"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Kant (Parte 07/08)



— Entretanto, Kant formula o seu imperativo categórico de várias maneiras. Primeiro ele diz que devemos sempre agir de modo a podermos desejar que a regra a partir da qual agimos se transforme numa lei geral. Literalmente, Kant diz: “Age apenas segundo aquelas máximas através das quais possas, ao mesmo tempo, querer que elas se transformem numa lei geral”.
— Quando faço alguma coisa, preciso estar certa de que posso desejar que todos os outros façam a mesma coisa na mesma situação.
— Exatamente. Só assim você estará agindo em consonância com a lei moral interna. Kant formulou o imperativo categórico de modo a que nós tratemos as outras pessoas sempre como um fim em si mesmo, e não como um simples meio para se chegar a outra coisa.  

— Não devemos, portanto, “usar” as outras pessoas em proveito próprio.
— Não, pois todas as pessoas são um fim em si mesmas. Mas isto não vale apenas para os outros; vale também para nós. Da mesma forma, não devemos usar nós mesmos como meios para se chegar a outra coisa.
— Isso me lembra um pouco a “regra de ouro”: “não faças para os outros aquilo que não desejas para ti”.
— Sim, e esta é uma diretriz formal que compreende basicamente todas as possibilidades de escolhas éticas. Podemos dizer que esta regra de ouro expressa, de certa maneira, o que Kant chamou de lei moral.
— Mas tudo isto não passa de afirmações. Hume na certa tinha razão quando disse que não podemos provar com nossa razão o que é certo e o que é errado.
— Kant considerava a lei moral tão absoluta e universal quanto a lei da causalidade, por exemplo. Esta também não pode ser provada pela razão, e nem por isso deixa de ser inevitável. Ninguém contestaria isto.
— Começo a sentir que estamos falando mesmo é sobre a consciência. Todo mundo tem uma consciência, não tem?
— Sim, quando Kant descreve a lei moral, o que ele descreve é a consciência humana. Não podemos provar o que a consciência diz, mas sabemos o que ela diz.
— Às vezes sou muito simpática e dócil para com outras pessoas, simplesmente porque sei que aquilo será bom para mim. Dessa forma, posso ser querida dos outros, por exemplo.
— Mas se você é simpática e dócil para com os outros apenas para se tornar querida das pessoas, então você não está agindo de acordo com a lei moral. Talvez você esteja agindo apenas superficialmente de acordo com ela, o que já é alguma coisa, mas aquilo que se pode chamar de ação moral tem de ser o resultado do esforço em superar-se a si mesmo. Só quando você faz alguma coisa por considerar seu dever seguir a lei moral é que você pode falar de uma ação moral. Por isso é que a ética de Kant também é freqüentemente chamada de ética do dever.

0 Response to "Kant (Parte 07/08)"