A metafísica aristotélica
Na Metafísica,
Aristóteles afirma que a Filosofia Primeira estuda os primeiros princípios e as
causas primeiras de todas as coisas e investiga “o Ser enquanto Ser”.
Ao definir a ontologia ou
metafísica como estudo do “Ser enquanto Ser”, Aristóteles está dizendo que a
Filosofia Primeira estuda as essências sem diferenciar essências físicas,
matemáticas, astronômicas, humanas, técnicas, etc., pois cabe às diferentes
ciências estudá-las enquanto diferentes entre si. À metafísica cabem três
estudos:
1. o do ser divino, a realidade
primeira e suprema da qual todo o restante procura aproximar-se, imitando sua
perfeição imutável. As coisas se transformam, diz Aristóteles, porque desejam
encontrar sua essência total e perfeita, imutável como a essência divina. É
pela mudança incessante que buscam imitar o que não muda nunca. Por isso, o ser
divino é o Primeiro Motor Imóvel do mundo, isto é, aquilo que, sem agir
diretamente sobre as coisas, ficando à distância delas, as atrai, é desejado
por elas. Tal desejo as faz mudar para, um dia, não mais mudar (esse desejo,
diz Aristóteles, explica por que há o devir e por que o devir é eterno, pois as
coisas naturais nunca poderão alcançar o que desejam, isto é, a perfeição
imutável).
Observamos, assim, que
Aristóteles, como Platão, também afirma que a Natureza ou o mundo físico ou
humano imitam a perfeição do imutável; porém, diferentemente de Platão, para
Aristóteles essa imitação não é uma cópia deformada, uma imagem ou sombra do
Ser verdadeiro, mas o modo de existir ou de ser das coisas naturais e humanas.
A mudança ou o devir são a
maneira pela qual a Natureza, ao seu modo, se aperfeiçoa e busca imitar a
perfeição do imutável divino. O ser divino chama-se Primeiro Motor porque é o
princípio que move toda a realidade, e chama-se Primeiro Motor Imóvel porque
não se move e não é movido por nenhum outro ente, pois, como já vimos, mover[i]
significa mudar, sofrer alterações qualitativas e quantitativas, nascer é
perecer, e o ser divino, perfeito, não muda nunca;
2. o dos primeiros princípios e
causas primeiras de todos os seres ou essências existentes;
3. o das propriedades ou
atributos gerais de todos os seres, sejam eles quais forem, graças aos quais
podemos determinar a essência particular de um ser particular existente. A
essência ou ousia é a realidade primeira e última de um ser, aquilo sem
o qual um ser não poderá existir ou sem o qual deixará de ser o que é. À
essência, entendida sob essa perspectiva universal, Aristóteles dá o nome de substância:
o substrato ou o suporte permanente de qualidades ou atributos necessários de
um ser. A metafísica estuda a substância em geral.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
[i]
Lembremos que o movimento, kinesis, é toda e qualquer alteração ou
mudança experimentada por um ser: mudança de qualidade e quantidade, mudança de
lugar; nascer e morrer. O Primeiro Motor (o divino) é Imóvel porque perfeito,
jamais submetido a qualquer tipo de movimento, sempre idêntico a si mesmo. Os
seres mudam (movem-se) para realizar todas as alterações e, um dia, deixarem de
mover-se.
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