Experiências de pensamento
Muitas vezes nos acontece de
passarmos horas matutando, cismando, querendo compreender alguma coisa que nos
escapa. Fazemos nossas atividades de todo dia, mas parecemos distraídos porque
nossa atenção está concentrada noutra parte, naquilo que estamos querendo
compreender e não conseguimos. Cansados, paramos de cismar e de dar atenção ao
assunto. De repente, com susto e alegria, quase gritamos: “Entendi!”. Sentimos
o mesmo que quando completamos um quebra-cabeça, todas as peças em seus devidos
lugares, a figura bem visível diante de nós. Tivemos uma experiência de
pensamento.
Outras vezes, assistindo a uma
aula, lendo um livro científico, fazendo um trabalho no laboratório, resolvendo
um problema no computador, vamos acompanhando passo a passo as idéias, os
encadeamentos dos raciocínios, as relações de causa e efeito entre certas
coisas, as conseqüências de uma afirmação e de uma negação e, finalmente, a
conclusão a que chegam a aula, o livro, o trabalho no laboratório ou no
computador. Ao término de cada uma dessas atividades temos consciência de que
aprendemos alguma coisa que não sabíamos e que fizemos um percurso para conhecê-la
e compreendê-la. Tivemos uma experiência de pensamento.
Em certas ocasiões, dialogando
com uma outra pessoa, a conversa vai fazendo surgir idéias nas quais eu nunca
havia pensado, ou vai fazendo com que eu perceba que algumas idéias, que
julgava claras e corretas, não são assim, são confusas e incorretas. Falando
com a outra pessoa, vou desenvolvendo idéias que eu nem sabia que tinha e que
foram despertadas em mim por alguma coisa que o outro me disse. Clarifico
algumas, corrijo outras, abandono outras tantas, descubro novas, tiro
conclusões ou me encho de perplexidade. Tive uma experiência de pensamento.
Quando pensamos, pomos em
movimento o que nos vem da percepção, da imaginação, da memória; apreendemos o
sentido das palavras; encadeamos e articulamos significações, algumas vindas de
nossa experiência sensível, outras de nosso raciocínio, outras formadas pelas
relações entre imagens, palavras, lembranças e idéias anteriores. O pensamento
apreende, compara, separa, analisa, reúne, ordena, sintetiza, conclui, reflete,
decifra, interpreta, interroga.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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