Sêneca e a Felicidade (parte 03/03)
Estátua de Sêneca em Córdoba
Para entender um pouco o momento histórico de Aristóteles, vamos retornar um pouco no tempo, até Sócrates (470-399 a.C.), que é a época denominada o “Século de Ouro de Atenas”, período do governo de Péricles (461-429 a.C.), e quando a democracia ateniense atingiu a sua plenitude pelo fato de estabelecer alguns princípios que passaram a reger a vida de todos os habitantes da cidade de Atenas.
Os princípios estabelecidos foram a Isonomia – que é a igualdade de todos perante a lei; a Isegoria – que é a igualdade de direito ao acesso à palavra na assembléia e o de Isocracia – que é a igualdade de participação no poder.
Ora, todas essas mudanças estão ocorrendo em Atenas e sendo formuladas, discutidas e analisadas pelos filósofos que vivem em Atenas naquele momento. É por isso que a questão da pólis é tão importante para a obra de Aristóteles, aliás, já desde Sócrates a discussão passa a focar o homem e a busca do como viver na pólis.
Aristóteles vive justamente o momento de conflito de projetos políticos entre as cidades gregas, que buscam liderar as demais. Há uma disputa bastante acirrada entre Atenas e Esparta. Pode-se afirmar que os filósofos, entre eles Aristóteles, percebem que é preciso que as cidades gregas sejam unidas por um projeto político e que as disputas sejam pacíficas, pois o risco que correm é o de divisão e, portanto, o enfraquecimento diante dos impérios vizinhos que estão em expansão, mas que não querem enfrentar uma Grécia unida.
No entanto, o que ocorreu foi, já na época de Aristóteles, as disputas entre Esparta e Atenas resultaram no enfraquecimento e derrota dos gregos frente aos macedônios, em 338 a.C., na batalha de Quironéia.
Ao lermos as obras de Aristóteles é bom que tenhamos em mente as disputas existentes e as lutas internas da própria sociedade ateniense, para que possamos entender o que o filósofo discute e apresenta como necessário aos homens de seu tempo na busca da felicidade.
É claro que para atingir o estado de espírito que Sêneca pressupõe o uso da razão é fundamental, ou seja, o sábio é quem irá conseguir. E assim como Aristóteles, pressupõe a racionalidade por ser da própria natureza do homem.
Quando lhe foi anunciado o naufrágio no qual tudo o que possuía foi tragado pelo mar, nosso Zenão disse: “A fortuna quer que eu filosofe mais desembaraçadamente”. Um tirano ameaçava o filósofo Teodoro de mandar matá-lo e mesmo privá-lo da sepultura: “Tu podes”, disse-lhe este, “dar-te este prazer: existem aí 2,7 decilitros de sangue, sobre os quais tens todo os direitos; quanto à sepultura, és estranhamente ingênuo, se crês que me aflijo por apodrecer sobre ou debaixo da terra”. (SÊNECA, 1973, p. 71)
Os exemplos demonstram pessoas que conseguiram chegar a um estágio de controle de suas paixões e emoções de tal forma que assim conseguem superar as dificuldades com mais facilidade. Não se pode ignorar que esta capacidade esteja ligada a dimensão racional humana, uma vez que graças a mesma somos capazes de perceber o que nos ameaça.
Afirmamos que diferente de Aristóteles, Sêneca entende o homem em relação à natureza e não à pólis. Por isso, é interessante destacar que não está ausente também aqui o outro, pois somos seres racionais e sociais.
Sêneca alerta:
Mas não adianta nada ter eliminado as causas da tristeza pessoal, pois algumas vezes acontece que um desgosto pelo gênero humano se apossa de nós, quando percebemos quão grande é a quantidade de crimes felizes; quando refletimos até que ponto é rara a retidão e desconhecidas a inocência e a sinceridade, desde que ela não convenha... (SÊNECA, 1973, p. 73-74)
Além do “desgosto pelo gênero humano”, que segundo Sêneca deve ser superado, para que nosso espírito não “mergulhe em noite escura”, Sêneca alerta para mais um motivo que pode afligir espírito.
Vem em seguida uma consideração que muitas vezes, e não sem motivo, entristece nosso espírito e o mergulha na maior inquietude: quando vemos pessoas de bem acabarem mal – Sócrates constrangido a morrer prisioneiro; Rutílio a viver no exílio; Pompeu e Cícero a se entregarem aos seus clientes; e Catão, este Catão, enfim, viva imagem da virtude, reduzido a testemunhar publicamente, atirando-se contra sua espada, que a República perecia ao mesmo tempo que ele. Como não se afligir com a idéia de que a fortuna paga tão injustamente os méritos dos homens? E que esperar para si mesmo, quando os melhores dentre eles são os mais maltratados? (SÊNECA, 1973, p. 73-74)
Alguns exemplos da contemporaneidade, do sentimento de que nos fala Sêneca em relação às pessoas de bem que acabam mal: Martin Luther King, militante negro assassinado; Che Guevara, guerrilheiro argentino, também assassinado; Nelson Mandela, líder negro na luta contra o Apartheid na África do Sul e que, em função disso, ficou vários anos preso; Francisco Alves Mendes Filho, Chico Mendes, líder seringueiro, sindicalista e ativista ambiental, assassinado no Acre, no dia 22 de dezembro de 1988.
