do conhecimento tal qual ele é entendido pelo empirismo e também a supremacia do sujeito cognoscente sobre o objeto como quer o idealismo.
Eles concordam que o processo de produção do conhecimento científico é forjado pela interação não neutra entre sujeito e objeto. Estes autores inauguram uma concepção de conhecimento em que ele é entendido como uma pseudoverdade histórica, circunstanciada e não como uma verdade em correspondência com os fatos. O que desmistifica o conceito de ciência pronta, acabada, ou imutável.
Desta forma, a filosofia da ciência vem desmentindo a idéia de progresso ou evolução científica com base nos estudos sobre as transformações científicas, na sobreposição de paradigmas, nas rupturas epistemológicas e na descontinuidade dos processos de produção do conhecimento e da tecnologia. Portanto, quando um novo fato aparece no cenário científico provocando inovações e transformações teóricas e práticas, o intuito principal não é a lapidação e o melhoramento de uma teoria, mas sim sua substituição por outra mais adaptada aos interesses vigentes.
Além disso, quando falamos em progresso científico, este conceito está impregnado com o espírito positivista que acreditava no avanço da ciência para a melhoria da vida humana e das condições de existência no planeta. A influência desse pensamento pode ser notada na bandeira brasileira (ordem e progresso).
Contudo, é possível se falar em progresso científico? Estamos melhores que os antigos, com sua ciência clássica? Levando em consideração a poluição produzida pelas grandes indústrias, as patentes sobre a produção de medicamentos além de outros fatores, a ciência tem cumprido seu papel na melhoria da vida humana?
12 de abril de 2011 às 16:36
muito interessante o texto sobre ciência. Me ajudou no relatório de PPPIV do curso de biologia. Abraços.