"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Renascimento (Parte 06/08)

Galileu professando sua fé

A NOVA VISÃO DE MUNDO (Continuação)

— Desde a Antigüidade, um dos mais importantes argumentos contra o fato de o mundo girar em torno de seu próprio eixo era o de que, se isto fosse verdade, a Terra teria de se movimentar tão rapidamente que uma pedra atirada para cima, em linha reta, cairia no chão a muitos metros do ponto em que tinha sido atirada.
— E por que isto não ocorre?
— Se você está sentada dentro de um trem e deixa cair sua maçã, ela não vai cair atrás de você só porque o trem está se movimentando. Ela cai bem perto de você, provavelmente a seus pés. E isto por causa da lei da inércia. A maçã mantém a mesma velocidade que tinha antes de você deixá-la cair.

— Acho que entendo.
— Só que na época de Galileu não havia trens. Contudo, se você vai rolando uma pequena esfera no chão e de repente a solta…
— …ela continua a rolar…
— …porque a velocidade é mantida, mesmo depois de você ter soltado a esfera.
— Só que no fim ela acaba parando, se o lugar em que você estiver for grande o suficiente.
— Isto se explica pela ação de outras forças, que freiam a velocidade. Primeiro o solo, sobretudo se ele for de madeira rústica. Mas também a força da gravidade acaba parando a esfera mais cedo ou mais tarde. Espere um pouco, vou lhe mostrar uma coisa.
Alberto Knox levantou-se e foi até a antiga escrivaninha. Tirou alguma coisa de uma gaveta e a colocou sobre a mesa de canto do sofá. Era uma espécie de prancha de madeira, com alguns milímetros de espessura numa ponta e bem fininha na outra. Ao lado da prancha de madeira, que cobriu quase toda a mesinha, Alberto colocou uma bola de gude.
— Isto aqui se chama “plano inclinado” — disse. — O que você acha que vai acontecer se eu largar a bolinha de gude deste lado mais grosso?
Sofia suspirou.
— Aposto dez coroas como ela vai rolar pela mesinha e depois vai cair no chão.
— Veremos.
Alberto soltou a bolinha e ela se comportou exatamente como Sofia havia previsto: rolou sobre a mesa, passou voando pela borda, fez um ruído ao encontrar o chão e foi parar na soleira da porta.
— Impressionante — disse Sofia.
— Não é mesmo? Era este o tipo de experimento que Galileu fazia, entende?
— Ele era assim tão tolo?
— Calma, calma. Ele queria analisar tudo com seus próprios sentidos, e nós estamos apenas no começo do experimento. Diga-me primeiro por que a bola de gude rola pelo plano inclinado.
— Ela começa a rolar porque é pesada.
— Certo, mas o que é o peso?
— Agora você está me fazendo umas perguntas realmente estúpidas.
— Não são perguntas estúpidas, se você não consegue responder. Por que a bolinha rola para o chão?
— Por causa da gravidade.
— Exatamente, ou por força da gravitação, conforme também costumamos dizer. O peso, portanto, tem algo a ver com a gravidade. E esta força colocou a bolinha em movimento.
Alberto já tinha apanhado a bolinha do chão. Segurando-a, debruçou-se sobre o plano inclinado.
— Agora vou tentar rolar a bolinha de modo a fazê-la atravessar o plano inclinado no sentido da largura. Veja bem como ela se comporta.
Ele se curvou e fez pontaria. Depois empurrou a bolinha como tinha explicado antes. Sofia observou que a bolinha fez uma curva e novamente desceu pelo plano inclinado.
— O que aconteceu agora? — perguntou Alberto?
— Ela rolou de viés porque estava sobre o plano inclinado.
— Agora vou passar um pouco de nanquim nela… e então talvez possamos ver melhor o que você quis dizer com este “rolou de viés”.
Ele pegou um tinteiro e pintou a bolinha de preto. Depois a soltou novamente sobre o plano inclinado. Sofia pôde ver exatamente a trajetória da bolinha sobre o plano inclinado, pois ela deixou um rastro de tinta.
— Como você descreveria o movimento desta bolinha de gude? — perguntou Alberto.
— Como um arco… aliás, o desenho se parece com a parte de um círculo.
— Exatamente!
Alberto olhou para ela e ergueu as sobrancelhas.
— Se bem que não se trata exatamente de um círculo. Esta curva se chama parábola.
— Por mim, tudo bem…
— Mas por que a bolinha de gude se movimenta exatamente assim?
Sofia pensou bem até responder:
— Ela é atraída para o chão pela gravidade, porque a prancha de madeira possui uma inclinação.
— Certo! Ora, ora, vejam só: convido uma garota para vir até o meu sótão e depois de apenas uma experiência ela já chega às mesmas conclusões de Galileu.

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