"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Renascimento (Parte 04/08)


O NOVO MÉTODO CIENTÍFICO - (Páginas 220-222)

— Foi a época em que surgiram as primeiras fábricas?
— Não, ainda não. Estamos falando aqui das premissas para toda uma evolução tecnológica, que começou depois do Renascimento. Refiro-me, portanto, a um novo posicionamento do homem em relação à essência da ciência. Os frutos tecnológicos desse novo método só começaram a surgir depois.
— Como era este novo método?

— Tratava-se sobretudo de investigar a natureza por meio dos próprios sentidos. Já em inícios do século XIV mais e mais vozes advertiam contra a crença cega nas antigas autoridades. Por “antigas autoridades” entendiam-se tanto os princípios cristãos quanto a filosofia natural aristotélica. Também se contestava a convicção de que um problema só podia ser resolvido pela mera reflexão. Uma confiança exagerada na importância da razão havia imperado durante toda a Idade Média. O princípio vigente agora era o de que a investigação da natureza devia se construir fundamentalmente na observação, na experiência e nos experimentos. Chamamos este método de método empírico.
— O que isto significa?
— Significa pura e simplesmente que nosso conhecimento das coisas tem sua origem em nossas próprias experiências, e não em pergaminhos empoeirados ou em quimeras. Também na Antigüidade se praticou a ciência empírica. Foi assim que Aristóteles, por exemplo, realizou muitas observações importantes da natureza. Contudo, a novidade trazida pelo Renascimento eram os experimentos sistemáticos.
— Suponho que eles não tivessem todos os aparelhos técnicos que temos hoje.
— É claro que eles não tinham calculadoras ou balanças eletrônicas. Mas tinham a matemática, e tinham também as balanças. Passou-se a enfatizar a importância de as observações científicas serem expressas numa linguagem matemática precisa. É necessário medir o que é mensurável e tornar mensurável aquilo que não o é, dizia Galileu Galilei, um dos mais importantes cientistas do século XVII. Ele também dizia que o livro da natureza estava escrito na linguagem da matemática.
— Foi assim que os experimentos e as medições abriram caminho para as novas descobertas, não foi?
— A primeira fase foi a do estabelecimento de um novo método científico. Este método possibilitou uma revolução tecnológica. Esta revolução tecnológica, por sua vez, possibilitou novas invenções, que continuam a ser feitas desde então. Podemos dizer sem exagero que no Renascimento a humanidade começou a se libertar das condições que lhe eram impostas pela natureza. O homem deixou de ser apenas uma parte da natureza. A natureza passou a ser algo que se podia usar e explorar. “Saber é poder”, dizia o filósofo inglês Francis Bacon, sublinhando com isto a aplicação prática do conhecimento. E isto era uma coisa nova. A humanidade passou a intervir na natureza e a querer controlá-la.
— Mas isto não foi uma coisa positiva?
— Sim e não. Vamos retomar aqui os fios do bem e do mal que se entrelaçam em tudo o que o homem faz. A ruptura tecnológica iniciada no Renascimento levou aos teares e ao desemprego, aos remédios e a novas doenças, à eficiência controlada da agricultura e à exploração da natureza, a novos utensílios como máquinas de lavar e geladeiras, e também à poluição ambiental e às montanhas de lixo. O fato de assistirmos hoje à terrível degradação de nosso meio ambiente levou muitos a ver a ruptura tecnológica como um perigoso desvio das condições de vida que nos são dadas pela natureza. Para estas pessoas, o homem colocou em marcha um processo que não pode mais controlar. Outros, mais otimistas, acreditam que ainda nos encontramos na “infância” da tecnologia. A civilização tecnológica, acreditam eles, também tem suas “doenças de infância”; mas no fim os homens vão aprender a controlar a natureza, sem com isto ameaçá-la em seus pontos vitais.
— E qual é a sua opinião a respeito disso?
— A de que talvez ambos os pontos de vista tenham um pouco de razão. Em alguns campos os homens não podem mais intervir na natureza. Em outros, podemos fazê-lo sem medo. De qualquer forma, uma coisa é certa: não há caminhos que nos levem de volta à Idade Média. Desde o Renascimento, o homem deixou de ser apenas uma parte da criação. O próprio homem intervém na natureza da forma como entende que deve. E isto nos mostra o quanto ele é uma criatura surpreendente.

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