"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Renascimento (Parte 08/08)

Folha de rosto da primeira edição da Palavra de Deus,
traduzida por Martinho Lutero em 1534. Sola Scriptura!


A NOVA VISÃO DE DEUS - (Páginas 231-232.)

— O Renascimento também trouxe consigo uma nova visão de Deus. Quando a filosofia e a ciência se separaram da teologia, começou a surgir paulatinamente uma nova forma de devoção, uma nova religiosidade cristã. Então veio o Renascimento com sua nova visão do homem. E isto também foi importante para a prática religiosa. Mais importante do que a relação da Igreja enquanto instituição era a relação pessoal de cada um para com Deus.
— Por exemplo, a oração pessoal feita à noite, antes de dormir?
— Sim, isto também. Na Igreja católica da Idade Média, a liturgia latina e suas orações rituais haviam sido a verdadeira espinha dorsal do serviço religioso. Somente padres e monges liam a Bíblia, pois ela só existia em latim. Contudo, durante o Renascimento, a Bíblia foi traduzida do aramaico e do grego para as línguas nacionais. E isto foi importante para a chamada Reforma…
— Martinho Lutero…
— Sim, Lutero foi muito importante, mas ele não foi o único reformador. Houve também reformadores da Igreja que, não obstante, queriam continuar atuando dentro da Igreja católica romana. Um deles foi Erasmo de Roterdã.
— Lutero rompeu com a Igreja porque não queria pagar indulgências?
— Isso também, mas se tratava de algo muito mais importante. Para Lutero, o homem não precisava tomar o atalho da Igreja ou de seus sacerdotes para conseguir o perdão de Deus. Muito menos o perdão de Deus dependia de uma soma paga à Igreja em troca de indulgência. O chamado “comércio da indulgência” foi proibido em meados do século XVI até mesmo dentro da Igreja católica.
— Uma coisa que, na certa, agradou muito a Deus.
— Lutero afastou-se dos muitos usos e princípios de fé religiosa que a Igreja desenvolvera durante a Idade Média. Ele queria voltar às origens do cristianismo, tal como lemos no Novo Testamento. “Somente as Escrituras”, dizia ele. Com esta palavra de ordem, Lutero pretendia “voltar às fontes” do cristianismo, assim como os humanistas do Renascimento queriam voltar às fontes da arte e da cultura da Antigüidade. Ele traduziu a Bíblia para o alemão, criando com isto as bases para a língua padrão alemã escrita. Cada um deveria ter acesso à leitura da Bíblia, a fim de poder ser o pastor de si mesmo, por assim dizer.
— Pastor de si mesmo? Isto não era ir longe demais?
— Lutero achava que os padres de forma alguma desfrutavam de uma relação mais privilegiada com Deus. Por motivos práticos, as comunidades luteranas empregavam padres que conduziam o serviço religioso e realizavam as tarefas cotidianas da Igreja. Mas Lutero dizia que o homem não obtinha o perdão de Deus e a libertação de seus pecados por meio dos rituais da Igreja. Para ele, a redenção era concedida ao homem de forma “inteiramente grátis”, através unicamente da fé. E ele chegara a isto com as leituras da Bíblia.
— Quer dizer que Lutero foi um típico homem do Renascimento?
— Sim e não. Um traço típico do Renascimento era a importância que ele dava ao indivíduo e à sua relação pessoal com Deus. Aos trinta e cinco anos, Lutero aprendeu grego e se lançou à exaustiva tarefa de traduzir a Bíblia para o alemão. O fato de a língua nacional substituir o latim também foi uma característica típica do Renascimento. Mas Lutero não foi um humanista como Ficino ou como Leonardo da Vinci. Alguns humanistas, como Erasmo de Roterdã, criticaram-no por sua visão demasiado negativa do homem. É que Lutero afirmava que, depois do pecado original, a humanidade estava totalmente aniquilada. Só por meio da graça de Deus é que o homem “se justificava”, dizia ele. Pois o pagamento pelos pecados é a morte.
— Isto soa um tanto triste mesmo.
— Alberto Knox levantou-se. Pegou da mesinha a bola de gude verde e preta e colocou-a no bolso da jaqueta.
— Já são mais de quatro horas! — exclamou Sofia.
— E a próxima grande época da história da humanidade é o Barroco. Mas isto nós vamos deixar para amanhã (…).

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