Kant (Parte 05/08)
— Nas grandes questões que concernem à realidade como um
todo, dois pontos de vista exatamente opostos parecerão sempre igualmente
prováveis e igualmente improváveis.
— Exemplos, por favor.
— Faz tanto sentido dizer que o mundo teve um começo no
tempo, quanto dizer que não houve começo algum. A razão não é capaz de decidir
sobre as duas possibilidades, pois não é capaz de “abarcar” nenhuma delas.
Podemos afirmar que o mundo sempre existiu, mas será que alguma coisa pode ter sempre existido sem nunca ter
tido um começo? E se adotamos o ponto de vista oposto e dizemos que o mundo
teve de começar em algum momento, isto significa que ele teve de surgir do
nada, senão estaríamos falando apenas da passagem de um estado para outro. E,
nesse caso, pode alguma coisa surgir
do nada, Sofia?
— Não, as duas possibilidades são igualmente
inconcebíveis. E, apesar disso, uma deve estar certa e a outra errada.
— Você ainda se lembra de que Demócrito e os
materialistas disseram que a natureza consiste em minúsculas unidades, a partir
das quais tudo se compõe. Outros, como Descartes por exemplo, acreditavam que a
realidade estendida podia ser dividida em partes cada vez menores. Qual dos
dois tinha razão?
— Ambos… e também nenhum dos dois.
— Continuando, muitos filósofos disseram que a liberdade
do homem era uma de suas principais características. Ao mesmo tempo,
encontramos filósofos, como os estóicos e Spinoza, por exemplo, para quem tudo
no mundo acontece necessariamente por força das leis da natureza. Também nesse
ponto Kant acha que a razão do homem não pode emitir um julgamento seguro.
— Ambos os pontos de vista são igualmente sensatos e
insensatos.
— E, por fim, também não podemos provar a existência de
Deus com nossa razão. Aqui, racionalistas como Descartes, por exemplo, tentaram
provar que deve haver um Deus, simplesmente porque temos em nós a idéia de um
ser perfeito. Outros, dentre eles Aristóteles e são Tomás de Aquino, defendiam
a opinião de que deveria haver um Deus, porque tudo precisa ter uma causa
impulsora.
— E o que achava Kant?
— Ele rejeitava ambas as provas da existência de Deus.
Nem a razão, nem a experiência são capazes de embasar com segurança a afirmação
de que Deus existe. Para a razão, é tanto provável quanto improvável que Deus
exista.
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