Você pode com seus colegas elencar mais alguns que estejam bem mais próximos de você.
Os princípios estabelecidos foram a Isonomia – que é a igualdade de todos perante a lei; a Isegoria – que é a igualdade de direito ao acesso à palavra na assembléia e o de Isocracia – que é a igualdade de participação no poder.
Ora, todas essas mudanças estão ocorrendo em Atenas e sendo formuladas, discutidas e analisadas pelos filósofos que vivem em Atenas naquele momento. É por isso que a questão da pólis é tão importante para a obra de Aristóteles, aliás, já desde Sócrates a discussão passa a focar o homem e a busca do como viver na pólis.
Aristóteles vive justamente o momento de conflito de projetos políticos entre as cidades gregas, que buscam liderar as demais. Há uma disputa bastante acirrada entre Atenas e Esparta. Pode-se afirmar que os filósofos, entre eles Aristóteles, percebem que é preciso que as cidades gregas sejam unidas por um projeto político e que as disputas sejam pacíficas, pois o risco que correm é o de divisão e, portanto, o enfraquecimento diante dos impérios vizinhos que estão em expansão, mas que não querem enfrentar uma Grécia unida.
No entanto, o que ocorreu foi, já na época de Aristóteles, as disputas entre Esparta e Atenas resultaram no enfraquecimento e derrota dos gregos frente aos macedônios, em 338 a.C., na batalha de Quironéia.
Ao lermos as obras de Aristóteles é bom que tenhamos em mente as disputas existentes e as lutas internas da própria sociedade ateniense, para que possamos entender o que o filósofo discute e apresenta como necessário aos homens de seu tempo na busca da felicidade.
É claro que para atingir o estado de espírito que Sêneca pressupõe o uso da razão é fundamental, ou seja, o sábio é quem irá conseguir. E assim como Aristóteles, pressupõe a racionalidade por ser da própria natureza do homem.
Quando lhe foi anunciado o naufrágio no qual tudo o que possuía foi tragado pelo mar, nosso Zenão disse: “A fortuna quer que eu filosofe mais desembaraçadamente”. Um tirano ameaçava o filósofo Teodoro de mandar matá-lo e mesmo privá-lo da sepultura: “Tu podes”, disse-lhe este, “dar-te este prazer: existem aí 2,7 decilitros de sangue, sobre os quais tens todo os direitos; quanto à sepultura, és estranhamente ingênuo, se crês que me aflijo por apodrecer sobre ou debaixo da terra”. (SÊNECA, 1973, p. 71)
Os exemplos demonstram pessoas que conseguiram chegar a um estágio de controle de suas paixões e emoções de tal forma que assim conseguem superar as dificuldades com mais facilidade. Não se pode ignorar que esta capacidade esteja ligada a dimensão racional humana, uma vez que graças a mesma somos capazes de perceber o que nos ameaça.
Afirmamos que diferente de Aristóteles, Sêneca entende o homem em relação à natureza e não à pólis. Por isso, é interessante destacar que não está ausente também aqui o outro, pois somos seres racionais e sociais.
Sêneca alerta:
Mas não adianta nada ter eliminado as causas da tristeza pessoal, pois algumas vezes acontece que um desgosto pelo gênero humano se apossa de nós, quando percebemos quão grande é a quantidade de crimes felizes; quando refletimos até que ponto é rara a retidão e desconhecidas a inocência e a sinceridade, desde que ela não convenha... (SÊNECA, 1973, p. 73-74)
Além do “desgosto pelo gênero humano”, que segundo Sêneca deve ser superado, para que nosso espírito não “mergulhe em noite escura”, Sêneca alerta para mais um motivo que pode afligir espírito.
Vem em seguida uma consideração que muitas vezes, e não sem motivo, entristece nosso espírito e o mergulha na maior inquietude: quando vemos pessoas de bem acabarem mal – Sócrates constrangido a morrer prisioneiro; Rutílio a viver no exílio; Pompeu e Cícero a se entregarem aos seus clientes; e Catão, este Catão, enfim, viva imagem da virtude, reduzido a testemunhar publicamente, atirando-se contra sua espada, que a República perecia ao mesmo tempo que ele. Como não se afligir com a idéia de que a fortuna paga tão injustamente os méritos dos homens? E que esperar para si mesmo, quando os melhores dentre eles são os mais maltratados? (SÊNECA, 1973, p. 73-74)
Alguns exemplos da contemporaneidade, do sentimento de que nos fala Sêneca em relação às pessoas de bem que acabam mal: Martin Luther King, militante negro assassinado; Che Guevara, guerrilheiro argentino, também assassinado; Nelson Mandela, líder negro na luta contra o Apartheid na África do Sul e que, em função disso, ficou vários anos preso; Francisco Alves Mendes Filho, Chico Mendes, líder seringueiro, sindicalista e ativista ambiental, assassinado no Acre, no dia 22 de dezembro de 1988.
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