"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Os primeiros brasileiros (Parte 02/06)


Os homens da Lagoa Santa

A arqueóloga Adriana Schmidt Dias, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, acredita que o primeiro brasileiro descende de uma das várias correntes migratórias vindas da Ásia, que ocorreram a partir de 15 mil anos atrás. A mais antiga dessas levas de humanos teria chegado ao Brasil há cerca de 12 mil anos e ficado conhecida como “Os Homens de Lagoa Santa”, nome dado em homenagem ao sítio arqueológico onde foram localizados – o mesmo pesquisado pelo dinamarquês Lund. Desse povo, faz parte o fóssil de uma brasileira descoberta em 1975, que viveu por aqui há cerca de 11,5 mil anos e foi batizada pelos cientistas de Luzia.
Luzia é a mais antiga brasileira descoberta até hoje. Ela era uma caçadora e coletora de vegetais, com traços bem distintos dos índios que Pero Vaz de Caminha descreveu em sua carta, em 1500. Em 1999, a Universidade de Manchester, na Inglaterra, reconstituiu o rosto de Luzia: ficaram óbvios os traços negróides, típicos de populações africanas e da Oceania. Luzia e seus amigos viviam em pequenos grupos e eram nômades, sempre procurando encontrar vegetais e animais de pequeno porte, como o porco-do-mato e a paca, que eles caçavam com a ajuda de lanças e flechas com pontas feitas de pedras lascadas. Não ficavam mais que duas semanas no mesmo lugar. Por isso, não costumavam enterrar seus mortos. O corpo de Luzia foi encontrado jogado no fundo de uma caverna.
Por volta de 6 mil anos atrás esse povo desapareceu. A explicação para isso é o surgimento de outro grupo de humanos, dessa vez, parecidos com os índios atuais. Eles chegaram em muito maior número e passaram a ocupar a região. “As populações se misturaram, mas com o tempo as características dos ‘Homens da Lagoa Santa’ submergiram”, diz Adriana.
Essa nova leva de viajantes chegou a ocupar toda a costa brasileira e o Planalto Central até 2 mil anos atrás. “Esses bandos chegavam a uma região, montavam acampamento, geralmente em grupos de 5 a 10 famílias em pequenas faixas de terra”, diz Adriana Schmidt. “Retiravam da região tudo o que podiam: vegetais, peixes e animais. Assim que esgotavam esses recursos e que os acampamentos apresentavam problemas sanitários, como o aparecimento de insetos em grandes quantidades, iam embora”, afirma a pesquisadora.

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